sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Enquanto o bonde não vem (se é que vem...)

Só fui decobrir o charme do bairro de Santa Teresa nos tempos da faculdade. Uns amigos decidiram fazer um vídeo sobre o bairro com o título de "Por lá não se passa". Me encantei com suas ladeiras e com o casario.
Passei a frequentar o local. Havia muitos barzinhos, a noite era animada e, ainda por cima, tinha a vantagem de subir de bondinho (no estribo, é claro).
De uns tempos pra cá passei a adotar Santa Teresa como caminho, já que trabalho na Lapa e moro no Cosme Velho. Apesar das ruas estreitas, são cerca de 15 minutos do trabalho até em casa. Menos da metade do tempo que levo quando vou via Largo do Machado.
Porém, há um ano, os bondes deixaram de fazer parte da paisagem do bairro. O motivo foi o acidente com um dos bondinhos, no dia 27 de agosto de 2011, quando 6 pessoas morreram e 50 ficaram feridas.
A tragédia era mais do que anunciada por conta da precariedade do serviço e de anos de descaso com uma das mais charmosas atrações turísticas de nossa cidade.
Um inquérito apontou seis funcionários como culpados, inclusive o motorneiro que conduzia o bonde acidentado e que morreu no local. Nenhuma autoridade, até agora, recebeu qualquer punição.
O Governo do Estado prometeu reativar o serviço, mas isso não deve acontecer antes de 2014 (aliás, tudo nessa cidade está marcado pra 2014 ou 2016).
Os bondes serão fechados com grades, terão estribos retráteis e um corredor interno entre os bancos. Só a "casca" permanecerá igual.



Enquanto os bondes não voltam, os moradores do Rio lamentam.


Noutro dia saí om a máquina em punho e tirei umas fotos que mostram como a presença dos bondes ainda está marcada no bairro e em seus moradores.



Ao lado do local do acidente, o apelo pela volta dos bondinhos.


No local foi plantada uma muda de Pau-Brasil e colocada uma placa de protesto contra o descaso das autoridades. 




 O motorneiro que conduzia o bonde que se acidentou, Nelson Correia da Silva, foi homenageado em uma das estações e em um painel no Largo dos Guimarães.


Enquanto o Governo não consegue colocar o bonde de novo nos trilhos (ou seria melhor a ordem inversa da frase?), eles continuarão desertos,

 

o desejo de ver o bondinho passar de novo pelo alto dos Arcos da Lapa continuará reprimido


e a sinalização às margens dos trilhos continuará a ser uma inútil paisagem.




2 comentários:

  1. Rafael, toda homenagem ao bairro é bem-vinda. Recebo suas fotos como homenagem ao bairro também. Mas o governo acaba de anunciar, do nada, que a mesma empresa que havia feito a reforma de três bondes (depois de contratada para fazer de seis)ganhou a licitação para fazer os NOVOS bondes. Ora, tudo na surdina. Já haviam contratado uma empresa de Lisboa, a Carris, que explora os bondes com interesse turístico na Cidade Baixaa, para fazer os tais "novos bondes". A comunidade os rejeita. Quer que sejam todos abertos, a serviço do bairro, e não máquinas de produzir dinheiro para algum empreiteiro esperto desses que estão comprando a cidade a preço de banana, no grande leilão feito à revelia da sociedade.
    Romildo Guerrante

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  2. Que sensacional esse texto...Como é lindo e como é triste...Lindo, Casé! Lindo!

    E o que ficou nisso tudo foi seu Nelson, coitado, tão dedicado, acabou morto pelo seu próprio amor descuidado...Não por ele, mas pelas "otoridades" sempre impunes.

    Um beijo

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