quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Minha gente...


 
Sete mil horas de futebol.
Este é o título de um livro escrito pelo comentarista Luiz Mendes. Mas chamar este gaúcho, que adotou o Rio de Janeiro, apenas de comentarista seria uma desfeita com sua memória. Mendes era muito mais do que um jornalista especializado em futebol. Ele era uma enciclopédia de futebol ambulante. Fosse qual fosse a pauta da conversa, o “tchê”, como amigos da Rádio Globo costumavam chamá-lo, tinha sempre uma história para contar, uma informação a acrescentar.
O futebol no rádio carioca teve sua marca nas últimas seis décadas e quem, como eu, sempre gostou de ouvir jogos pelo radinho, se acostumou com o ecoar de sua vinheta: Luiiiiiz Mendes.
Era o comentarista da palavra fácil, e a facilidade com que se expressava e atraía os ouvintes, mais do que justificava o bordão.

Tive o privilégio de estar algumas vezes com ele.
Nas duas entrevistas que fiz para a biografia de Quarentinha e para o 21 depois de 21, passamos horas agradabilíssimas, nas quais o papo sempre transbordava para muito além do assunto central.
Também tive a honra de contar com um texto seu no Almanaque do Centenário do Botafogo. Nosso Botafogo. Mendes nunca teve o pudor, como certos jornalistas esportivos, de esconder seu time. E, apesar de ser um apaixonado pela Estrela Solitária, nunca deixou de ter a admiração dos torcedores de outros clubes.

Tinha problemas de saúde. A diabetes fez com que tivesse que amputar um dos pés. Mas nem por isso desanimou. A Rádio Globo instalou um grande telão em seu apartamento, em Copacabana, de onde Mendes comentava as partidas off-tube.
Recentemente o encontrei em um restaurante, com Daisy Lucidi, sua esposa e um outro casal, e fiquei muito contente por ver que ele estava conseguindo levar sua vida, apesar de tantos problemas.
A notícia da morte me pegou de surpresa, pois li que seria mui justamente homenageado em breve.
Termino este post com uma história curiosa.
Na entrevista sobre Quarentinha, logo que liguei o gravador ele se virou e disse: “Lembro de um gol antológico do Quarentinha. Era um jogo contra o Santos, à noite, no Maracanã. Ele chutou a bola quase do meio de campo, com extrema violência. A pelota cruzou a escuridão como se fosse um risco de giz e estufou a rede, sem que Gilmar tivesse chances de defesa.”
Achei a história sensacional e fui ao arquivo do Jornal dos Sports buscar mais detalhes sobre aquele jogo e aquele gol.
Vi todos os jogos entre Botafogo e Santos. Neles, Quarentinha fez diversos gols, mas nenhum daquela forma narrada pelo Mendes.
Pode não ter sido contra o Santos, pode não ter sido no Maracanã, pode não ter sido o Quarentinha, ou posso, eu, não ter pesquisado direito, mas a história era tão sensacional, que a mantive no livro.
Viva Luiz Mendes!!!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs

Gênio.
Este foi o principal adjetivo utilizado pela mídia para designar Steve Jobs, falecido esta semana, vítima de um câncer de pâncreas.
Nunca tive um Mac, não por morrer de amor por meus PCs, mas por questões econômicas mesmo. Agora mesmo estou pensando em comprar um Netbook e o Air da Apple custra o triplo de um "comum". Mas é claro que admiro um cara visionário como ele, que soube, através de suas criações ( e de seus engenheiros) mudar os hábitos de milhões de pessoas ao redor do planeta.


As homenagens são mais do que justas e o espaço dedicado a elas , pertinente.
O problema é quando o exagero, o mau gosto ou oportunismo aparecem.
Dou três exemplos:

1 - No dia seguinte à morte , o jornal Bom Dia Brasil chamou o comentarista de saúde da TV Globo, doutor Luis Fernando Correia para explicar o câncer de pâncreas, mas sua introdução não poderia ter sido mais lamentável. Ao explicar que aquele era um tipo de câncer raro, soltou a seguinte pérola:

"Um indivíduo tão singular e tão diferente como o Steve Jobs também não ia ter um câncer comum, não é?"
(http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2011/10/cancer-no-pancreas-e-traicoeiro-pois-nao-da-sintomas-diz-especialista.html)



Trata-se de uma nova linha para os pesquisas médicas: quem tem QI alto morre mais de câncer raro.
Se nada for provado cintificamente, pelo menos o assunto renderá uma boa matéria para o Fantástico.



2 - No quesito mau-gosto, algumas chages sobre a morte do dono da Apple se superaram:






3 - E na categoria oportunismo, a medalha de ouro vai para a assessoria de imprensa da internacionalmente quase famosa Mulher Maçã. De acrdo com o comunicado, a moça fruta ficou tão abalada com a morte de ESTEVE JOBS que resolveu homenageá-lo fazendo uma tatuagem da marca da Apple (maçã como ela). Só não ficou claro em que parte do corpo a maçã mordida ficará alojada
(ou seja, se será uma homenagem explícita ou reservada).



Confira a íntegra da nota:

"Gracy Kelly a mulher maçã se sentiu tocada com a morte de Esteve Jobs. Ela acredita que boa parte de seu sucesso nacional e principalmente internacional tem haver com o simbolo da apple que vem a ser uma maçã. No ano em que comecou a aparecer na midia como a mulher maçã por coincidencia foi o mesmo da ascenção da empresa americana. Mesmo nunca tendo conhecido esse gênio inventor de grandes modernidades ela se sente profundamente agradecida pela maçã vir a ser o simbolo da empresa que vem a ser seu apelido desde adolescente. Ela promete fazer uma nova tatuagem com o simbolo da apple para eternizar o seu agradecimento".

Xô Satanás!!!!!

Recebi um e-mail com uma notícia inacreditável, embora não impossível. O Pastor Silas Malafaia, da Igreja Assembléia de Deus-Vitória em Cristo, teria anunciado o lançamento de um spray "Mata Capeta", capaz de expulsar o diabo do corpo das pessoas.
Como já via até entrevista de "encosto" nesses programas religiosos, não me surpreenderia se a notícia fosse verdade.
Para meu alívio, não era.
Tratava-se de uma notícia criada pelo site G17 (http://www.g17.com.br/), cujo lema é "Sem compromisso com a verdade". 


Uma foto "photoshopada" mostrava o pastor com a lata de spray à frente e o texto dizia assim:

O Pastor Silas Malafaia lançou no mercado uma invenção que vai revolucionar o mundo: o mata capeta. Trata-se de um spray que remove o diabo do couro das pessoas. O produto chega ao mercado na próxima semana por um preço em torno de 100 reais. Cada frasco dá para remover o diabo de umas 20 pessoas.

Para o ajudante de pedreiro José Jair Jacob, esta invenção chegou em boa hora. “Toda semana quando vou à Igreja o pastor tira o diabo do meu couro. Bate em mim, me joga no chão, me dá tapas, e agora com esse spray basta me dedetizar que o problema será resolvido”, disse.
A dona de casa Carmem Cotovelo Castro também gostou da invenção e disse que comprará centenas de frascos porque segundo ela, o marido costuma chegar bêbado em casa de madrugada com o diabo no couro.

O problema é que a piada foi levada a sério por sites, jornais e até uma emissora de TV.





Dos males o menor que nenhum jornal de maior penetração papou essa mosca, mas o episódio mostra em que pé está o nosso jornalismo, principalmente nesses periódicos de cidades menores. E, como não há mais a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo, a tendência é piorar. Cada vez mais gente vai trabalhar no esquema do CTRL C, CTRL V. E, apuração, que é bom, necas de pitibiriba.
Outras pegadinhas virão...

O lado positivo é que o bom humor acaba prevalecendo. Um gaiato aproveitou a história e colocou o spray à venda no Mercado Livre. Aposto que a procura deve ter sido alta.