Nos últimos dias recebi diversos e-mails com textos que alertam sobre a situação. Alguns mais críticos, outros mais condescendentes.
Mas gostaria de falar, aqui, sobre o clima que percebi na imprensa de ontem e, principalmente, nos jornais de hoje.
Quem gosta de futebol conhece bem o termo "Já ganhou". Ele é utilizado às vésperas de um jogo fácil, quando o time se encontra confiante, achando que o resultado já está no papo. E muitas vezes, esse excesso de "salto alto" acaba complicando as coisas.

Numa leitura dos jornais de hoje e de suas manchetes, não só aqui, mas pelo Brasil afora, senti um clima de "Já ganhou". Um perigoso clima de "Já ganhou". Pois, se encararmos a situação com realismo, veremos que este jogo está muito longe de terminar.


Sei que é importante ressaltarmos conquistas. Sei que é importante mostrar que a bandidagem não é invencível ( muito pelo contrário, como já disse aqui, acho que a mídia sempre os elevou a patamares irreais) e sei que é importante mostrar o apoio popular às forças de ocupação, mas, novamente, peço equilíbrio.
No O Globo desta segunda-feira (29/11) o texto de primeira página do caderno especial foi uma ode ao que o jornal classifica como "uma conquista que ficará para sempre marcada na História da cidade".
Frases de efeito desdenhavam do poderio dos traficantes: "À medida em que os policiais progrediam morro acima, o mito do poderio da facção criminosa rolava morro abaixo". "Como ratos, chegaram a tentar fugir pelo esgotos". Mais adiante o texto tece loas à eficiência da estratégia utilizada: "... o poder público revelou uma estratégia militar que consiste na progressão gradual e certeira sobre o territótio, semelhante à utilizada pelas trpas aliadas ao ocupar a Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial...Assim como Paris foi retomada no passado, a polícia também, com passos milimetricamente pensados, recuperou o Alemão".
Isso é jornalismo, mesmo??? Só faltaram associar o complexo do Alemão, ao nazismo (já que é alemão também).
O objetivo de achincalhar com o tráfico foi levado a extremos. O Globo abre espaço, na capa do jornal para dizer que um dos bandidos "urinou nas calças na hora da prisão".
Outros jornais até mostraram a foto que comprovava o "fato", mas nenhum chegou a explicitar o detalhe.


Ufanismo vende jornal, mas não é jornalisticamente correto, pelo menos na minha modesta opinião.
Mas o que fica claro, analisando as primeiras páginas de diversos jornais espalhados pelo Brasil, que a invasão do Alemão é uma "luz no fim do túnel", não só para o Rio de Janeiro, mas como para todos os grandes centros urbanos que são atingidos pelo tráfico de drogas. O tom das manchetes reflete isso.





E não há como negar que o Rio de Janeiro, apesar de tudo e de todos, é a grande vitrine deste país. O que acontece aqui se reflete em todo o País e no exterior. No Cone Sul, a operação policial também ocupou as primeiras páginas.



O que acho é que a posição de nossa imprensa, pelo menos daqui pra frente, deve ser mais isenta, mais analítica, mais crítica. É preciso cobrar resultados não só na área policial, mas na área social também. O Estado tem que voltar a incluir essas áreas ocupadas no mapa da cidade. Não dá mais para recuar. Um retrocesso seria colocar em risco a vida de milhares de pessoas que deram a cara à mídia para legitimar as ações do poder público. O que seria delas no caso da volta do tráfico. O que seria do jovem Renê, um menino de 17 anos que mantém um jornal na comunidade e que foi exaltado pelo jornal O Dia por manter as pessoas de fora do morro informadas pelo Twiter.

As autoridades têm o dever de proteger essa gente e a mídia tem o dever de cobrar isso.
Cobranças como as que o Correio Braziliense já começou a fazer, indo na contra-mão do ufanismo reinante.

Agora, independentemente do conteúdo ideológico da foto abaixo, não há como não admirar o belíssimo fjagrante de Pablo Jacob, na capa do caderno especial de O Globo. É de uma felicidade digna de Prêmio Esso de Jornalismo.

Alguns podem dizer que foi sorte, mas é aquela coisa: a sorte só ajuda quem ajuda a sorte.