"A Elisa saiu
ontem e está abalada com a truculência da mídia. A imprensa veio
como cão raivoso e me amassaram no carro. Eu falo e repito: deixem
minha filha em paz", pediu Rose Quadros. "Ela é um ser
humano".

A frase acima foi
pronunciada pela mãe da cineasta/manifestante/ativista Elisa
Quadros, a “Sininho”, como costumam se referir a ela os meios de
comunicação do País. A declaração, por sinal, aconteceu dentro
da sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, um dia após
a libertação de 3 pessoas que estavam detidas no complexo
penitenciário de Bangu, acusadas de envolvimento numa suposta
“Operação Junho Negro” e que teria o objetivo de causar
desordem durante a Copa do Mundo. Um dia após, também, da agressão
a jornalistas que cobriam a libertação.(Não vou entrar no mérito
da realização dessa reunião, convocada pela própria direção do
Sindicato, isso mereceria um post inteiro).
As palavras da mãe de
Sininho fizeram o sino que existe dentro de minha cabeça tilintar
também. Até pouco menos de um ano, ninguém jamais havia ouvido
falar dessa jovem gaúcha, criada no estado do Rio. Mas, de lá pra
cá, a "temível" Sininho ganhou uma dimensão impressionante no
panorama político-social brasileiro. Fiquei a pensar no porquê
dessa ascensão meteórica; no que fez dela um ícone. Com o aval de
quem, teria se transformado numa suposta representante-mór dos jovens
manifestantes? Por que passou a ser apontada como a face descoberta dos mascarados
Black Blocs?
Numa pesquisa na
Internet descobri que outras pessoas também estavam se questionando
sobre isso. E algumas delas, como eu, acreditam as pergunta acima têm a mídia como resposta. Jornais, revistas,
sites e TVs teriam uma grande responsabilidade no manuseio do
barro do qual foi moldada essa “criatura”.
No artigo “Sininho
n’O Globo, ou, como construir um inimigo público”, na Revista
virtual Pittacos
(http://revistapittacos.org/2014/07/23/sininho-no-globo-ou-como-construir-um-inimigo-publico/),
Sergio Martins faz uma cronologia das aparições da jovem no jornal.
O texto, que pode ser lido no link acima não reflete, em sua
íntegra, a minha opinião. O utilizo, aqui, apenas para pinçar
passagens das aparições de Elisa Quadros no jornal citado:
“...A primeira
aparição de Sininho nas páginas do jornal foi na famigerada capa
dos '70 vândalos', de 17 de outubro 2013, a mesma que rendeu do
editor-executivo Pedro Dória elogios à equipe por 'revelar
personagens'. Lá ela era 'Sininho do barulho'.”... “O começo da
construção do personagem é mais espaçado. Em 25 de outubro, o
jornal fotografa Sininho falando para professores em greve... Com a
morte do cinegrafista Santiago Andrade, o tom das matérias se
inflama. No dia 13, Sininho aparece num box de 'perfis', dentro de
uma série de reportagens intitulada “Ataque à Liberdade de
Expressão”, na companhia de Jonas Tadeu e Fábio Raposo. O
'perfil', escrito por Elenilce Bottari, vem com o título: 'Com nome
de fada, mas fama de encrenqueira' – uma reedição do 'Sininho do
barulho'.”... “Sininho aparece novamente numa matéria de 16 de
abril sobre – mais uma vez – um protesto que terminou em 'baderna'. Mais precisamente: 'O protesto, que começou pacífico
e contou com a presença de ativistas como Elisa Quadros, a Sininho,
virou uma verdadeira baderna à tarde'...”
Capa citada por Sergio Martins.
No site do
Observatório da Imprensa, o artigo “A mídia vai criar um mito”,
da jornalista Ligia Martins de Almeida, também aborda esta questão
da criação da personagem midiática.
(http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_a_midia_vai_criar_um_mito)
“...Os jornais
e revistas estão felizes. Conseguiram dar uma cara aos black blocs,
culpados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade. E, para alegria
dos pauteiros sensacionalistas, a cara dos black blocs é uma morena
miúda, bonitinha, de cabelos curtos que, como se não bastasse,
ganhou dos colegas de confusão o apelido de Sininho. Se a cara dos
black blocs fosse a de um dos mascarados, o apelo seria bem menor. A
verdade é que, até agora, as imagens de TV ou fotos de revistas e
jornais não tinham dado destaque às mulheres entre os mascarados.
Naquela multidão usando bonés e máscaras, a cara limpa de Sininho
faz a alegria dos fotógrafos...”
A até então
desconhecida personagem ganhou uma reportagem de
capa da revista Veja, em fevereiro deste ano.
Na matéria “Os
segredos de Sininho”, há trechos acusatórios, como os seguintes:
“...Três
personagens foram fundamentais para revelar a face mais sinistra dos
black blocs: Fábio Raposo, o Fox, que carregou o rojão que atingiu
o cinegrafista; Caio Silva de Souza, o Dik, que levou o artefato até
perto da vítima; e Elisa Quadros, a Sininho, militante ativista (a
definição é dela) que surgiu do nada para oferecer ‘assessoria
jurídica’ aos dois acusados e não parou mais de aparecer.”...
“Sininho posta vídeos com frequência, às vezes com o
exc-namorado conhecido como Game Over. Articulada, gosta de mandar –
em passeatas é vista apontando a direção a ser tomada pelos
mascarados...”
“
A revista também foi
criticada por ter feito uma montagem na imagem da foto de abertura
com Elisa passando em frente a um grupo de manifestantes. Uma
“photoshopada” básica, com fortes indícios de manipulação
editorial.
O texto completo da
matéria pode ser lido aqui:
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx
Avessa às entrevistas
(alega que sempre terá suas falas manipuladas), na ocasião do caso
Santiago (cinegrafista da Band morto ao ser atingido por um rojão
disparado por manifestantes), Sininho se utilizou de um vídeo
veiculado pelo jornal Nova Democracia para responder às acusações
de envolvimento com o caso.
(https://www.youtube.com/watch?v=VO5-s7Fzmlo)
Numa oitava abaixo à
da Veja, o jornal Zero Hora, de Porto Alegre traçou um perfil de
Elisa. Ouviu pessoas que a conheciam e tentou traçar sua trajetória
pregressa, coisa que nenhum meio de comunicação tinha feito, até
então, de maneira satisfatória. Mesmo assim, no texto, há
afirmações bastante vagas sobre a jovem e, jornalisticamente,
bastante questionáveis.
(http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/02/quem-e-sininho-a-ativista-que-virou-personagem-nos-protestos-dos-black-bloc-do-rio-4419794.html)
A grande exposição
tornou Sininho figura pública e, por isso mesmo, sujeita às mais
variadas interpretações de seu comportamento. Nas redes sociais é aclamada e apedrejada.
No texto publicado na
comunidade Mães de Maio, no Facebook, uma manifestação de total solidariedade à jovem.(https://www.facebook.com/maes.demaio/posts/490651784403860):
“Vejo o rosto
bonito de Sininho. Tão jovem, poderia ser minha filha. Vasculhada,
espionada, perseguida, encarcerada arbitrariamente e, mesmo assim,
não conseguem encontrar um mísero indício de que ela tenha
cometido qualquer ato que vagamente se assemelhe a um crime... E nada, nada que demonstre que ela fez qualquer coisa além
do que eu e tantos outros fazemos todos os dias: ativismo político.”
Ainda na Rede, Sininho virou “garota da capa” da fictícia
revista Playblock, montagem publicada no blog ex-Casseta Hélio de
La Peña. (http://www.casseta.com.br/lapena/)
Mas, também houve quem avacalhasse o estardalhaço da imprensa em relação às acusações contra a jovem.
Não bastassem os fatos
já citados aqui, há poucos dias Elisa voltou às manchetes. Havia
sido presa por suspeita de envolvimento na tal “Operação Junho
Negro”.
O novo tumulto e a
agressão a jornalistas após sua libertação acoplaram
seu nome, mais uma vez, à baderna, à violência e ao vandalismo.
Na tal surpreendente reunião no Sindicato, casa dos jornalistas, Elisa levantou a voz e de dedo em riste, disse nunca ter agredido jornalistas.
Na tal surpreendente reunião no Sindicato, casa dos jornalistas, Elisa levantou a voz e de dedo em riste, disse nunca ter agredido jornalistas.
“Eu nunca fui
agressiva com nenhum jornalista"..."Ao contrário, já me
botei na frente de vários aqui.” … “Sinceramente, a culpa não
é do profissional e a gente sabe disso. Estou aqui por consideração
e agradecimento por todos que lutaram por nossa liberdade e por
respeito a este sindicato.”
A memória seletiva de Elisa só não permitiu que ela se lembrasse de quando chamou de "carniceiros"
os jornalistas que estavam reunidos numa delegacia alguns dias depois
da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade. Veja o vídeo.
https://www.youtube.com/watch?v=5KORQoASUfs
Além disso as palavras de ordem entoadas na reunião por Sininho e outros manifestantes, com os punhos cerrados (Presos políticos! Liberdade já! Lutar não é crime! Vocês vão nos pagar!) soaram bastante ameaçadoras à categoria.
Na minha opinião, não
há dúvidas de que Elisa Quadros, a “Sininho”, foi catapultada
pela mídia para ser a face dos Black Blocs, mas essa convicção me
leva a outras questões:
Será que a própria Elisa não passou a se aproveitar desse papel que lhe foi imposto?
Será que está achando
essa superexposição prejudicial, como alega sua mãe, ou a fama lhe cai bem?
Será que está usando o assédio da mídia para justificar sua agressividade?
Será que está usando o assédio da mídia para justificar sua agressividade?
Será que está tentando ser a líder de um movimento que se autoproclamava sem lideranças?
Em gravações autorizadas pela Justiça, ao cogitar um possível exílio na Inglaterra, Elisa chega a se colocar como uma figura de visibilidade internacional...
"...Exílio, querendo ou não, tem um poder político muito forte. Imagina a pessoa ser exilada agora, seria um poder político forte se eu fizesse isso, se tivesse uma boa campanha internacional. Porque essa perseguição que eu estou vivendo não vai acabar. ... Realmente, um país democrático, antes das eleições, uma pessoa que está em foco nacional e internacional se exila. Você acha realmente que isso vai passar super tranquilo? Ah, ‘é como se ela estivesse indo na padaria’? Óbvio que não, isso vai ter um apelo!... Vai ser forte, vai dar para usar isso em nosso favor...".
Em gravações autorizadas pela Justiça, ao cogitar um possível exílio na Inglaterra, Elisa chega a se colocar como uma figura de visibilidade internacional...
"...Exílio, querendo ou não, tem um poder político muito forte. Imagina a pessoa ser exilada agora, seria um poder político forte se eu fizesse isso, se tivesse uma boa campanha internacional. Porque essa perseguição que eu estou vivendo não vai acabar. ... Realmente, um país democrático, antes das eleições, uma pessoa que está em foco nacional e internacional se exila. Você acha realmente que isso vai passar super tranquilo? Ah, ‘é como se ela estivesse indo na padaria’? Óbvio que não, isso vai ter um apelo!... Vai ser forte, vai dar para usar isso em nosso favor...".
Ela pode não ser tudo o que acredita ser, mas alguém duvida que se
Elisa tivesse se candidatado a um cargo eletivo (isso não é mais
possível em 2014) teria sido eleita?
Talvez isso até possa
acontecer em pleitos vindouros. Não seria a primeira vez na história
política do País manifestantes se tornaram parlamentares (Lindbergh Farias é o exemplo mais recente). E vejam:
isso não é uma crítica. Até porque, em uma Democracia, a mudança
deve passar pelos poderes constituídos.
Mas seria até curioso ver alguém que demoniza o esquema vigente participar dele...
Os próximos capítulos
dessa história são difíceis de prever. Vai depender de outros
fatores. Este é um ano de eleições. Vamos ver como se comportam os
grupos de manifestantes. Irão apoiar alguém? Irão contra todos?
Sininho continuará sendo a "musa" black bloc, ou desaparecerá da mídia
em breve (mesmo que não queira)? Aparecerão outras caras para o
movimento? Ou o movimento simplesmente se diluirá?
Vamos ter que esperar
para ver.
E esperar, também, que
a cobertura mídia não se apegue tanto à criação de mitos ou
ícones; mas aí, creio eu, já é esperar demais...