Todos sabem, e os que não sabem passam
a saber, que tenho uma forte ligação com o Botafogo. Não se trata
apenas de uma paixão de arquibancada (embora ela exista); por
contingências da vida acabei escrevendo 5 livros sobre o Glorioso,
dois deles com o auxílio luxuoso dos amigos botafoguenses Roberto
Falcão e Paulo Marcelo Sampaio.
Porém, apesar deste visgo que me une à
estrela solitária, nunca me envolvi com a política do clube. Nem
mesmo sócio-proprietário sou. Já até pensei no caso, mas se o
fizesse seria tão somente para poder participar das decisões
administrativas, já que a parte social da sede de General Severiano
pouco oferece em relação a outros clubes da cidade, inclusive os
que possuem times de futebol.
Para não dizer que nunca me envolvi
com qualquer candidato, pouco antes da primeira eleição de Maurício
Assumpção, fui convidado para um papo com ele na casa do falecido e
tradicional alvinegro Jim. Me lembro bem que, na época, ressaltei a
necessidade de uma parceria maior com a torcida, pois ela é o maior
patrimônio do clube. É ela, e acredito nisso até hoje, que pode
ajudar a solucionar vários problemas do Botafogo.
A impressão que tive do futuro
presidente foi muito boa. E em todas as vezes que estive com ele (não
foram muitas) para falar sobre livros que estava lançando, fui
sempre muito bem recebido e carinhosamente atendido.
Não pretendo nesta postagem analisar
cada passo de sua administração, até porque não tenho os dados
suficientes para isso, mas, no meu entender, ele foi muito bem em seu
primeiro mandato. O Botafogo passou a ter uma visibilidade maior com
algumas contratações e a chegada de Loco Abreu foi uma grande bola
dentro. Poucas foram as vozes que protestaram contra sua reeleição.
Apesar da evolução nos gramados, com
melhores classificações nos torneios nacionais, a classificação
para a Libertadores e a vinda de um craque internacional como
Seedorf, o segundo mandato de Maurício começou a fazer água.
Fechamento do Engenhão, problemas
fiscais, endividamento galopante, folha salarial atrasada, suspeitas
sobre contratos de patrocínio... Um cenário digno dos mais
espetaculares filmes de catástrofe de Hollywood.
E o que era pior, total desinformação
e uma torcida, no convés de um Titanic, sem saber o que fazer ou no
que acreditar...
Conhecem aquele ditado: cabeça vazia,
oficina do diabo? Pois é, quando falta informação, qualquer boato
ganha dimensão de verdade. Corneteiros viram arautos do caos e
oportunistas destilam venenos poderosíssimos (estamos em ano de
eleições, não se esqueçam).
Na minha opinião, de todos os pecados
que possam ter sido cometidos por Maurício Assumpção, a falta de
comunicação com a torcida foi o maior deles.
Não estou escrevendo este texto para
simplesmente alardear de que tinha dito a ele o quanto a ligação
com a torcida era importante. Não é do meu feitio.
Só queria constatar o quão menos
traumática poderia ter sido a relação entre diretoria e
torcedores, por pior que fosse a crise.
Até essa terça-feira (05/08) me
encontrava extremamente decepcionado com Maurício. Me sentia, como
torcedor e como uma pessoa que acreditava em suas intenções,
desiludido com suas atitudes. Defendia, mesmo, que ele devia
renunciar.
Porém, após a entrevista concedida no
programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, acho importante que ele se
mantenha até o fim do mandato e explico o porquê.
Arguido por jornalistas sérios, que
não se omitiram em questioná-lo sobre pontos críticos de sua
administração, o presidente se mostrou muito mais seguro do que eu
imaginava e deu suas explicações sobre cada item polêmico que foi
sendo levantado. Explicou em que passo está a questão do pedido de
indenização pela interdição do Engenhão, falou sobre o andamento
da construção do CT de Marechal Hermes, detalhou a transação do
patrocínio do Guaraviton e a comissão (a meu ver justa) para a
agência que tinha trazido a marca para nosso uniforme (empresa de
seu pai) e traduziu, do “juridiquês” para o português, a
exclusão do Botafogo do ato trabalhista e sua provável inclusão em
outros programas de refinanciamento das dívidas.
Ou seja, tudo o que ele já deveria ter
dito à torcida sem que houvesse a necessidade de uma sabatina na TV.
Ok, outros pontos ficaram sem
explicação, como por exemplo o contrato de patrocínio da
TelexFree. Mas, como torcedor, me senti mais ciente do quadro em que
se encontra meu time.
Comentando sobre isso com minha amiga
Pamella Lima, ela me disse que não sabia muito bem o que pensar
sobre a entrevista. Tinha o pé atrás. Haveria ali um forte trabalho
de media training e uma forte dose de falsidade,
ou as palavras do presidente tinham sido realmente sinceras.
Acredito que muita gente deva ter
ficado com a mesma impressão. A grande lacuna de informações
oficiais em conjunção com a pressão da mídia em face da situação
de penúria de um clube glorioso como o Botafogo forneceram motivos
de sobra para desconfianças.
O silêncio é sempre dúbio: pode ser
sinônimo de prudência, mas também de ocultação de fatos.
Daí o título desta postagem...
Mas, antes de fechar esse texto
gostaria de deixar claro o porquê da minha convicção de que o
presidente deva cumprir seu mandato e passar o cargo ao sucessor.
Suas palavras, durante o programa, deixaram clara a dura situação
atual, mas também trouxeram a esperança de que haja uma mudança de
rumo daqui até o final do ano. Permanecendo no mandato e fazendo com
a situação comece a mudar, Maurício estará dirimindo nossas
dúvidas sobre a veracidade de suas afirmações.
Que ele esteja certo, que o ano de
2014, que tão bem começou, possa terminar de forma honrosa e que
nosso próximo presidente possa ter melhores condições de conduzir
nossa estrela
Por ter sido citada na análise sincera do amigo, sinto-me na obrigação de comentar. Considero acertada a participação do presidente Maurício Assumpção no programa Bola da Vez do canal ESPN Brasil. Qualquer especialista em comunicação com alguma noção de gerenciamento de crise concordaria. Isso é um ponto importante até pelas razões que você levantou no texto, Casé. A massa torcedora, afastada do dia a dia do clube merecia esse retorno.
ResponderExcluirCom respeito e cortesia, o presidente do Botafogo não teve vida fácil, mas também não enfrentou um paredão impetuoso. O discurso apresentado mostrou relativa coerência e pareceu ser sincero, mas fica difícil julgar os limites entre emoção e técnica. Talvez, essa não seja a questão mais importante.
Confesso que a minha irritação foi parcialmente acalmada, mas ela não diminuiu a decepção e críticas à gestão e administração do mandatário e seus diretores executivos (co-responsabilidade). Só para citar os motivos diretos da atual crise, acho lamentáveis as escolhas tomadas. Se o futebol fosse levado a sério no Brasil, muitos estariam com sérios problemas judiciais ou presos.
Que Deus proteja o Botafogo.