sexta-feira, 28 de agosto de 2015

EL VIEJO SOÑADOR

"Não sabendo que era impossível, foi lá e fez"

A frase é do cineasta francês Jean Cocteau que, se não tivesse morrido em 1963, bem poderia tê-la utilizado para descrever o trabalho de Pepe Mujica como presidente uruguaio.

A figura do rechonchudo senhor, de cabelos e bigodes grisalhos, está muito mais para a de um avô bonachão do que para o mandatário de um país. E mesmo assim Pepe Mujica talvez tenha sido uma das mais importantes figuras políticas mundias deste começo de século XXI.

No pequeno Uruguai, onde, reza a lenda, há mais bois do que gente, ele implantou uma série de medidas que ninguém imaginava possíveis, pelo menos na cristã América Latina, tão arraigada a valores morais empoeirados.

Mas não foi sua luta para dar mais moradias às famílias carentes que o fez especial, tampouco a legalização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo,a liberação da maconha ou a legalização do aborto no país. Também não foi o fato de abrir mão de 90% de seu salário, de circular no seu fusquinha e criticar o consumismo exacerbado dos dias de hoje.




O que faz de Pepe Mujica, aos seus 80 anos de idade, uma pessoa ímpar é sua crença inabalável numa sociedade melhor e mais justa.

Esse posicionamento, que beira o utópico, fez com que milhares de pessoas lotassem a concha acústica da Uerj na noite da quinta-feira, 27 de agosto. Isso sem contar as outras tantas que estavam num dos estacionamentos da Universidade assistindo à fala do uruguaio por um telão.





Gente teimosa como ele (e como eu) que acredita que tudo pode ser melhor; que crê que a democracia vai ser sempre a melhor maneira de governar para todos; que não desiste de sonhos.

Hoje, na Internet, algumas de suas frases foram repetidas quase como mantras, como se grandes pensamentos fossem.

“ A liberdade não se vende, a liberdade se ganha, e se ganha fazendo alguma coisa pelos demais. Isso se chama solidariedade (...) Sem solidariedade, não há civilização.”

“Não podemos querer o desenvolvimento com dor, com angústia. Queremos o desenvolvimento com felicidade para todos.”

“Não há homem insubstituível, há causas insubstituíveis. E essas causas precisam de defesa coletiva e organizada de homens. Nós seres humanos somos gregários, necessitamos de ferramenta coletiva para modificar a realidade.”

“Para deixarmos de ser frágeis, não há outro caminho do que nos juntarmos com nossos iguais.”

Na verdade, não o são. São, sim, reflexões de um homem que muito já viveu e que passou 14 anos de sua vida preso por ter lutado por seus ideais. Ideais que estão dentro de mim, de você (provavelmente) e dentro das milhares de pessoas que foram até a Uerj.

Pepe Mujica, aos 80 anos, nos fala ao coração porque nos faz sonhar. Ou melhor, porque nos faz voltar a acreditar em sonhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário