Fiquei quieto nesses dias.
Em momentos de ânimos tão
exacerbados, falar algo é o mesmo que falar ao vento.
Não que agora, depois de parcialmente
digeridos os fatos da última sexta-feira alguém vá parar para ler
este “textão”. (E, não, não vou pedir desculpas por ele ser
extenso. Essa é uma das melhores coisas que existem na Internet,
espaço para expor suas ideias. E fazer uso dele não significa
nenhum abuso.)
Li de tudo nesses dias,
esbravejamentos de ambos os lados (se há que há apenas dois lados).
“Das pessoas e dos petistas”, como diria um repórter de TV. Li
também pensatas (e essas me interessam mais) sobre a atual situação
do país.
Pensar se faz necessário. Muito mais
do que dar ou replicar opiniões (“especialistas” virtuais
pululam nesses momentos como bem lembrou Gregório Duvivier em sua
coluna na Folha de S. Paulo). As pessoas precisam parar para pensar,
raciocinar. É preciso ouvir seus pares, mas também os argumentos
contrários. Mentor Neto (um cronista que sigo no Facebook) disse que
as pessoas defendem o PT cegamente como um fanático torcedor de
futebol, mas o fato é que o comportamento não é unilateral, os que
querem Lula morto politicamente também são useiros e vezeiros deste
comportamento.
Não sou petista, embora tenha votado
no PT na maioria das vezes. Como não a cancelei, provavelmente ainda
existe uma ficha de filiação partidária minha ao PSB, quando achei
(muitos anos atrás) que esse poderia ser um partido que defenderia
minhas ideias de um país mais justo.
Não sou Lula.
Sou favorável a um projeto político
de maior atenção à população brasileira como um todo, incluindo
aí a grossa fatia que vive bem longe do “sul maravilha”(com a
licença do Henfil). Gente que sobrevive em condições de penúria
em outro país, um país dentro do nosso e a maioria da população
“esclarecida” não tem a menor noção da realidade que essas
pessoas enfrentam.
Um dos graves problemas brasileiros (e
não são poucos) é a falta de uma classe política confiável.
Sempre, em nossa história, ficamos a reboque de figuras messiânicas.
Getúlios, lacerdas, juscelinos, lulas... Seriam eles os guias que
nos levariam a um mundo melhor. Quando na verdade o que deve ser
escolhido é um projeto de governo, independente de quem esteja com a
caneta. E é essa sanha de optar por nomes ao invés de programas que
nos leva ao buraco em que estamos, pois no legislativo, seja em que
esfera for, acabam figuras que fazem seu nome através de questões
que transcendem um pensar político para o Brasil. Estão lá os
assistencialistas, os pastores, os ruralistas, os laranjas, os
testas-de-ferro, os sem representatividade que entram como lastro de
candidatos supervotados, entre outros. E é assim há décadas, há
centenas de anos. Um quadro político torto que abre as pernas para a
corrupção. Um modus operandi que se eterniza seja qual
governo que chegue ao poder.
A corrupção, como pode parecer para
quem lê alguns colunistas, não nasceu no governo do PT. E isso não
serve como desculpa para qualquer ato ilícito que integrantes do
partido possam ter cometido. Mas o que mais me aflige é a postura de
algumas pessoas que acreditam (ou querem acreditar) que o mundo
voltará a ficar cor-de-rosa caso Lula fique inelegível ou que Dilma
sofra o impeachment.
Ora, senhoras e senhores, o problema
da corrupção no Brasil vai muito além e o que reclamo é que quem
faz todo este alarde (leia-se: a grande mídia), prefere fingir-se de
cega em outros episódios tão ou mais graves que ocorreram
recentemente. Não fiz um levantamento formal, mas não me espantaria
se constatassem que a construção de ciclovias pelo prefeito petista
de SP teve muito mais centimetragem na Folha do que o escândalo
tucano do metrô paulista. Os pesos e medidas diferentes é que não
me descem pela garganta.
OK. Vamos dar um basta na corrupção?
Contem comigo! Mas fechem as fronteiras e construam mais presídios,
porque a faxina seria colossal.
Alguém realmente acredita que isso vá
acontecer?
Será que a mídia (empresas de
comunicação, que vivem de verbas publicitárias) estarão dispostas
a tal engajamento? Entrarão como prioridade na fila de pautas o
helicóptero da família Perrela carregado de cocaína, o desvio do
dinheiro da merenda escolar de SP, o aeroporto da cidade mineira de
Claudio, entre dezenas de outros casos acobertados ou simplesmente
“esquecidos”?
Será que o judiciário será tão
eficaz?
Será que nós, eleitores, vamos saber
filtrar quem realmente merece legislar em nosso nome, de maneira
limpa e honesta?
É óbvio que boa parte do Brasil não
quer mais o PT no governo. Aliás isso estava claro já nas eleições,
tanto que as mesmas foram extremamente acirradas. Mas o que para mim
parece claro (e isso é apenas uma impressão, já que não sou
especialista em economia ou rabos-de-arraia políticos) é que parte
da sociedade (uma parte bem poderosa) decidiu que não quer correr o
risco de que após Dilma venham mais 8 anos de Lula. Se a crise
econômica aconteceu por conta disso, não sei dizer, mas todos devem
lembrar que num quadro econômico estável, com taxas de emprego
altas e com o dólar baixo, o escândalo do mensalão não “colou”
e o PT se manteve no poder.
O futuro não é minha especialidade.
O que vai acontecer no país daqui pra frente é uma grande
incógnita.
As possibilidades são muitas, e
algumas nefastas, como explica o jornalista Elio Gaspari (a quem
tanto respeito): “Se o TSE cassar a chapa Dilma-Temer a partir de
1º de janeiro, deputados e senadores elegerão 30 dias depois o seu
substituto, para concluir o mandato. Votam todos aqueles que
estiverem no exercício de suas funções. Se continuarem nas
cadeiras, Eduardo Cunha presidirá a eleição e Delcídio Amaral
votará. Esse colégio eleitoral será composto por 594 pessoas.
Deles, 99 têm processos à espera de julgamento no STF, e são 500
os inquéritos em andamento envolvendo parlamentares. Vinte e um anos
depois da campanha das Diretas, o regime democrático brasileiro
corre o risco de eleger indiretamente um presidente da República.”
Vindo o que vier vou continuar
acreditando que isso aqui só vai melhorar quando realmente nos
preocuparmos seriamente em ser um país para todos os brasileiros.
Quando nos importarmos de fato com a igualdade social e no respeito
aos direitos mais básicos como educação e saúde de qualidade para
todos.
Vou continuar votando em quem pense
assim, em quem prometa agir assim.
Quisera eu tivesse muitas opções de
voto, mas esse dia ainda está bem longe de chegar.
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