terça-feira, 3 de agosto de 2010

O que os olhos não vêem...

Quando a gente trabalha com jornalismo, se atém muito aos números, ao quadro geral do fato e pode acabar perdendo o foco no lado real do acontecimento; a parte viva da notícia.
Noutro dia recebi um e-mail de minha amiga Cida, do interior de São Paulo, com tristes imagens do derramamento de óleo no Golfo do México. E foi então que percebi quão poucos detalhes desta tragédia ambiental eu tinha visto.

O noticiário, pelo menos aqui no Brasil, falava da grandiosidade do acidente e das prováveis consequências, mas as imagens aéreas, ou subersas não nos deixavam visualizar o efeito do desastre na flora e na fauna da região. Um mal de ficarmos restritos a imagens de agências de notícias.

A TV Globo enviou o correspondente Rodrigo Alvarez para a região, mas o material coletado pela equipe não diferiu muito do que já se via. Abaixo segue o link da matéria exibida pelo Fantástico.


Na verdade as notícias internacionais nos chegam muito reduzidas. Por conta deste acidente, por exemplo, é que fiquei sabendo de tantos outros tão graves quanto, que já ocorreram e que não tiveram o mesmo impacto na mídia daqui.

Em uma de minhas aulas de telejornalismo costumo citar o acidente com o navio Exxon Valdez, no Alasca, que pensava ser um dos mais graves ocorridos até hoje.




Mas, de acordo com o infográfico acima, já ocorreram pelo menos dez acidentes muito piores. Aliás, dez não... onze, porque este do Golfo do México pode ser até cem vezes pior do que o do petroleiro da Exxon. O mais grave deles, e nem isso eu sabia, foi provocado pelos iraquianos, que sabotaram oleodutos do Kwait durante a Guerra do Golfo. Estávamos tão preocupados com a paz na região e com as imagens da gueerra de vídeogame divulgadas pela CNN, que a questão ambiental, mesmo gravíssima, ficou em segundo plano.
Ainda não há um número final e talvez nem haja uma estimativa aproximada da quantidade de petróleo que vazou no Golfo do México. Assim como não haverá uma noção exata sobre o impacto ambiental do acidente.


É possível contabilizar o número de aves e de outros animais que morreram contaminados pelo óleo. É possível saber quantos quilômetros de litoral a mancha atingiu. Mas é impossível saber o quanto de óleo ficou depositado no fundo do mar, bem como é impossível precisar por quantos anos ainda serão sentidos os efeitos deste vazamento no ecossistema daquela região.



Estas fotos, espalhadas pelo post, servem para nos alertar: catástrofes como essas são muito mais do que números e é dever do jornalismo mostrar sua verdadeira face.

2 comentários:

  1. Olá professor.

    O senhor sabe o que me deixou mais triste neste post? A INDIFERENÇA das pessoas. Talvez o número de comentários postados não seja um bom parâmetro, mas serve para mostrar que a raça humana só sente-se incomodada quando o problema é com o seu umbigo. Com algumas exceções.

    De fato, são imagens muito tristes de se ver. Onde iremos parar com isso?

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  2. Pois é, Brena. Temos este péssimo hábito de nos acarmos o umbigo do mundo. E só reclamamos quando somos afetados diretamente.

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