Mesmo que muitas vidas eu já tivesse
vivido (e, quem sabe, já não as vivi), não seriam elas suficientes
para entender o que acontece nessas plagas abaixo da Linha do
Equador. É tudo tão sem sentido que a frase dita por Tom Jobim,
décadas atrás, ganha status de dogma: "O Brasil não é para
principiantes".
Vejam bem, caros amigos e amigas, ao
decidir se candidatar para a Copa de 2014, o Brasil sabia que teria
que abrir os cofres e garantir burras de dinheiro para a construção
e/ou reforma de estádios "Padrão FIFA". Era essa a regra
do jogo imposta pela vetusta entidade.
Isso, no entanto, não incomodou muito
as autoridades locais. Estádios virariam arenas modernas, coisa de
primeiro mundo e, o melhor (para muitos) seria preciso fazer obras,
muitas obras. Obras que acarretariam desde empregos até grandes
dividendos políticos. Portanto, fez-se ouvidos moucos quando
protestaram contra o número excessivo de locais de competição ou
quando se contestou os "elefantes brancos" do Amazonas e de
Mato Grosso, estados sem qualquer relevância no cenário
futebolístico tupiniquim.
O Brasil havia de mostrar que podia
sediar um grande evento esportivo mundial de forma muito mais
impressionante do que em 1950, quando já se tinha construído o
maior estádio do mundo, também popularmente conhecido como
Maracanã. Para isso, não bastavam apenas estádios, mas, também,
grandes obras de infra-estrutura nas cidades-sede, os tais legados da
Copa.
O que se viu durante o Mundial, dentro
de campo (7x1) e fora dele, foi que a coisa desandou. Se os estádios
ficaram prontos a tempo e cumpriram seu papel de acordo com a
cartilha dos indiciados por corrupção Joseph Blatter e Jérôme
Valcke, os tais legados ficaram largados.
São vários os exemplos: os VLTs de
Goiânia e de Fortaleza, o monotrilho de São Paulo, terminais de BRT
no Recife ainda fechados um terminal do Aeroporto de Fortaleza
servindo apenas para voos do mosquito da Dengue. E há muito mais.
Para piorar, nem o legado esportivo
compensou.
Vejamos alguns números que confirmam
as previsões que qualquer paranormal picareta poderia ter feito
quando foram anunciados quantos novos estádios teríamos.
Arena Manaus: só 13 partidas
realizadas durante todo o ano de 2015. Prejuízo estimado em 7
milhões de reais.
Arena Pantanal: 41 partidas disputadas
em um ano de funcionamento. Público total de cerca de 360 mil
pagantes. Bem menos do que a população de Cuiabá (550 mil).
Estádio Mané Garrincha, Brasília: 14
partidas disputadas em 2015. Da inauguração até hoje não passaram
de 100 jogos. Número só engrandecido pelas eventuais partidas
disputadas por times de outros estados na Capital Federal.
Mas, até isso, está prestes a acabar.
Pasmem, meus caros. Por conta da briga
entre torcedores do Flamengo e do Palmeiras, no último final de
semana, o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva
decretou, hoje (08/06/2016) que o estádio está interditado para
partidas de futebol. Ou seja, um estádio construído para a Copa
não pode mais ter a bola rolando em suas milionárias instalações
por conta da estupidez de bandos de dementes que se dizem torcedores.
Vejam um trecho da decisão de Sua
Excelência Caio César Rocha:
"Outrossim, o periculum in mora
resta demonstrado, pois parece-me que, ao menos neste juízo
perfunctório, o Estádio Mané Garrincha não reúne condições
para receber partidas com a devida segurança, até que sejam
apresentadas soluções que garantam a completa segurança no
estádio, seja em relação à própria infraestrutura da arena, seja
em relação à elaboração de protocolos de segurança específicos
para tal estádio."
É como se para evitar o grande número
de mortes pele violência no trânsito interditássemos as ruas e
estradas brasileiras.
No entanto, num país de situações
tão estapafúrdias como o nosso, a decisão pode não desagradar a
todos. Já deve ter autoridade pensando em fazer novas obras no
estádio para "garantir a segurança dos torcedores". O que
significaria uma gorda licitação e, quem sabe, até uma
comissãozinha básica.
É...
Não tá nada tranquilo.
Não tá nada favorável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário