sexta-feira, 20 de junho de 2014

CANELADA

Hoje eu preferia ser um sósia de mim mesmo, preferia ser um homônimo, não ser eu. Mas, enfim, fiz um erro tolo.

O bem-humorado mea-culpa do experiente jornalista Mário Sérgio Conti, tenta colocar um ponto final na maior bola fora midiática desta Copa, pelo menos até agora.


Colunista da Folha e de O Globo, Conti, que também apresenta o programa “Diálogos”, na GloboNews, escreveu um artigo no qual relatava uma “exclusiva” com Luís Felipe Scolari, técnico da Seleção Brasileira de Futebol, durante um voo da Ponte Aérea entre Rio e São Paulo no qual também estaria Neymar.




O problema é que um “pequeno” detalhe estragou o que seria uma feliz oportunidade jornalística: o Felipão não era o Felipão, era, sim, um sósia. Seu nome, Wladimir Palomo. (O Neymar, presente, também era um sósia).




Ao constatarem a “Barriga” (ou seria melhor dizer a “canelada”?), Globo e Folha trataram de tirar o texto do ar. Só que, graças a alguns macetes da Internet, ontem, ainda consegui resgatá-lo na íntegra, abaixo:

SÃO PAULO - Neymar e Luiz Felipe Scolari foram os últimos passageiros a embarcar no avião, às 17h30 de ontem. Como o voo da ponte-aérea, do Rio para São Paulo, estava lotado, ambos se espremeram em poltronas entre passageiros, Felipão na 25E e Neymar na fileira da frente.
- Vê se dorme, moleque - disse o técnico ao jogador. Neymar desligou o celular, mas não dormiu, apesar de apenas um passageiro ter-lhe pedido um selfie durante o voo. Tampouco Felipão pregou o olho. Um tanto apreensivo com o céu carregado, ele respondeu de bom grado tudo que lhe foi perguntado.
- “Acho que, até agora, os melhores times foram a Holanda e a Alemanha - disse.
- Eles vão dar trabalho. A Itália também. Ela sempre chega às semifinais. É como o Brasil: tem tradição, empenho, torcida.
O zero a zero com o México não o abalou:
- Pode ter sido até positivo, na medida em que jogou um pouco de água fria no oba-oba, na ideia de que é fácil ganhar uma Copa.
Num campeonato de nível tão alto, ele acha imprevisível fazer prognósticos.
- Quem diria que a Espanha sairia da Copa logo de cara? - indagou.
O mesmo raciocínio ele aplica à seleção sob a sua responsabilidade.
- O Oscar fez uma excelente partida na estreia, mas não foi bem no segundo jogo - disse, mastigando um salgado de gosto insosso.
- O Neymar foi bem, mas não teve a genialidade da partida anterior. São coisas que acontecem. E quem esperaria que o goleiro mexicano defendesse todas? - indagou.
Felipão concordou com o raciocínio que Neymar parece mais centrado, não se joga tanto no chão ou faz demasiado teatro:
- É verdade, ele está mais objetivo. Mas pode melhorar ainda mais. Não dá para apressar muito esse processo: ele é muito moço, tem que aprender as coisas na prática.

ELOGIOS A NEYMAR

Mas não tem dúvidas:
- Se tivéssemos três como ele, a Copa seria uma tranquilidade.
O avião deu solavancos e o técnico comentou:
- Isso sim é que é um especialista, repare como o piloto conduz o avião com mão firme, fazendo mil coisas ao mesmo tempo.
O que seria mais difícil: pilotar um avião ou a seleção nacional?
- Não tem comparação, avião é muito mais difícil. O piloto lida com vidas humanas, é responsável por elas. Se a seleção perder, será muito triste para o Brasil, para os jogadores, a minha família e eu. Mas ninguém corre risco de morte.
Felipão se disse satisfeito com o ambiente geral da Copa. Não esperava que tantos mexicanos e chilenos viessem, nem que as torcidas se confraternizassem.
- Até os argentinos estão se dando bem com os brasileiros. Pelo menos até agora.

TÉCNICO APROVA AEROPORTOS

Felipão também disse que os estádios são bons e a organização dos jogos funciona.
- E te digo: tive dúvidas, mas os aeroportos onde estive até agora estão uma maravilha.
Contou que ninguém do governo o procurou, em momento algum. E ouviu com agrado o relato de meu encontro recente com um ministro, seu fã atilado.
- Pelo que ouço dizer, o governo está torcendo pela seleção, e a oposição nem tanto. Acho uma bobagem misturar futebol e política. Eu mantenho essa separação custe o que custar, não dou uma palavra sobre política.
Os xingamentos a Dilma no jogo de abertura, portanto, não lhe dizem respeito.
Perguntado se lia comentários de especialistas nos jornais, ou ouvia o que diziam na televisão, Scolari sorriu:
- Até papagaio fala.
Ao ouvir os nomes de alguns, ex-jogadores e ex-técnicos, repetiu, divertido:
- Papagaio fala!
Felipão terminou de tomar a caixinha de suco de laranja e se se explicou melhor:
- Os comentários são necessariamente frios, distantes. A experiência de jogar no Maracanã lotado, de cobrar um pênalti, de ouvir vaias, são coisas que mexem com o jogador, com o indivíduo. Não é questão de aplicar uma receita.
Para o treinador, as variáveis envolvidas numa partida são inúmeras, não é possível reduzí-las ou quantificá-las.
Deu como exemplo a seleção da Alemanha:
- Ela está na Bahia, no sol, entre mulatas lindas. Claro que isso os influencia.
Felipão riu de novo:
- Desconfio que alguns deles nem voltarão para a Alemanha.

ZAGA, O PRINCIPAL PROBLEMA

Se não acompanha os comentaristas da imprensa, ele está ciente de dificuldades táticas e de entrosamento na seleção.
- O principal problema é a zaga. Ela cai para o lado, quando deveria ir em frente, buscar o jogo lá na frente.
O que mais o irritou até agora foram os boatos, divulgados pela imprensa europeia, que o Brasil já ganhou a Copa, já que a Fifa teria orientado juízes a facilitarem a vida da seleção.
- Mais que um absurdo, é um desrespeito. Você imagina comprar a Itália, a Alemanha? Isso não existe.
O avião sobrevoava São Paulo, coberta por nuvens.
- É como descer a serra de Santos com um nevoeiro fechado, sem enxergar nada. Esse comandante sabe tudo.
Neymar e o técnico tinham participado da gravação do programa “Zorra Total”, no Projac, o estúdio da Globo em Jacarepaguá.
- Não gosto de passar muito tempo longe de São Paulo: veja que cidade interessante - apontou o treinador.
Felipão estava curioso em saber como seu filho se saíra numa prova naquele dia. Ele estuda Economia nas Faculdades São Judas Tadeu, e pegara uma recuperação.
- Mas o garoto vai bem, é estudioso.
Perguntei se toparia dar uma entrevista ao programa “Diálogos”, da GloboNews.
- Claro, vamos lá. Só que ando meio ocupado... - disse, rindo.
Pegou sua carteira, tirou um cartão de visitas e me entregou, afirmando:
- Mas isso pode te ajudar por enquanto.
O cartão de visitas dizia:
Vladimir Palomo – Sósia de Felipão – Eventos”.
Depois das gargalhadas, apertou a mão e disse:
- Deus te proteja.”


O mais curioso de tudo é, justamente, o conteúdo das últimas linhas da entrevista, quando o sósia se identifica. Nem assim a ficha do jornalista cai. Numa entrevista ao jornal O Globo, ele tentou explicar algo tão inexplicável:

Conti afirma que achou que Felipão havia feito uma brincadeira depois de se recusar a participar do seu programa na GloboNews dizendo estar muito ocupado durante a Copa.

- Achei que era o Scolari, tive certeza de que era ele. Eu estava lá esperando o voo, ele entrou, sentou-se ao meu lado. Eu fui perguntando e o cara respondendo.”

O jornalista disse que logo que alguém o alertou de que Felipão se encontrava em Fortaleza e que, portanto, não poderia ter dado aquela entrevista, começou a “apagar o incêndio”. E, sobre isso, mais uma curiosidade, as duas notas de desculpas dos dois jornais são exatamente iguais.




Mário Sérgio Conti afirmou que nunca tinha estado com Scolari e que sequer já havia visto uma entrevista dele pela TV. Algo realmente impressionante para quem vive no Brasil e para quem conseguiu desenvolver uma entrevista com tantos detalhes sobre a situação de nossa seleção no Mundial.

Tentando manter o bom humor e minimizando o fato, declarou:

Realmente foi um erro tolo. Agi de boa fé. Percebi o erro e corrigimos, deu para corrigir. Não prejudiquei ninguém, a não ser eu mesmo... Perdão pela confusão. Felizmente, ela não prejudica ninguém. Não afetará a Bolsa, a Copa ou as eleições.”

Com toda certeza a canelada jornalística contundiu apenas seu próprio autor. Não sei, nem mesmo, se ele chegou a levar um cartão amarelo pelo lance. Mas, com toda certeza, se o jornalista responsável pelo texto fosse menos cotado; se não fosse um dos “craques” do time, fatalmente teria recebido um cartão vermelho, sem direito a qualquer tipo de apelação.
Alguém duvida?
 

2 comentários:

  1. Conti mostra arrogância, sim, sobretudo ao declarar em entrevista ao Zero Hora, que "Sequer vi entrevistas dele na televisão; só nas partidas, ao lado do campo. Achei todas as respostas dele sensatas." Boa reflexão, Casé.

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