quinta-feira, 3 de setembro de 2015

ESTUPIDEZ HUMANA


Fiquei na dúvida. 
Deveria ou não escrever sobre a criança encontrada morta numa praia da Turquia?


Muito já foi dito, porém, como a imagem mexeu demais comigo e como falar sobre o que aconteceu nunca será demais, resolvi colocar, aqui, algumas considerações.
Por mais que sejam graves os problemas, quando vemos que uma criança, que nem bem entende o que está fazendo neste mundo, é afetada, isso mexe muito mais conosco.
A imagem do corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de apenas 3 anos de idade, estendido à beira-mar, entrará para a história do fotojornalismo de maneira trágica como tantas outras crianças que se viram em meio à estupidez humana.


A imagem da menina vietnamita Kim Phuc correndo em desespero após ser atingida por napalm despejado por um avião norte-americano, em 1972, jamais sairá de nossa mente. A própria menina, fotografada por Huynh Cong "Nick" Ut, da Associated Press e, hoje, uma mulher, disse numa entrevista, há pouco tempo, que "realmente gostaria de escapar daquela pequena menina. Mas parece que aquela imagem nunca me deixou ir".


Assim como esta foto tirada no Sudão, em 1993. Um menino, famélico tendo ao seu lado um abutre, que pacientemente esperava a morte de sua presa. A foto é de Kevin Carter. Uma perfeita metáfora sobre o avanço da fome no país e em boa parte do continente africano. Carter recebeu um prêmio Pulitzer por ela, mas as críticas que caíram sobre ele foram um fardo pesado demais. Diziam que, ao invés de ter tirado a foto, deveria ter ajudado o menino, deveria ter espantado o abutre. 
Pressionado pela culpa, Kevin acabou se suicidando. 














De acordo com uma reportagem, que li para escrever este texto, o menino teria sobrevivido, mas aquela situação impactou de tal forma o homem que a registrou, que talvez nem mesmo a notícia de que a criança sobrevivera acalmasse o coração estraçalhado do fotógrafo.

Muitos jornais optaram por publicar, em suas primeiras páginas, uma foto menos chocante, com a criança refugiada síria no colo de um policial. 
Foi assim nos jornais mais conceituados.



Aqui no Brasil, a maioria também optou por imagens menos explícitas, o que não foi o caso do Extra. Ao contrário de O Globo, do mesmo grupo editorial, optou por uma foto mais chocante.




Expor ou não a mais dura das fotos, na verdade, não é a questão. São opções editoriais e passam por decisões jornalísticas e mercadológicas.
O que choca é o fato da foto ter existido. O que choca é que o drama dos refugiados não estaria gerando tanta comoção ontem e hoje se a vítima não fosse uma criança.
Vivemos em constantes guerras, conflitos, violentas cruzadas religiosas que matam centenas de seres humanos todos os dias. Seres tão humanos quanto o menino Aylan Kurdi, mas que jamais chegarão às primeiras páginas.


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