sexta-feira, 29 de agosto de 2014

CRIATIVIDADE ELEITORAL #SQN

Lá vem mais uma eleição e posso garantir a vocês que poucas vezes estive tão desanimado para enfrentar a urna.
A disputa para governo do Estado do Rio é uma situação tão desesperadora que o pessoal acabou apelando para a galhofa na Internet.

  
Mas, não é só a falta de boas opções que me aflige e sim toda a estrutura política do nosso país.
Vocês têm ideia de quantos partidos estão disputando as eleições de 2014?
Pois bem... São 32 legendas. Algo totalmente inconcebível.


 Boa parte deles não tem qualquer diferenciação ideológica, sendo usados como moeda eleitoral em alianças no melhor estilo vale-tudo.
Com isso o número de candidatos é elevado à enésima potência. gente que vive a ilusão de um cargo público e sem qualquer possibilidade real de se eleger.
Para vocês terem uma ideia, no Rio de Janeiro, há 1079 candidatos a uma vaga na Câmara Federal e 2034 postulantes a um cadeira na Assembleia Legislativa. Se levarmos em conta que a bancada do Rio em Brasília é de 76 candidatos, a relação candidato vaga é de 23, 45. Porém, para Deputado Estadual, é ainda maior, 28,64 candidatos para cada uma das 71 vagas.

Vendo a lista de candidatos é possível ver gente muito simples sonhando com o posto de parlamentar. Há pipoqueiros (um já foi eleito um vez), enfermeiras, DJs, militares, funcionários públicos, representantes de comunidades, motoristas de vans, farmacêuticos, cabeleireiras e vai por aí...
São 48 pastores, 3 bispos e um reverendo. Setenta e seis candidatos se identificam com professores e 92 se intitulam doutores (médicos, advogados, sei lá...).

Outra curiosidade é o nome adotado por alguns deles. Parece que buscam no inusitado uma forma de diferenciação. Com certeza chamam a atenção. Agora, daí a dizer que isso possa atrair votos, vai uma grande diferença. Veja alguns exemplos:

Candidatos a Deputado Federal

Aleixo Frangão (será que é avicultor, dono de aviário ou goleiro)
Barack Obama Claudio Henrique (He thinks, he can.)
China vem aí (e o bicho vai pegar!)
Cowboy Beleza (Aiôoo, Silver!)
Danete  (sobremesa láctea cremosa, sabor chocolate)
Dedinho (Faria mais sucesso como urologista...)
E.T. (um candidato de outro planeta)
Fernando paulada (se não der no jeito...)
Macaco Tião Marcelle (perdeu o bonde da história)
Mim (Vote em mim! Ô trocadilho triste)
Mouralidade (sobrenome e plataforma juntos...)
Paulinho Pompom (com Protex, protege o bebê)
Sb Salva Brasil (salve-se quem puder)
Tapete (útil para tapar rombos no orçamento)
Tomé do Pau Branco (prefiro não arriscar o motivo do apelido...)
William Big Coke (um candidato cheio de gás)
Ziriguidinho (o samba mandou me chamar...)

Candidatos a Deputado Estadual

Adriana Vaca Brava (pegando o touro a unha)

Adriano Gospel Funk (quando toca, ninguém fica parado...)
Alceu Dispor (mais um rei do trocadilho)
Amigo Mago (só não vale fazer verba desaparecer)
Ás Guerreiro (Guerra é guerra!)
Chupa Cabra (e alguém ainda acredita nisso?)
Dibruço (se de frente já tá difícil...)
Fubuia Salgadinho O Astro (Incomparável.... Me deixou sem palavras...)
Gato do Trem (as passageiras suspiram por ele)
Graça Figuraça (o negócio é rimar...)
Hilder Ligeirinho (Arriba! Arriba!)
Josiel papalégua   (Bip!Bip!)
Lek-Bom  (ahhhh lelekleklek...)
Marcelo Filezão (É Friboi?)
Mulher Bambu (Essa não cutuca com vara curta.)
Peixe do Samba (Romário que se cuide...)
Shewry Stony (Eu juro! É o nome dela mesmo!)
Sidnei Ninguém (Pra quem acha que ninguém merece seu voto.)

Descobri até mesmo que há um candidato à Assembleia Legislativa, pelo Partido da Pátria Livre chamado Rc Case.
Alerto, portanto, aos meus queridos leitores, que, apesar de ser favorável a uma pátria livre, este não sou eu.  Sei que todos adorariam votar em mim (rs), mas terão que buscar outro candidato.

Brincadeiras à parte, é obrigação nossa escolher uma pessoa confiável para ganhar nosso voto.
Lembrem-se, antes de reclamar dos políticos, que somos nós quem os colocamos lá.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A SELFIE, O SORRISO E A PATRULHA

Tive um pesadelo. E, como em todo sonho, nesse também havia uma grande dose de elementos sem qualquer sentido muito lógico, mas como afirma o dito popular: “Freud (sempre) explica”.
Pelo que me lembro a situação se passava durante uma festa. Só que o irmão da aniversariante não concordava com as pessoas convidadas, pois eram de um grupo político com uma ideologia diferente da sua. O tal irmão decide, então, convocar seus aliados para acabar com a festança e logo se instaura um clima de guerra, com confrontos físicos inclusive. Lembro-me da agonia das pessoas e dos pedidos para que aquilo parasse antes que alguém se ferisse. Havia crianças no local.
Foi uma sensação muito ruim, vivia a agonia de quem nada podia fazer. Acordei sobressaltado, sentindo um aperto no peito. Tentava analisar o porquê de um sonho, em princípio tão sem pé nem cabeça.
Só pela manhã, depois de ter voltado a dormir, comecei a intuir sobre as razões do sonho ruim.

Tenho me sentido muito decepcionado com a intransigência da sociedade atual. Sempre pronta a apedrejar aqueles que não comungam do mesmo credo. É o que o mestre Alberto Dines chama de clima de FLAxFLU. Tudo parece ter que ser “pão, pão; queijo, queijo”, como se só houvesse o preto e o branco e não tantas tonalidades de cinza (nada a ver com as fantasiais sexuais do livro da autora inglesa Erika Leonard James).
Neste período eleitoral, então, haja pedras. E o que é pior; a virulência das críticas pode ser capaz de corar gerente de puteiro.
Não há limites. Fossem as mídias sociais armas carregadas, estaríamos vendo um banho de sangue.


Amigos ou conhecidos que eu nem desconfiava serem capazes de tantos impropérios, de tanta raiva inoculada, têm partido, sem escrúpulos, para ataques pessoais. Outros saem reproduzindo postagens fantasiosas, sem qualquer possibilidade de um vínculo mínimo com a realidade. Mas, no vale-tudo virtual, isso parece ser o que menos importa.

Vamos tomar como exemplo a morte de Eduardo Campos, candidato à presidência, vítima de um acidente aéreo na cidade de Santos, no litoral paulista. O impacto de uma notícia chocante como aquela logo foi substituído pelo som da artilharia virtual. A hashtag #FOIADILMA disparou no topo dos trend topping do Twitter. Teorias da conspiração pulularam tal qual milho de pipoca em panela quente. E tome de compartilhamentos! Luto, tristeza, reflexão... nem pensar!
Só sei que nesse dia exclui mais de dez pessoas da minha lista no Facebook por não concordar com as brincadeiras de mau gosto e com o conteúdo compartilhado (tenho certeza de que não sentirei falta delas).


Dias depois foi a vez do contra-ataque. O estopim foi uma foto de Marina Silva sorrindo durante o velório de Campos, no Recife. Postagens indignadas perguntavam: "Do que ri, Marina Silva?" A acusação era de que a vice de Eduardo sapateava sobre seu caixão. Houve quem dissesse que Marina inaugurara o “velóriomício”, pois teria aproveitado a situação para garantir a popularidade necessária para tomar o lugar do morto na corrida presidencial.


Julgar alguém a partir de um momento registrado por uma câmera, por um a fração de segundo capturada, é de uma crueldade sem par.
Logo se soube que Marina, naquele momento, tentava confortar a família relembrando passagens da campanha vividas pelos dois.


Mas o estrago já estava feito. E, do jeito que as coisas vão, não me espantaria se tal acusação voltar a surgir durante a campanha.

Mas a esculhambação internética não é um privilégio de figuras públicas.
No dia do velório do político pernambucano, começou a circular na Internet a foto feita por Pedro Kirilos, da Agência O Globo, na qual uma mulher aparecia fazendo uma selfie com o caixão do presidenciável ao fundo.



Embora as selfies (fotos de si mesmo tiradas através de um celular) tenham virado febre, o comportamento da moça não foi perdoado pelos patrulheiros. Além das mais duras críticas, o tema ainda virou piada na Internet.


Há quem diga que ela conseguiu seus 15 minutos de fama, eu, porém, diria que foram seus 15 minutos de execração pública. Tente se colocar no lugar dela por alguns instantes... Será que ela achou essa superexposição agradável? Será que um ato sem noção como o dela merece mesmo tanta polêmica? Será que é caso para pelotão de fuzilamento social?

Quem pode nos ajudar a dar essas respostas talvez seja o professor Zygmunt Bauman. Ele tem sido um dos principais analistas das relações da sociedade mundial com as redes sociais. No livro “Vigilância Líquida”, já avaliava as consequências do excesso informações que disponibilizamos, voluntariamente ou não, todos os dias nas redes. Agora, em “Cegueira moral” ele fala sobre a vida digital e o sério risco que ela nos impõe de perdermos a sensibilidade em relação aos outros. Um tipo de anestesia que parece nos afetar perante o sofrimento alheio.


Tinha visto este livro, recentemente, na Livraria da Travessa e já tinha me interessado. Porém, após meu pesadelo e todos os fatos aqui descritos, urge que o leia.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

A FORÇA DE UM "ANÃO"

A frase é famosa: "O jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã."


Traduzindo: o que sai no jornal logo é esquecido, pois outras notícias novas farão com que nos não nos lembremos mais das antigas.
Com certeza era assim, mas depois que os arquivos digitais surgiram, tudo mudou. Não há "peixes digitais" e as edições antigas passaram a estar sempre ao alcance dos leitores.
E isso é muito bom.
Jornalismo sem memória não existe. E essa memória não pode ser seletiva. Deve servir, também para lembrar as falhas da imprensa e as vezes em que ela "carrega demais nas tintas", intencionalmente ou não.
Hoje (12/8), ao pegar o exemplar do Globo, me deparei com a notícia de que o novo presidente de Israel entrara em contato com a presidente Dilma para pedir desculpas pelas declarações de um funcionário da chancelaria israelense. Irônico e acima do tom que se espera de um diplomata, o tal sujeito, chamou o Brasil de "anão diplomático" para minimizar a repercussão do fato de que nosso país havia chamado o embaixador em Tel Aviv para prestar esclarecimentos sobre o quadro do conflito na Faixa de Gaza. A presidente Dilma já tinha criticado o uso desproporcional de força por parte de Israel.
No dia 25 de julho, o assunto tinha sido o principal da primeira página do diário carioca:


Apesar de dar voz a ambos os lados, o conteúdo da cobertura foi extremamente crítico à postura do Itamaraty, não só nesse caso, mas em outras situações da política internacional brasileira. O subtítulo "DIPLOMACIA DE ANÃO" acabou sendo a síntese da postura do Globo.

Hoje, na primeira página, a notícia sobre o pedido de desculpas foi, no entanto, bem menor.


Mas, sejamos justos. Os dois pesos e as duas medidas não foram um privilégio do Globo. O mesmo aconteceu nos dois outros grandes jornais do país: Folha e Estadão.
No Estado de S.Paulo, a manchete do dia do "anão" também foi bem maior do que a notícia da primeira página de hoje.



 A Folha de S.Paulo, foi quem deu um pouquinho mais de espaço, mas mesmo assim, sem o mesmo destaque do dia 25 de julho.







Não importa se a primeira declaração foi feita por alguém sem grande representatividade, o que vale, quase sempre, é a "força" da manchete.
Tudo bem que também há um forte componente político na postura dos jornais nesse caso, afinal estamos em ano de eleição.
Mas esse tipo de cobertura que explora as declarações bombásticas e deixa em segundo plano as informações mais relevantes é recorrente e nas mais diversas editorias.
Ou seja, cada vez mais o "anão" é mais notícia do que um presidente.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A FALTA QUE FAZ A INFORMAÇÃO...

Todos sabem, e os que não sabem passam a saber, que tenho uma forte ligação com o Botafogo. Não se trata apenas de uma paixão de arquibancada (embora ela exista); por contingências da vida acabei escrevendo 5 livros sobre o Glorioso, dois deles com o auxílio luxuoso dos amigos botafoguenses Roberto Falcão e Paulo Marcelo Sampaio.
Porém, apesar deste visgo que me une à estrela solitária, nunca me envolvi com a política do clube. Nem mesmo sócio-proprietário sou. Já até pensei no caso, mas se o fizesse seria tão somente para poder participar das decisões administrativas, já que a parte social da sede de General Severiano pouco oferece em relação a outros clubes da cidade, inclusive os que possuem times de futebol.
Para não dizer que nunca me envolvi com qualquer candidato, pouco antes da primeira eleição de Maurício Assumpção, fui convidado para um papo com ele na casa do falecido e tradicional alvinegro Jim. Me lembro bem que, na época, ressaltei a necessidade de uma parceria maior com a torcida, pois ela é o maior patrimônio do clube. É ela, e acredito nisso até hoje, que pode ajudar a solucionar vários problemas do Botafogo.
A impressão que tive do futuro presidente foi muito boa. E em todas as vezes que estive com ele (não foram muitas) para falar sobre livros que estava lançando, fui sempre muito bem recebido e carinhosamente atendido.
Não pretendo nesta postagem analisar cada passo de sua administração, até porque não tenho os dados suficientes para isso, mas, no meu entender, ele foi muito bem em seu primeiro mandato. O Botafogo passou a ter uma visibilidade maior com algumas contratações e a chegada de Loco Abreu foi uma grande bola dentro. Poucas foram as vozes que protestaram contra sua reeleição.
Apesar da evolução nos gramados, com melhores classificações nos torneios nacionais, a classificação para a Libertadores e a vinda de um craque internacional como Seedorf, o segundo mandato de Maurício começou a fazer água.
Fechamento do Engenhão, problemas fiscais, endividamento galopante, folha salarial atrasada, suspeitas sobre contratos de patrocínio... Um cenário digno dos mais espetaculares filmes de catástrofe de Hollywood.
E o que era pior, total desinformação e uma torcida, no convés de um Titanic, sem saber o que fazer ou no que acreditar...
Conhecem aquele ditado: cabeça vazia, oficina do diabo? Pois é, quando falta informação, qualquer boato ganha dimensão de verdade. Corneteiros viram arautos do caos e oportunistas destilam venenos poderosíssimos (estamos em ano de eleições, não se esqueçam).
Na minha opinião, de todos os pecados que possam ter sido cometidos por Maurício Assumpção, a falta de comunicação com a torcida foi o maior deles.
Não estou escrevendo este texto para simplesmente alardear de que tinha dito a ele o quanto a ligação com a torcida era importante. Não é do meu feitio.
Só queria constatar o quão menos traumática poderia ter sido a relação entre diretoria e torcedores, por pior que fosse a crise.
Até essa terça-feira (05/08) me encontrava extremamente decepcionado com Maurício. Me sentia, como torcedor e como uma pessoa que acreditava em suas intenções, desiludido com suas atitudes. Defendia, mesmo, que ele devia renunciar.


Porém, após a entrevista concedida no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, acho importante que ele se mantenha até o fim do mandato e explico o porquê.
Arguido por jornalistas sérios, que não se omitiram em questioná-lo sobre pontos críticos de sua administração, o presidente se mostrou muito mais seguro do que eu imaginava e deu suas explicações sobre cada item polêmico que foi sendo levantado. Explicou em que passo está a questão do pedido de indenização pela interdição do Engenhão, falou sobre o andamento da construção do CT de Marechal Hermes, detalhou a transação do patrocínio do Guaraviton e a comissão (a meu ver justa) para a agência que tinha trazido a marca para nosso uniforme (empresa de seu pai) e traduziu, do “juridiquês” para o português, a exclusão do Botafogo do ato trabalhista e sua provável inclusão em outros programas de refinanciamento das dívidas.
Ou seja, tudo o que ele já deveria ter dito à torcida sem que houvesse a necessidade de uma sabatina na TV. 

Ok, outros pontos ficaram sem explicação, como por exemplo o contrato de patrocínio da TelexFree. Mas, como torcedor, me senti mais ciente do quadro em que se encontra meu time.
Comentando sobre isso com minha amiga Pamella Lima, ela me disse que não sabia muito bem o que pensar sobre a entrevista. Tinha o pé atrás. Haveria ali um forte trabalho de media training e uma forte dose de falsidade, ou as palavras do presidente tinham sido realmente sinceras.
Acredito que muita gente deva ter ficado com a mesma impressão. A grande lacuna de informações oficiais em conjunção com a pressão da mídia em face da situação de penúria de um clube glorioso como o Botafogo forneceram motivos de sobra para desconfianças.
O silêncio é sempre dúbio: pode ser sinônimo de prudência, mas também de ocultação de fatos.
Daí o título desta postagem...
Mas, antes de fechar esse texto gostaria de deixar claro o porquê da minha convicção de que o presidente deva cumprir seu mandato e passar o cargo ao sucessor. Suas palavras, durante o programa, deixaram clara a dura situação atual, mas também trouxeram a esperança de que haja uma mudança de rumo daqui até o final do ano. Permanecendo no mandato e fazendo com a situação comece a mudar, Maurício estará dirimindo nossas dúvidas sobre a veracidade de suas afirmações.
Que ele esteja certo, que o ano de 2014, que tão bem começou, possa terminar de forma honrosa e que nosso próximo presidente possa ter melhores condições de conduzir nossa estrela