terça-feira, 12 de junho de 2012

Curso prático de esquartejamento

Caro leitor
Você sabe esquartejar alguém???? Não?????
É muito fácil.
São apenas 4 passos explicados em detalhes pela revista Veja desta semana.



Desde os tempos de Tiradentes, um esquartejamento não ganhava tanto destaque.
E eu que pensara, ao ver o título "Mulher Fatal", na capa da revista, que a sordidez tinha, ali, chegado ao extremo.


Fazer graça com a desgraça alheia é, no mínimo, uma grosseria. E, com certeza, falta de bom senso.
Outro ponto interessante para analisarmos a cobertura da mídia no caso da morte de Marcos Matsunaga é o enfoque que alguns meios de comunicação estão dando ao assassinato.
Tenho sentido um tom complacente com a ré, que por sinal é confessa. O fato de ela alegar a traição e uma suposta agressão por parte do marido é colocado quase como um atenuante do crime. A defesa, consciente da ânsia midiática sobre o caso, tratou de fazer vazar um vídeo feito por um detetive particular no qual Marcos Matsunaga aparecia abraçado a outra mulher..



No Fantástico também foi mostrado um álbum de fotos dado como presente de aniversário da esposa para o marido, no qual há fotos do casal em várias viagens e declarações de amor nos textos. Uma prova de que era apaixonada pelo marido? A defesa, mais uma vez agradece.



Já o Domingo Espetacular se vangloriou de ter  conseguido fotos "exclusivas" do álbum de casamento de Marcos e Elize Matsunaga.



Como vimos, os programas domingueiros fizeram a reonstituição dos fatos de acordo com a narrativa da esquartejadora. O problema é que a outra parte envolvida não pode ter sua versão apresentada já que foi morta.
Fica no ar uma sensação de que de uma certa forma os fatos narrados justificam o ato criminoso.
O articulista da Veja, Reinaldo Azevedo também ficou com essa impressão e escreveu um texto sobre o tema. Não concordo inteiramente com ele, principalmente quando diz que a cobertura parcial é fruto de um "feminismo de faca na mão". Mas coaduno com sua opinião quando cita o caso Ângela Diniz/Doca Street, de 1976, para  lembrar que quem ama não mata.


http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/quem-ama-pelo-visto-mata-desde-que-a-vitima-seja-homem-e-rico-e-a-assassina-uma-prostituta-redimida-eis-um-mundo-barbaro-bocal-ou-o-feminismo-de-faca-na-mao/

Estender uma cobertura ouvindo testemunhas ou especialistas que ajudem a tentar entender o que realmente  levou Elize a um crime tão brutal é um direito da imprensa. Porém, é dever dessa mesma imprensa tomar cuidado para não fazer o morto ser o culpado pelo crime. Se Marcos Matsunaga traía a mulher, se gostava de prostitutas, se colecionava armas, até mesmo se agrediu a mulher, a insultou e ameaçou tirar a guarda da filha, não importa, ele continua sendo a vítima.
Não deixemos que a forçação de barra por uma cobertura mais extensa se transforme no linchamento de um defunto e nem na canonização de uma assassina.



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