quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A FALTA QUE FAZ A INFORMAÇÃO...

Todos sabem, e os que não sabem passam a saber, que tenho uma forte ligação com o Botafogo. Não se trata apenas de uma paixão de arquibancada (embora ela exista); por contingências da vida acabei escrevendo 5 livros sobre o Glorioso, dois deles com o auxílio luxuoso dos amigos botafoguenses Roberto Falcão e Paulo Marcelo Sampaio.
Porém, apesar deste visgo que me une à estrela solitária, nunca me envolvi com a política do clube. Nem mesmo sócio-proprietário sou. Já até pensei no caso, mas se o fizesse seria tão somente para poder participar das decisões administrativas, já que a parte social da sede de General Severiano pouco oferece em relação a outros clubes da cidade, inclusive os que possuem times de futebol.
Para não dizer que nunca me envolvi com qualquer candidato, pouco antes da primeira eleição de Maurício Assumpção, fui convidado para um papo com ele na casa do falecido e tradicional alvinegro Jim. Me lembro bem que, na época, ressaltei a necessidade de uma parceria maior com a torcida, pois ela é o maior patrimônio do clube. É ela, e acredito nisso até hoje, que pode ajudar a solucionar vários problemas do Botafogo.
A impressão que tive do futuro presidente foi muito boa. E em todas as vezes que estive com ele (não foram muitas) para falar sobre livros que estava lançando, fui sempre muito bem recebido e carinhosamente atendido.
Não pretendo nesta postagem analisar cada passo de sua administração, até porque não tenho os dados suficientes para isso, mas, no meu entender, ele foi muito bem em seu primeiro mandato. O Botafogo passou a ter uma visibilidade maior com algumas contratações e a chegada de Loco Abreu foi uma grande bola dentro. Poucas foram as vozes que protestaram contra sua reeleição.
Apesar da evolução nos gramados, com melhores classificações nos torneios nacionais, a classificação para a Libertadores e a vinda de um craque internacional como Seedorf, o segundo mandato de Maurício começou a fazer água.
Fechamento do Engenhão, problemas fiscais, endividamento galopante, folha salarial atrasada, suspeitas sobre contratos de patrocínio... Um cenário digno dos mais espetaculares filmes de catástrofe de Hollywood.
E o que era pior, total desinformação e uma torcida, no convés de um Titanic, sem saber o que fazer ou no que acreditar...
Conhecem aquele ditado: cabeça vazia, oficina do diabo? Pois é, quando falta informação, qualquer boato ganha dimensão de verdade. Corneteiros viram arautos do caos e oportunistas destilam venenos poderosíssimos (estamos em ano de eleições, não se esqueçam).
Na minha opinião, de todos os pecados que possam ter sido cometidos por Maurício Assumpção, a falta de comunicação com a torcida foi o maior deles.
Não estou escrevendo este texto para simplesmente alardear de que tinha dito a ele o quanto a ligação com a torcida era importante. Não é do meu feitio.
Só queria constatar o quão menos traumática poderia ter sido a relação entre diretoria e torcedores, por pior que fosse a crise.
Até essa terça-feira (05/08) me encontrava extremamente decepcionado com Maurício. Me sentia, como torcedor e como uma pessoa que acreditava em suas intenções, desiludido com suas atitudes. Defendia, mesmo, que ele devia renunciar.


Porém, após a entrevista concedida no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, acho importante que ele se mantenha até o fim do mandato e explico o porquê.
Arguido por jornalistas sérios, que não se omitiram em questioná-lo sobre pontos críticos de sua administração, o presidente se mostrou muito mais seguro do que eu imaginava e deu suas explicações sobre cada item polêmico que foi sendo levantado. Explicou em que passo está a questão do pedido de indenização pela interdição do Engenhão, falou sobre o andamento da construção do CT de Marechal Hermes, detalhou a transação do patrocínio do Guaraviton e a comissão (a meu ver justa) para a agência que tinha trazido a marca para nosso uniforme (empresa de seu pai) e traduziu, do “juridiquês” para o português, a exclusão do Botafogo do ato trabalhista e sua provável inclusão em outros programas de refinanciamento das dívidas.
Ou seja, tudo o que ele já deveria ter dito à torcida sem que houvesse a necessidade de uma sabatina na TV. 

Ok, outros pontos ficaram sem explicação, como por exemplo o contrato de patrocínio da TelexFree. Mas, como torcedor, me senti mais ciente do quadro em que se encontra meu time.
Comentando sobre isso com minha amiga Pamella Lima, ela me disse que não sabia muito bem o que pensar sobre a entrevista. Tinha o pé atrás. Haveria ali um forte trabalho de media training e uma forte dose de falsidade, ou as palavras do presidente tinham sido realmente sinceras.
Acredito que muita gente deva ter ficado com a mesma impressão. A grande lacuna de informações oficiais em conjunção com a pressão da mídia em face da situação de penúria de um clube glorioso como o Botafogo forneceram motivos de sobra para desconfianças.
O silêncio é sempre dúbio: pode ser sinônimo de prudência, mas também de ocultação de fatos.
Daí o título desta postagem...
Mas, antes de fechar esse texto gostaria de deixar claro o porquê da minha convicção de que o presidente deva cumprir seu mandato e passar o cargo ao sucessor. Suas palavras, durante o programa, deixaram clara a dura situação atual, mas também trouxeram a esperança de que haja uma mudança de rumo daqui até o final do ano. Permanecendo no mandato e fazendo com a situação comece a mudar, Maurício estará dirimindo nossas dúvidas sobre a veracidade de suas afirmações.
Que ele esteja certo, que o ano de 2014, que tão bem começou, possa terminar de forma honrosa e que nosso próximo presidente possa ter melhores condições de conduzir nossa estrela

Um comentário:

  1. Por ter sido citada na análise sincera do amigo, sinto-me na obrigação de comentar. Considero acertada a participação do presidente Maurício Assumpção no programa Bola da Vez do canal ESPN Brasil. Qualquer especialista em comunicação com alguma noção de gerenciamento de crise concordaria. Isso é um ponto importante até pelas razões que você levantou no texto, Casé. A massa torcedora, afastada do dia a dia do clube merecia esse retorno.

    Com respeito e cortesia, o presidente do Botafogo não teve vida fácil, mas também não enfrentou um paredão impetuoso. O discurso apresentado mostrou relativa coerência e pareceu ser sincero, mas fica difícil julgar os limites entre emoção e técnica. Talvez, essa não seja a questão mais importante.

    Confesso que a minha irritação foi parcialmente acalmada, mas ela não diminuiu a decepção e críticas à gestão e administração do mandatário e seus diretores executivos (co-responsabilidade). Só para citar os motivos diretos da atual crise, acho lamentáveis as escolhas tomadas. Se o futebol fosse levado a sério no Brasil, muitos estariam com sérios problemas judiciais ou presos.

    Que Deus proteja o Botafogo.

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