segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Luto e manchetes

Depois do lançamento de dois livros e de merecidas férias, volto ao blog, infelizmente com um tema muito triste, a morte de mais de 230 jovens em uma boate da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
A motivação para falar sobre o assunto veio depois de comentários lidos na Internet sobre a exploração sensacionalista do caso pela Imprensa. A charge de Carlos Latuff, publicada no Facebook, masi do que nos levar a uma crítica simplista, deve nos fazer refletir.
Trabalhar na cobertura de uma tragédia dessas é algo muito difícil. Não dá pra separar o emocional do profissional, embora manter o profissionalismo e se lembrar do seu papel junto à sociedade seja fundamental.
Temos todo o tipo de jornalismo no Brasil, do mais responsável ao mais sensacionalista e não pretendo, aqui ficar citando exemplos, nem tampouco ficar colocando o dedo nas feridas alheias. Quero apenas dividir minhas impressões com vocês.
Durante todo o dia de ontem os meios de comunicação estiveram em função da tragédia e cada um, de acordo com suas caraterísticas, teve que se virar.
A internet, desde cedo, trazia a notícia agourenta e buscava, através de pílulas informativas, atualizar o quadro que se mostrava cada vez mais trágico.
As rádio all news também se dedicaram quase quem tempo integral ao fato. Emissoras que geralmente transmitem jogos de futebol, como a Band News e a CBN, continuaram na cobertura do incêndio.
Nas TVs, até por sua visibilidade, a cobertura chamou mais atenção. A Globo foi a primeira a noticiar o fato, em plantão. As demias emissoras só entraram bem depois. 
Nas emissoras all news, a luta para manter uma cobertura contínua acabou, como na maioria dos casos, com deslizes provocados pelo excesso de tempo no ar e a limitação de informações sobre o fato. Busca-se opiniões distintas sobre os acontecimentos e muitas vezes o que acontece é um debate sobre achismos, sobre supostas versões, sobre fatos ainda não confirmados. Um anti-jornalismo.
O desafio é grande. Manter no ar uma programação em que informações vão sendo repetidas à exaustão, enquanto não surgem novos detalhes. Eu, particularmente, não consigo acompanhar esse tipo de cobertura durante muito tempo. Vai me dando uma agonia danada ver aquela enxurrada de imagens trágicas sendo repetidas sem parar.
A questão do incêndio ter acontecido em uma cidade do interior foi mais uma dificuldade para as grandes redes de TV. O começo da cobertura ficou a cargo de repórteres sem tanta experiência e envolvidos emocionalmente com a questão. À tarde começaram a chegar jornalistas mais experientes, como José Roberto Burnier, da Globo, e Eleonora Paschoal, da Band. Nada contra o pessoal do noticiário local, mas nessas horas, tempo de estrada faz uma grande diferença. No Domingo Espatacular da Record, a matéria de peso sobre o caso foi "amarrada" pela repórter Adriana Araújo, em São Paulo, que se ateve a descrever imagens e a entrevistar um sobrevivente pelo telefone. Repórter local, só em Porto Alegre. 
Nos jornais de hoje, por todo o Brasil, primeiras páginas estamparam a tragédia e muitos deles usaram fotos de parentes das vítimas em momentos de sofrimento. Acho que por isso mesmo surgiram as tantas críticas que citei no início deste post.



     Trata-se de uma questão muito delicada mesmo. As imagens são fortes e visam gerar indinação em relação ao fato, mas, ao mesmo tempo expõem, publicamente, a dor de famílias que deveriam se preservadas em um momento tão difícil.
A tentação de páginas mais chamativas acabou fazendo com que alguns jornais saíssem com manchetes praticamente iguais.







Como mostra O Diário de Santa Maria, jornal do local da tragédia, o fato em si já é forte o suficiente.


Criticar é mais fácil do que fazer, já diz o ditado, mas refletir sobre o que foi feito sempre é muito salutar.