terça-feira, 24 de agosto de 2010

Reflexões digitais


Esta postagem não deveria ser sobre mais um colunista de jornal, para não parecer uma falta de originalidade deste que vos escreve, mas depois de ler o texto de Arnaldo Jabor, nesta terça-feira, 24 agosto, não resisti.

Arnaldo Jabor não é, nem se pretende ser, uma unanimidade. Seu sarcasmo, sua aspereza, seu fel, são, muitas vezes, difíceis de digerir. Não diria que sou um fã, mas acho que de vez em quando ele acerta na mosca, com pontaria de um Robin Hood.

A coluna, que começa com a perguntan "Quantos gigabytes tem minha alma?", questiona de uma forma isenta nosso envolvimento cada vez mais intenso com o mundo digital. Não é à toa que estou aqui, neste blog, passando minhas elocubrações a vocês.

Digo que a análise é isenta, ou quase, porque o prórpio Jabor confessa que sempre se manteve, por questões de foro íntimo, longe da Grande Rede. Um afastamento que agora chega ao fim, com a entrada dele no Twitter.

O curioso é que já existe um Jabor no Twitter, com mais de 120 mil seguidores, que pensam que desfrutam das mensagens do original diretor e jornalista. O "realjabor", no entanto, só agora encontrou o passarinho azul.

Mas a coluna de Arnaldo jabor vai muito além deste comunicado social.

Com um notável poder de percepção, ou até mesmo por estar mais distante desta febre internética, levanta alguns pontos muito interessantes que nos passam despercebidos ou, então, que preferimos não perceber.

Um deles é a questão da amizade. A Internet aproxima, ou distancia as pessoas? Tudo bem que encontramos pessoas na rede que há muito não tínhamos contato. Mas será que encontrá-las no mundo virtual fez alguma diferença? Ou será que eles passaram a ser apenas mais alguns retratos estampados na parede de nossos Orkuts ou Facebooks? E o pior? Será que aqueles amigos mais próximos não acabam se afastando pelo simples fato de que vez por outra trocamos mensagens ou e-mails, dando-nos a falsa impressão de que continuamos próximos?
Dá pra pensar um bocado, não acham?

Antigamente mandávamos cartas. Eu fui correspondente de dezenas de pessoas, em vários cantos do país. Escrevia-se algo, ia-se ao Correio e só dias depois a resposta chegava. Será que isso é tão ruim? Mandar uma carta, ao invés de trocar idéias com alguém no MSN, envolvia muito mais coisa. Ao escrever pensávamos como a pessoa do outro lado iria reagir, de que forma poderíamos nos exprimir para evitar más interpretações. E havia, ainda, a expectativa da resposta, a alegria da chegada do envelope. Algo muito diferente de hoje. Uma conversa de meia-hora pelo Messenger deve ser equivalente a alguns meses de correpondência por cartas.

Não estou aqui demonizando a Internet. Longe disso... Imaginem quantas cartas teria que mandar para fazer com que vocês tivessem acesso a este texto. Sou adepto dessa trapizonga e acho que ela nos traz benefícios incríveis. Mas há que parar um pouquinho para pensar nos nossos ciber-atos.

O trem-bala da Internet passa e tal como pulávamos nos estribos dos bondes de Santa Tereza (falo deles porque nos outros não cheguei a andar), embarcamos e somos levados no seu ritmo alucinante. Expostos a uma gama absurda de informações, as quais, na maioria das vezes, não nos acrescentarão nada. Mas também com acesso a um mundo de conteúdos que jamais sonharíamos poder acessar.

Só acho que não podemos viver acorrentados nisso aqui. O mundo real também pode ser sedutor. Os encontros reais, os amores reais. Tácteis...

É bom dar uma parada para pensar. Saltar do Chapéu Mexicano (lembram disso) e vê-lo rodar. Ele pode ser uma ótima diversão, mas é importante saber que ele continua a rodar sem você e que você pode viver, também, sem ele.


4 comentários:

  1. Eu com certeza mantenho mais contato do que me distancio com a internet. No facebook, cada comentário que faço me aproxima do amigo querido que não vejo nunca e pra quem não escreveria um e-mail regularmente. Uma frase nos mantém mais perto das pessoas; claro que um texto longo seria até melhor, mas na correria de hoje quem se dá um tempo para escrever pra todos?
    E, falando com base na minha experiência de ter morado fora do Brasil, com a internet os geograficamente muito distantes se sentem mais próximos. Quem me dera eu e todos tivéssemos e-mail, facebook, msn e skype naquela época. Teria amenizado aquela saudade grande!
    Dadi

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  2. Como eu disse, Dadi, adoro isso aqui. Só sinto falta de mais encontros reais. Bjim

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  3. Não se pode comparar um telefonema pelo aniversário ou pelo dia do amigo com um post, email ou comentário mas fazer o que??
    A vida de todos parece que é uma agenda completamente cheia de compromissos....tb. tive amigos de correspondencia e reencontrei uma que sempre morou na Suiça ,via FB.Isso foi sensacional, reencontrei outra amiga com quem troquei muitas cartas enquanto ela estudava na Inglaterra e que agora está em Nova York.
    Facilita mas estranhamente,distancia.

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