terça-feira, 12 de agosto de 2014

A FORÇA DE UM "ANÃO"

A frase é famosa: "O jornal de hoje embrulha o peixe de amanhã."


Traduzindo: o que sai no jornal logo é esquecido, pois outras notícias novas farão com que nos não nos lembremos mais das antigas.
Com certeza era assim, mas depois que os arquivos digitais surgiram, tudo mudou. Não há "peixes digitais" e as edições antigas passaram a estar sempre ao alcance dos leitores.
E isso é muito bom.
Jornalismo sem memória não existe. E essa memória não pode ser seletiva. Deve servir, também para lembrar as falhas da imprensa e as vezes em que ela "carrega demais nas tintas", intencionalmente ou não.
Hoje (12/8), ao pegar o exemplar do Globo, me deparei com a notícia de que o novo presidente de Israel entrara em contato com a presidente Dilma para pedir desculpas pelas declarações de um funcionário da chancelaria israelense. Irônico e acima do tom que se espera de um diplomata, o tal sujeito, chamou o Brasil de "anão diplomático" para minimizar a repercussão do fato de que nosso país havia chamado o embaixador em Tel Aviv para prestar esclarecimentos sobre o quadro do conflito na Faixa de Gaza. A presidente Dilma já tinha criticado o uso desproporcional de força por parte de Israel.
No dia 25 de julho, o assunto tinha sido o principal da primeira página do diário carioca:


Apesar de dar voz a ambos os lados, o conteúdo da cobertura foi extremamente crítico à postura do Itamaraty, não só nesse caso, mas em outras situações da política internacional brasileira. O subtítulo "DIPLOMACIA DE ANÃO" acabou sendo a síntese da postura do Globo.

Hoje, na primeira página, a notícia sobre o pedido de desculpas foi, no entanto, bem menor.


Mas, sejamos justos. Os dois pesos e as duas medidas não foram um privilégio do Globo. O mesmo aconteceu nos dois outros grandes jornais do país: Folha e Estadão.
No Estado de S.Paulo, a manchete do dia do "anão" também foi bem maior do que a notícia da primeira página de hoje.



 A Folha de S.Paulo, foi quem deu um pouquinho mais de espaço, mas mesmo assim, sem o mesmo destaque do dia 25 de julho.







Não importa se a primeira declaração foi feita por alguém sem grande representatividade, o que vale, quase sempre, é a "força" da manchete.
Tudo bem que também há um forte componente político na postura dos jornais nesse caso, afinal estamos em ano de eleição.
Mas esse tipo de cobertura que explora as declarações bombásticas e deixa em segundo plano as informações mais relevantes é recorrente e nas mais diversas editorias.
Ou seja, cada vez mais o "anão" é mais notícia do que um presidente.

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