O choro é livre!
Nas entrevistas que tenho visto de
atletas, comissões técnicas e dirigentes durante esta Copa do Mundo,
bom senso é um artigo em falta.
E com a severa punição ao atacante
uruguaio Luis Suárez (4 meses de suspensão de qualquer atividade
ligada ao futebol), a tendência é de que a grita seja ainda maior.
Comecemos, então, pelo capitão da Celeste,
Lugano, convocado para enfrentar a mídia na coletiva do dia seguinte
à mordida de Suárez no italiano Chiellini, se negou a admitir o fato
(não sei se por desinformação ou desfaçatez) e ainda saiu dando
botinadas em jornalistas e adversários.
Sobre o italiano agredido disse:
“Si salió llorando y
alcahueteando así del campo de un compañero de trabajo, como hombre
no alcanza los puntos que tiene como jugador. Si lo dijo, es tremendo
alcahuete, mala gente y llorón".
Deixo a declaração propositalmente em espanhol para
que não haja dúvidas sobre a força das palavras. Em resumo, chamou
Chiellini de dedo-duro, chorão e mau caráter.

Um jornalista inglês também levou um
sopapo verbal do capitão. Lugano se recusou a responder à pergunta
em inglês, embora jogue na Grã-Bretanha e quando o mesmo jornalista refez
o questionamento em espanhol, partiu para uma saraivada de palavras agressivas:
“Sei que a mídia britânica
têm perseguição com o Suárez. Jogamos contra a Itália e vamos
jogar contra a Colômbia. O que faz um jornalista inglês cobrindo
nossa seleção?"
Não satisfeito, o antes equilibrado
Lugano ainda soltou farpas que sugerem um suposto favorecimento ao
Brasil, como no caso primeira partida contra a Croácia, quando
Neymar, deliberadamente jogou o braço na cara de Modric e foi punido
apenas com um cartão amarelo.
“Não sei se vocês,
jornalistas, querem fazer justiça ou tirar alguma vantagem. O lance
do Brasil eu nunca mais ouvi falar, com o cara da Croácia. Parece
que só querem apontar para um jogador e uma seleção"
Em relação ao lance e ao pênalti mal marcado contra seu time, o
treinador Croata, Niko Kovac, também pegou pesado:
"Não tem nada a ver com esse árbitro em especial, tem a
ver com jogar aqui no Brasil, o Brasil ser o grande favorito para ser
campeão. As regras valem para os dois lados. O slogan da Fifa é
‘respeito', então, que haja respeito para as duas equipes, se
continuarmos assim, vamos ter um circo."
Em relação ao pênalti, a queixa é mais do que justificável, mas
em relação ao lance do Neymar, nem tanto. Ele poderia ter sido
expulso? Sim, poderia. O cartão vermelho seria dado mais pela
intenção do que pelo resultado do lance. Mas, no calor da partida,
o árbitro avaliar a intenção de um lance de jogo é realmente
complicado.
Acho que nos dois casos, tanto no de Neymar quanto no de Fred, a
mídia brasileira se saiu muito bem. Não partiu para patriotadas e
mostrou, como não poderia deixar de ser, que realmente a atuação
do juiz acabou nos sendo favorável. Mas daí a isso fazer parte de
uma estratégia voltada a garantir o título para o país sede, fica
difícil para alguém acreditar (a não ser, provavelmente, o Rodrigo
Constantino, da Veja).
Infelizmente a postura do atacante/ator e da Comissão técnica não
foi tão sensata. Entre não comentar o caso e defender com unhas e
dente o indefensável, Fred e Felipão preferiram a segunda hipótese
e deram uma tremenda bola fora.
Assim como o presidente da Federação Uruguaia que declarou que não
havia provas de que Luis Suárez tivesse, realmente mordido o
italiano.
Mas como dizia lá em cima, as desculpas para erros, maus
desempenhos e eliminações têm sido jogadas aos ventos cálidos e tropicais para
quem as queira ouvir e, quem sabe, aceitar.
O italiano Marchisio disse que o calor de Manaus lhe provocou
alucinações.
Revoltado com o fato de que ter que trabalhar e ver seleções
europeias jogarem nos trópicos, também se mostrou o jornalista
Julián Ruiz, do jornal espanhol El Mundo.
“España, Inglaterra, Portugal
etc. están ya fuera con sólo dos partidos. Es un ejemplo grotesco.
Por ejemplo, casi gana Estados Unidos, con un liga de risa. Como la
de Costa Rica, la de Irán , la de Ghana, la de tantos mindundis con
selecciones que corren más, porque están menos cansados o están
acostumbradas a estas situaciones meteorológicas. El caso de
Portugal es típico de lo que le ocurrió a Alemania el otro día o
el horror de Bélgica.”
Sou só eu , ou alguém sente na gritaria uma indignação
"primeiromundista" contra o fato de ter que se submeter a outras
condições de temperatura e pressão que não as suas? A revolta no
discurso do tal periodista me parece ser traduzido da seguinte forma: “Como nós,
verdadeiros e dignos representantes do futebol mundial podemos nos
submeter a competir nessas condições. Eles que se adaptem a nós e
não o contrário. Futebol que importa, só acima da Linha do Equador
e, mesmo assim, com exceções”. Mentalidade de colonizador...
Outros esperneios virão por aí. Isso é típico no futebol, um
esporte jogado e apitado por seres humanos e imprevisível
como eles.
O “choro” do momento é em relação a Luis “Mordedor”
Suárez.
Li, há pouco, enviado pela amiga Pamella Lima, um tweet do
radialista uruguaio Orlando Peletinatti, no qual ele dizia, em
tradução livre:
“A FIFA acaba de determinar que
Suarez matou J.F.Kenedy, derroubou as Torres Gêmeas e é o único
culpadpo pelo Aquecimento Global”
Houve exagero da mídia? Foi ela a responsável pela duríssima
punição? Ou a atitude reincidente do jogador uruguaio era, mesmo,
indesculpável?
Lembro que o mesmo jogador havia sido endeusado pela imprensa
esportiva dias atrás quando fizera os dois gols da vitória sobre a
Inglaterra, após uma heroica recuperação de uma cirurgia no joelho.
É certo que a FIFA aproveitou o momento em que os holofotes estavam
todos ligados em sua direção para defender o Fair Play com unhas e
dentes.
Pena, no entanto, que tanto rigor ético não seja aplicado em outras
questões relacionadas aos milionários interesses de Blatter e cia.
Postado por Rafael Souza, no FB: " Eu acredito que a punição de nove meses foi correta e justa. Já é a terceira vez que o Suárez faz isso, quem sabe uma punição como essa faça ele "tomar jeito" finalmente, embora o problema dele seja aparentemente psicológico. Agora, banir por quatro meses do futebol achei demais, muito rigoroso. Parece que ele quebrou a perna do Chiellini. É por isso que considero que a mídia teve alguma influência nessa decisão, tem muitos jornais ingleses que "odeiam" o Suárez, por exemplo. Chegaram a fazer campanhas para que ele fosse banido do futebol para sempre até, patético. Abs."
ResponderExcluirTantas coisas a dizer sobre a classificação do Uruguay às oitavas de final e terei que focar no Suarez. Escreveria sobre o maestro Óscar Tabárez e o belo trabalho - dentro e fora de campo - à frente da Celeste desde 2006. Sobre o desempenho de José Gimenez e a temporada memorável de Godin. Falaria também das atuações de Arévalo “el cacha” e do “palito” Álvaro Pereira, mas não querem saber. O Futebol perdeu para a polêmica. O descontrole midiático sobre a mordida de “luisito” em Chiellini ganhou dimensões exageradas. Eu só gostaria de ter visto mais parcimônia.
ResponderExcluirA mordida como atitude antidesportiva é cabível de punição, entretanto, sem falso moralismo, vou execrar o atacante por sua infração. Não sei o que se passou em la cancha. Luis Suarez errou, mas não cometeu um crime. Prevaleceu o lado menino (por isso gosto de chamá-lo de luisito), imaturo, inconsequente e impulsivo do jogador.
A história não se apaga, tão pouco a hipocrisia perdoa. Como disse David Butter no blog Chuteira Preta, “ao circo, a ética do circo”. A punição concedida ao saltenho é exagerada, humilhante e intencional. Por que será? Não serei leviana com suspeitas, mas cabe um convite a reflexão.
Luis Suarez teve que deixar a concentração em Natal sob escolta policial (oi?!!!) e desfalca a seleção uruguaia de futebol por nove jogos e o futebol mundial por quatro meses. Uma perda para fãs do seu talento e para as redes de futebol, que ficarão mais vazias sem ele.
O episódio deve fortalecer o atacante que já superou muitas coisas na vida. A sua permanência no futebol é a maior de sua vitória. Após o gancho de dez partidas, Suárez deu a volta por cima, foi disciplinarmente exemplar e bateu recordes positivos na última Premier League. Luis Suarez é grande e torço para que volte ainda maior.
No confronto contra a Colômbia, o episódio uniu ainda mais o grupo. É uma cilada pensar que o mundo inteiro está contra o Uruguay. Sem querer (ou não) este não será apenas um jogo de Copa do Mundo e eu testemunharei tudo em pleno Maracanã.