sexta-feira, 27 de junho de 2014

UMA NOTÍCIA, VÁRIOS OLHARES

Muita gente andou acusando a mídia de ter potencializado a gravidade da mordida que o atacante Luis Suárez deu no jogador italiano Chiellini durante a fase de grupos da Copa do Mundo. Então, nada melhor do que a gente dar uma analisada nos jornais do dia seguinte ao anúncio da suspensão de 4 meses para o jogador uruguaio.Suárez já está em solo pátrio e lá foi recebido como herói injustiçado.
A capa dos jornais uruguaios têm, todas, um tom de velório e revolta. Só o La República buscou mexer com os brios da torcida:


        
   


Na Grã-Bretanha, a mídia do país, acusada de complô contra Suárez, se ateve a registrar o fato em manchetes bem mais comportadas do que nos últimos dias, mesmo nos tabloides sensacionalistas.



Na Itália, terra da vítima, também manchetes menos duras, talvez pelo fato do próprio Chiellini ter considerada dura demais a punição. Só o Corriere dello Sport continuou a chamar Suárez de canibal:


Nos países latinos que ainda disputam a Copa, tons diferenciados. Enquanto na Argentina, célebre rival uruguaia, os jornais pegaram leve (mesmo o irreverente Olé), em outros países como México, a agressividade das manchetes ainda chamou a atenção (Suárez é chamado de cachorro):




Aqui no Brasil, por ser a sede da Copa, quase todos os grandes jornais deram destaque à punição. A maioria, contudo, não emitiu juízo de valor nas manchetes. O LANCE optou pela gozação, já o Correio da Bahia reproduziu uma montagem que correu as redes sociais nos últimos dias e pegou pesado:   



 
Culpados ou não, o fato é que os jornais foram bem menos duros depois da punição anunciada. Talvez saciados em sua fome de justiça, talvez com certo sentimento de culpa. Mas como dizia aquela velha frase, "Jornal velho só serve para embrulhar peixe", e amanhã a Copa segue e outras notícias virão. Suárez passa, como outros passarão e, para nós, resta apenas a refletir sobre o caso.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

MORDIDAS E LÁGRIMAS (DE CROCODILO...)

O choro é livre!
Nas entrevistas que tenho visto de atletas, comissões técnicas e dirigentes durante esta Copa do Mundo, bom senso é um artigo em falta.
E com a severa punição ao atacante uruguaio Luis Suárez (4 meses de suspensão de qualquer atividade ligada ao futebol), a tendência é de que a grita seja ainda maior.

Comecemos, então, pelo capitão da Celeste, Lugano, convocado para enfrentar a mídia na coletiva do dia seguinte à mordida de Suárez no italiano Chiellini, se negou a admitir o fato (não sei se por desinformação ou desfaçatez) e ainda saiu dando botinadas em jornalistas e adversários.
Sobre o italiano agredido disse:

Si salió llorando y alcahueteando así del campo de un compañero de trabajo, como hombre no alcanza los puntos que tiene como jugador. Si lo dijo, es tremendo alcahuete, mala gente y llorón".

Deixo a declaração propositalmente em espanhol para que não haja dúvidas sobre a força das palavras. Em resumo, chamou Chiellini de dedo-duro, chorão e mau caráter.
 

Um jornalista inglês também levou um sopapo verbal do capitão. Lugano se recusou a responder à pergunta em inglês, embora jogue na Grã-Bretanha e quando o mesmo jornalista refez o questionamento em espanhol, partiu para uma saraivada de palavras agressivas:

Sei que a mídia britânica têm perseguição com o Suárez. Jogamos contra a Itália e vamos jogar contra a Colômbia. O que faz um jornalista inglês cobrindo nossa seleção?"

Não satisfeito, o antes equilibrado Lugano ainda soltou farpas que sugerem um suposto favorecimento ao Brasil, como no caso primeira partida contra a Croácia, quando Neymar, deliberadamente jogou o braço na cara de Modric e foi punido apenas com um cartão amarelo.

Não sei se vocês, jornalistas, querem fazer justiça ou tirar alguma vantagem. O lance do Brasil eu nunca mais ouvi falar, com o cara da Croácia. Parece que só querem apontar para um jogador e uma seleção" 


Em relação ao lance e ao pênalti mal marcado contra seu time, o treinador Croata, Niko Kovac, também pegou pesado:

"Não tem nada a ver com esse árbitro em especial, tem a ver com jogar aqui no Brasil, o Brasil ser o grande favorito para ser campeão. As regras valem para os dois lados. O slogan da Fifa é ‘respeito', então, que haja respeito para as duas equipes, se continuarmos assim, vamos ter um circo."

Em relação ao pênalti, a queixa é mais do que justificável, mas em relação ao lance do Neymar, nem tanto. Ele poderia ter sido expulso? Sim, poderia. O cartão vermelho seria dado mais pela intenção do que pelo resultado do lance. Mas, no calor da partida, o árbitro avaliar a intenção de um lance de jogo é realmente complicado.

Acho que nos dois casos, tanto no de Neymar quanto no de Fred, a mídia brasileira se saiu muito bem. Não partiu para patriotadas e mostrou, como não poderia deixar de ser, que realmente a atuação do juiz acabou nos sendo favorável. Mas daí a isso fazer parte de uma estratégia voltada a garantir o título para o país sede, fica difícil para alguém acreditar (a não ser, provavelmente, o Rodrigo Constantino, da Veja).

Infelizmente a postura do atacante/ator e da Comissão técnica não foi tão sensata. Entre não comentar o caso e defender com unhas e dente o indefensável, Fred e Felipão preferiram a segunda hipótese e deram uma tremenda bola fora.

Assim como o presidente da Federação Uruguaia que declarou que não havia provas de que Luis Suárez tivesse, realmente mordido o italiano.




Mas como dizia lá em cima, as desculpas para erros, maus desempenhos e eliminações têm sido jogadas aos ventos cálidos e tropicais para quem as queira ouvir e, quem sabe, aceitar.
O italiano Marchisio disse que o calor de Manaus lhe provocou alucinações.

Revoltado com o fato de que ter que trabalhar e ver seleções europeias jogarem nos trópicos, também se mostrou o jornalista Julián Ruiz, do jornal espanhol El Mundo


España, Inglaterra, Portugal etc. están ya fuera con sólo dos partidos. Es un ejemplo grotesco. Por ejemplo, casi gana Estados Unidos, con un liga de risa. Como la de Costa Rica, la de Irán , la de Ghana, la de tantos mindundis con selecciones que corren más, porque están menos cansados o están acostumbradas a estas situaciones meteorológicas. El caso de Portugal es típico de lo que le ocurrió a Alemania el otro día o el horror de Bélgica.”

Sou só eu , ou alguém sente na gritaria uma indignação "primeiromundista" contra o fato de ter que se submeter a outras condições de temperatura e pressão que não as suas? A revolta no discurso do tal periodista me parece ser traduzido da seguinte forma: “Como nós, verdadeiros e dignos representantes do futebol mundial podemos nos submeter a competir nessas condições. Eles que se adaptem a nós e não o contrário. Futebol que importa, só acima da Linha do Equador e, mesmo assim, com exceções”. Mentalidade de colonizador...

Outros esperneios virão por aí. Isso é típico no futebol, um esporte jogado e apitado por seres humanos e imprevisível como eles.

O “choro” do momento é em relação a Luis “Mordedor” Suárez.
Li, há pouco, enviado pela amiga Pamella Lima, um tweet do radialista uruguaio Orlando Peletinatti, no qual ele dizia, em tradução livre:

A FIFA acaba de determinar que Suarez matou J.F.Kenedy, derroubou as Torres Gêmeas e é o único culpadpo pelo Aquecimento Global”



Houve exagero da mídia? Foi ela a responsável pela duríssima punição? Ou a atitude reincidente do jogador uruguaio era, mesmo, indesculpável?



Lembro que o mesmo jogador havia sido endeusado pela imprensa esportiva dias atrás quando fizera os dois gols da vitória sobre a Inglaterra, após uma heroica recuperação de uma cirurgia no joelho.



É certo que a FIFA aproveitou o momento em que os holofotes estavam todos ligados em sua direção para defender o Fair Play com unhas e dentes.
Pena, no entanto, que tanto rigor ético não seja aplicado em outras questões relacionadas aos milionários interesses de Blatter e cia.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

CANELADA

Hoje eu preferia ser um sósia de mim mesmo, preferia ser um homônimo, não ser eu. Mas, enfim, fiz um erro tolo.

O bem-humorado mea-culpa do experiente jornalista Mário Sérgio Conti, tenta colocar um ponto final na maior bola fora midiática desta Copa, pelo menos até agora.


Colunista da Folha e de O Globo, Conti, que também apresenta o programa “Diálogos”, na GloboNews, escreveu um artigo no qual relatava uma “exclusiva” com Luís Felipe Scolari, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, durante um voo da Ponte Aérea entre Rio e São Paulo no qual também estaria Neymar.




O problema é que um “pequeno” detalhe estragou o que seria uma feliz oportunidade jornalística: o Felipão não era o Felipão, era, sim, um sósia. Seu nome, Wladimir Palomo. (O Neymar, presente, também era um sósia).




Ao constatarem a “Barriga” (ou seria melhor dizer a “canelada”?), Globo e Folha trataram de tirar o texto do ar. Só que, graças a alguns macetes da Internet, ontem, ainda consegui resgatá-lo na íntegra, abaixo:

SÃO PAULO - Neymar e Luiz Felipe Scolari foram os últimos passageiros a embarcar no avião, às 17h30 de ontem. Como o voo da ponte-aérea, do Rio para São Paulo, estava lotado, ambos se espremeram em poltronas entre passageiros, Felipão na 25E e Neymar na fileira da frente.
- Vê se dorme, moleque - disse o técnico ao jogador. Neymar desligou o celular, mas não dormiu, apesar de apenas um passageiro ter-lhe pedido um selfie durante o voo. Tampouco Felipão pregou o olho. Um tanto apreensivo com o céu carregado, ele respondeu de bom grado tudo que lhe foi perguntado.
- “Acho que, até agora, os melhores times foram a Holanda e a Alemanha - disse.
- Eles vão dar trabalho. A Itália também. Ela sempre chega às semifinais. É como o Brasil: tem tradição, empenho, torcida.
O zero a zero com o México não o abalou:
- Pode ter sido até positivo, na medida em que jogou um pouco de água fria no oba-oba, na ideia de que é fácil ganhar uma Copa.
Num campeonato de nível tão alto, ele acha imprevisível fazer prognósticos.
- Quem diria que a Espanha sairia da Copa logo de cara? - indagou.
O mesmo raciocínio ele aplica à seleção sob a sua responsabilidade.
- O Oscar fez uma excelente partida na estreia, mas não foi bem no segundo jogo - disse, mastigando um salgado de gosto insosso.
- O Neymar foi bem, mas não teve a genialidade da partida anterior. São coisas que acontecem. E quem esperaria que o goleiro mexicano defendesse todas? - indagou.
Felipão concordou com o raciocínio que Neymar parece mais centrado, não se joga tanto no chão ou faz demasiado teatro:
- É verdade, ele está mais objetivo. Mas pode melhorar ainda mais. Não dá para apressar muito esse processo: ele é muito moço, tem que aprender as coisas na prática.

ELOGIOS A NEYMAR

Mas não tem dúvidas:
- Se tivéssemos três como ele, a Copa seria uma tranquilidade.
O avião deu solavancos e o técnico comentou:
- Isso sim é que é um especialista, repare como o piloto conduz o avião com mão firme, fazendo mil coisas ao mesmo tempo.
O que seria mais difícil: pilotar um avião ou a seleção nacional?
- Não tem comparação, avião é muito mais difícil. O piloto lida com vidas humanas, é responsável por elas. Se a seleção perder, será muito triste para o Brasil, para os jogadores, a minha família e eu. Mas ninguém corre risco de morte.
Felipão se disse satisfeito com o ambiente geral da Copa. Não esperava que tantos mexicanos e chilenos viessem, nem que as torcidas se confraternizassem.
- Até os argentinos estão se dando bem com os brasileiros. Pelo menos até agora.

TÉCNICO APROVA AEROPORTOS

Felipão também disse que os estádios são bons e a organização dos jogos funciona.
- E te digo: tive dúvidas, mas os aeroportos onde estive até agora estão uma maravilha.
Contou que ninguém do governo o procurou, em momento algum. E ouviu com agrado o relato de meu encontro recente com um ministro, seu fã atilado.
- Pelo que ouço dizer, o governo está torcendo pela seleção, e a oposição nem tanto. Acho uma bobagem misturar futebol e política. Eu mantenho essa separação custe o que custar, não dou uma palavra sobre política.
Os xingamentos a Dilma no jogo de abertura, portanto, não lhe dizem respeito.
Perguntado se lia comentários de especialistas nos jornais, ou ouvia o que diziam na televisão, Scolari sorriu:
- Até papagaio fala.
Ao ouvir os nomes de alguns, ex-jogadores e ex-técnicos, repetiu, divertido:
- Papagaio fala!
Felipão terminou de tomar a caixinha de suco de laranja e se se explicou melhor:
- Os comentários são necessariamente frios, distantes. A experiência de jogar no Maracanã lotado, de cobrar um pênalti, de ouvir vaias, são coisas que mexem com o jogador, com o indivíduo. Não é questão de aplicar uma receita.
Para o treinador, as variáveis envolvidas numa partida são inúmeras, não é possível reduzí-las ou quantificá-las.
Deu como exemplo a seleção da Alemanha:
- Ela está na Bahia, no sol, entre mulatas lindas. Claro que isso os influencia.
Felipão riu de novo:
- Desconfio que alguns deles nem voltarão para a Alemanha.

ZAGA, O PRINCIPAL PROBLEMA

Se não acompanha os comentaristas da imprensa, ele está ciente de dificuldades táticas e de entrosamento na seleção.
- O principal problema é a zaga. Ela cai para o lado, quando deveria ir em frente, buscar o jogo lá na frente.
O que mais o irritou até agora foram os boatos, divulgados pela imprensa europeia, que o Brasil já ganhou a Copa, já que a Fifa teria orientado juízes a facilitarem a vida da seleção.
- Mais que um absurdo, é um desrespeito. Você imagina comprar a Itália, a Alemanha? Isso não existe.
O avião sobrevoava São Paulo, coberta por nuvens.
- É como descer a serra de Santos com um nevoeiro fechado, sem enxergar nada. Esse comandante sabe tudo.
Neymar e o técnico tinham participado da gravação do programa “Zorra Total”, no Projac, o estúdio da Globo em Jacarepaguá.
- Não gosto de passar muito tempo longe de São Paulo: veja que cidade interessante - apontou o treinador.
Felipão estava curioso em saber como seu filho se saíra numa prova naquele dia. Ele estuda Economia nas Faculdades São Judas Tadeu, e pegara uma recuperação.
- Mas o garoto vai bem, é estudioso.
Perguntei se toparia dar uma entrevista ao programa “Diálogos”, da GloboNews.
- Claro, vamos lá. Só que ando meio ocupado... - disse, rindo.
Pegou sua carteira, tirou um cartão de visitas e me entregou, afirmando:
- Mas isso pode te ajudar por enquanto.
O cartão de visitas dizia:
Vladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos”.
Depois das gargalhadas, apertou a mão e disse:
- Deus te proteja.”


O mais curioso de tudo é, justamente, o conteúdo das últimas linhas da entrevista, quando o sósia se identifica. Nem assim a ficha do jornalista cai. Numa entrevista ao jornal O Globo, ele tentou explicar algo tão inexplicável:

Conti afirma que achou que Felipão havia feito uma brincadeira depois de se recusar a participar do seu programa na GloboNews dizendo estar muito ocupado durante a Copa.

- Achei que era o Scolari, tive certeza de que era ele. Eu estava lá esperando o voo, ele entrou, sentou-se ao meu lado. Eu fui perguntando e o cara respondendo.”

O jornalista disse que logo que alguém o alertou de que Felipão se encontrava em Fortaleza e que, portanto, não poderia ter dado aquela entrevista, começou a “apagar o incêndio”. E, sobre isso, mais uma curiosidade, as duas notas de desculpas dos dois jornais são exatamente iguais.




Mário Sérgio Conti afirmou que nunca tinha estado com Scolari e que sequer já havia visto uma entrevista dele pela TV. Algo realmente impressionante para quem vive no Brasil e para quem conseguiu desenvolver uma entrevista com tantos detalhes sobre a situação de nossa seleção no Mundial.

Tentando manter o bom humor e minimizando o fato, declarou:

Realmente foi um erro tolo. Agi de boa fé. Percebi o erro e corrigimos, deu para corrigir. Não prejudiquei ninguém, a não ser eu mesmo... Perdão pela confusão. Felizmente, ela não prejudica ninguém. Não afetará a Bolsa, a Copa ou as eleições.”

Com toda certeza a canelada jornalística contundiu apenas seu próprio autor. Não sei, nem mesmo, se ele chegou a levar um cartão amarelo pelo lance. Mas, com toda certeza, se o jornalista responsável pelo texto fosse menos cotado; se não fosse um dos “craques” do time, fatalmente teria recebido um cartão vermelho, sem direito a qualquer tipo de apelação.
Alguém duvida?
 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ei, Dilma...

Quando fui à abertura dos Jogos Pan-americanos de 2007, aqui no Rio, ouvi o presidente Lula ser vaiado pelo público presente no Maracanã. Na época, o fato foi alardeado como algo extremamente simbólico. Porém, logo surgiu uma emblemática frase de Nélson Rodrigues para apagar o incêndio que os apupos provocavam na mídia: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio”.

 http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/files/2012/06/nelsoncarta.jpg

Na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, a plateia, porém, foi além. As vaias se transformaram em insultos contra a presidente da República, Dilma Rousseff.
Na mídia e, mais explicitamente, nas redes sociais o fato ainda pulula. Com defesas e críticas ardorosas. E, lendo tudo isso, decidi refletir um pouco sobre o fato.
Não tinha a menor dúvida de que Dilma seria hostilizada na cerimônia. Nem ela, tanto que abriu mão do discurso de abertura, para tentar evitar um estrago maior. Mas não foi o suficiente...
Em pelo menos dois momentos ouvi o coro pela TV, um coro que torcidas organizadas entoam contra seus adversários e que, talvez por isso, tenha sido cantado de forma tão espontânea contra a mandatária do País. Só que nas cadeiras da Arena Corínthians não estavam torcidas organizadas e sim um público que podemos classificar de classe média alta, principalmente se levarmos em conta o valor dos ingressos pagos. Um público bem educado (didaticamente falando), mas desrespeitoso ao extremo.
 
Não quero dizer que essas pessoas não possam vaiar, se oporem à presidente ou aos rumos do País, mas não se tratou apenas de uma vaia, mas de uma ofensa pessoal. No meu entender, uma grosseria.
Vocês vão perguntar se eu nunca gritei algo parecido num estádio? Sim, claro que sim. Contra clubes adversários ou contra polêmicas atitudes de um juiz... E nem por isso estou certo quando faço isso.
Mas estamos falando da presidente do Brasil.
É realmente aceitável que se mande o presidente do país tomar no c... em rede mundial?
Podem me chamar de puritano, mas achei uma falta de respeito absurda.
Os “pró-Copa” e os “anti-Copa”, antagonistas ideológicos, encontraram seu denominador comum: Dilma.
Mesmo assim, continuam a discordar.
Os “pró” acreditam que ficar fazendo manifestações por aí, dizendo que não vai ter Copa, quando já há, é uma idiotice.
Os “contra” acham absurdo alguém ir a um estádio e vaiar justamente quem viabilizou a Copa que eles tanto ansiavam.
E não é que, nessas argumentações, os dois grupos têm razão...
O País tem que melhorar muito, sim. Mas alguém é capaz de contestar que, desde a implantação do Plano Real, estamos num ritmo crescente de mudanças?
As críticas são contra o PT? Então votem contra o PT.
E se não há bons candidatos de Oposição isso é realmente lamentável. Seria muito bom que novas ideias viessem à baila no sentido de melhorar o País.
Agora, nós, da classe média, dos grandes centros, temos que ver que o Brasil é muito mais do que as cercanias do Sul Maravilha (ou das cadeiras do Itaquerão), como falava a Graúna do Henfil.
Queremos saúde pública de qualidade, educação pública de qualidade, igualdade social (será que todos querem mesmo?), mas para isso, no jogo democrático, é preciso ter gente de qualidade no Congresso Nacional e no Poder Executivo.
E quem os escolhe? Nós!
Não só nós do Sul Maravilha. Não só nós que vociferamos nas redes sociais. Não só nós que podemos pagar por um ingresso “padrão FIFA”.
O Brasil tem mazelas muito maiores do que a falta de leitos no Souza Aguiar ou Miguel Couto.
Há lugares em que nem médico há.
O País não sofre apenas com o sucateamento do Colégio Pedro II, um símbolo do ensino público carioca, pois em alguns distritos do Brasil desconhecido nunca passou um professor.
O Brasil é um país gigantesco e com problemas proporcionais e não vão ser vaias que vão resolver as questões que o afligem. Muito menos ofensas pessoais à chefe da Nação.
E o Blatter (leia-se FIFA), quem diria saiu incólume....