Tive um pesadelo. E, como
em todo sonho, nesse também havia uma grande dose de elementos sem qualquer sentido muito lógico, mas como afirma o
dito popular: “Freud (sempre) explica”.
Pelo que me lembro a situação se
passava durante uma festa. Só que o irmão da aniversariante não
concordava com as pessoas convidadas, pois eram de um grupo político
com uma ideologia diferente da sua. O tal irmão decide, então, convocar seus aliados para acabar com a festança e logo se instaura um clima
de guerra, com confrontos físicos inclusive. Lembro-me da agonia das
pessoas e dos pedidos para que aquilo parasse antes que alguém se
ferisse. Havia crianças no local.
Foi uma sensação muito ruim, vivia a agonia de quem nada podia fazer. Acordei sobressaltado, sentindo um aperto no peito. Tentava analisar o porquê de um sonho, em princípio tão sem pé nem cabeça.
Foi uma sensação muito ruim, vivia a agonia de quem nada podia fazer. Acordei sobressaltado, sentindo um aperto no peito. Tentava analisar o porquê de um sonho, em princípio tão sem pé nem cabeça.
Só pela manhã, depois de ter
voltado a dormir, comecei a intuir sobre as razões do sonho ruim.
Tenho me sentido muito decepcionado com a intransigência da sociedade atual. Sempre pronta a apedrejar aqueles que não comungam do mesmo credo. É o que o mestre Alberto Dines chama de clima de FLAxFLU. Tudo parece ter que ser “pão, pão; queijo, queijo”, como se só houvesse o preto e o branco e não tantas tonalidades de cinza (nada a ver com as fantasiais sexuais do livro da autora inglesa Erika Leonard James).
Neste período eleitoral, então, haja
pedras. E o que é pior; a virulência das críticas pode ser capaz
de corar gerente de puteiro.
Amigos ou conhecidos que eu nem
desconfiava serem capazes de tantos impropérios, de tanta raiva inoculada, têm partido, sem escrúpulos, para ataques pessoais. Outros saem reproduzindo postagens
fantasiosas, sem qualquer possibilidade de um vínculo mínimo com a
realidade. Mas, no vale-tudo virtual, isso parece ser o que menos
importa.
Vamos tomar como exemplo a morte de
Eduardo Campos, candidato à presidência, vítima de um acidente
aéreo na cidade de Santos, no litoral paulista. O impacto de uma
notícia chocante como aquela logo foi substituído pelo som da
artilharia virtual. A hashtag #FOIADILMA disparou no topo dos trend
topping do Twitter. Teorias da conspiração pulularam tal qual
milho de pipoca em panela quente. E tome de compartilhamentos! Luto,
tristeza, reflexão... nem pensar!
Só sei que nesse dia exclui mais de
dez pessoas da minha lista no Facebook por não concordar com as
brincadeiras de mau gosto e com o conteúdo compartilhado (tenho
certeza de que não sentirei falta delas).
Dias depois foi a vez do contra-ataque.
O estopim foi uma foto de Marina Silva sorrindo durante o velório de
Campos, no Recife. Postagens indignadas perguntavam: "Do que ri,
Marina Silva?" A acusação era de que a vice de Eduardo sapateava
sobre seu caixão. Houve quem dissesse que Marina inaugurara o
“velóriomício”, pois teria aproveitado a situação para
garantir a popularidade necessária para tomar o lugar do morto na
corrida presidencial.
Julgar alguém a partir de um momento registrado por uma câmera, por um a fração de segundo capturada, é de uma crueldade sem par.
Logo se soube que Marina, naquele
momento, tentava confortar a família relembrando passagens da
campanha vividas pelos dois.
Mas o estrago já estava feito. E, do
jeito que as coisas vão, não me espantaria se tal acusação voltar
a surgir durante a campanha.
Mas a esculhambação internética não é um
privilégio de figuras públicas.
No dia do velório do
político pernambucano, começou a circular na Internet a foto feita
por Pedro Kirilos, da Agência O Globo, na qual uma mulher aparecia fazendo uma
selfie com o caixão do presidenciável ao fundo.
Embora as
selfies (fotos de si mesmo tiradas através de um celular) tenham
virado febre, o comportamento da moça não foi perdoado pelos patrulheiros. Além das
mais duras críticas, o tema ainda virou piada na Internet.
Há quem diga que ela conseguiu seus 15 minutos de fama, eu, porém, diria que foram seus 15 minutos de execração pública. Tente se colocar no lugar dela por alguns instantes... Será que ela achou essa superexposição agradável? Será que um ato sem noção como o
dela merece mesmo tanta polêmica? Será que é caso para pelotão de
fuzilamento social?
Quem pode nos ajudar a dar essas respostas talvez seja o professor
Zygmunt Bauman. Ele tem sido um dos principais analistas das
relações da sociedade mundial com as redes sociais. No livro
“Vigilância Líquida”, já avaliava as consequências do
excesso informações que disponibilizamos, voluntariamente ou não,
todos os dias nas redes. Agora, em “Cegueira moral” ele fala
sobre a vida digital e o sério risco que ela nos impõe de perdermos
a sensibilidade em relação aos outros. Um tipo de anestesia que parece nos
afetar perante o sofrimento alheio.Tinha visto este livro, recentemente, na Livraria da Travessa e já tinha me interessado. Porém, após meu pesadelo e todos os fatos aqui descritos, urge que o leia.
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