segunda-feira, 25 de abril de 2016

AS BELAS E AS PRESIDENTAS (DAQUI E DOS VIZINHOS)

Falam que brasileiros e argentinos são rivais.
Mas se a gente olhar de perto vai ver que estamos mais próximos do que supõe a vã rivalidade futebolística. Até porque depois que Messi, Neymar e Suarez se uniram no ataque do Barcelona, o Cone Sul passou a torcer pelo mesmo time.

O amigo e mestre Ronaldo Helal, que morou em Buenos Aires por um tempo, gosta muito de citar a seguinte frase: “Brasileiros amam odiar a Argentina e argentinos odeiam amar o Brasil”. Embora ressalte que antagonismos tenham crescido nos últimos tempos, pelo menos por parte dos hermanos, num típico caso de amor não correspondido.

Se no campo esportivo, a mídia dos dois países prefira alfinetadas e provocações, em termos políticos vem surgindo uma sintonia surpreendente. Vejamos...

A imprensa argentina bateu de frente e forte com Cristina Kirchner até sua sucessão por Maurício Macri. Os vizinhos brasileiros também caíram de pau em Dilma Rousseff, que agora pode ser trocada por Michel Temer.




Não pretendo debater as causas desses ataques, nem sua legitimidade. Deixo isso para analistas políticos, que entendem muito mais do riscado do que eu. Pretendo apenas trazer algumas curiosidades midiáticas que tenho visto por aqui.
A primeira delas me chegou através de um pronunciamento de Cristina Kirchner sobre a semelhança entre duas capas de revista, Noticias de la semana e Isto É. Em destaque os supostos ataques de fúria e descontrole das duas presidentas; de lá e daqui.




O texto da revista argentina (de junho de 2013) fala de birra, fúria e ironia sinistra para relatar atitudes intempestivas de Cristina com opositores e aliados que não a defendiam. A revista ainda questionava se Kirchner não estaria precisando de tratamento psiquiátrico.



Na coirmã brasileira (de abril de 2016) a manchete “Uma presidente fora de si” encaminha um texto com também supostas informações sobre o descontrole da presidenta brasileira. E logo em sua abertura deixa claro o que viria a seguir:

“Os últimos dias no Planalto têm sido marcados por momentos de extrema tensão e absoluta desordem com uma presidente da República dominada por sucessivas explosões nervosas, quando, além de destempero, exibe total desconexão com a realidade do País. Não bastassem as crises moral, política e econômica, Dilma Rousseff perdeu também as condições emocionais para conduzir o governo.”



A reação foi grande nas redes sociais. Com a hashtag #IstoÉMachismo a reportagem se tornou um dos assuntos mais comentados naquela semana. As críticas, principalmente de grupos feministas, eram de que a matéria reforçava o estereótipo machista que relaciona as mulheres ao descontrole emocional, e que, por isso mesmo, não estariam aptas a assumir cargos políticos e de liderança.

A presidenta emitiu nota oficial sobre a reportagem e prometeu medidas judiciais contra a publicação:

“A frase é conhecida: 'Na guerra, a primeira vítima é a verdade'. A autoria é controversa, mas a aplicação tem sua vertente diante de crises políticas mais agudas. A revista Isto É tem se esforçado para trazer a máxima ao presente, sombrear o quanto pode a verdade e jogar na lata do lixo da história qualquer rastro de credibilidade que um dia já teve.”

Recentemente outra dessas “coincidências” mais uma vez ligou as imprensas argentina e brasileira.

Tema que mais movimentou as redes sociais na semana passada, a reportagem escrita pela jornalista Juliana Linhares para a revista Veja e intitulada “Bela, recatada e do lar”, teve uma “irmã gêmea” do outro lado do rio da Prata.




A matéria escrita por Juliana para descrever a possível futura primeira dama brasileira, Marcela Temer, traçou um perfil da jovem dona de casa que pode trocar o Palácio do Jaburu pelo Palácio da Alvorada. Um texto intrigante já que a moça, alvo do perfil, não foi ouvida, só pessoas próximas a ela. Na verdade, parágrafos e mais parágrafos que pareciam saídos de outra publicação da empresa, a revista Capricho (como agora é apenas online, não sei se ainda posso classificá-la de publicação).

Mais uma vez a mulherada brasileira fez barulho quanto ao caráter machista da reportagem e desandou a colocar fotos de “belas, recatadas e do lar” na Rede. Até ícones dos anos 80 como Rêbordosa, de Angeli, reapareceram para protestar.



A matéria da Veja lembra bastante uma outra reportagem da Noticias de la semana, só que sobre a primeira dama argentina (publicada em março de 2016). O título: “Estilo Awada Macri – O regresso da mulher decorativa”.



Ainda na capa segue um texto síntese do que esperava o leitor nas páginas internas:

“Deixou tudo para acompanhar Macri. Representa o estereótipo da esposa tradicional e discreta e a serviço do lar. O contramodelo K.” (K se refere a Kirchner)”

Ou seja, outra bela, recatada e do lar.

A reportagem pelo menos tem o mérito de ter aspas da personagem.

E para por um pouco mais de pimenta nessa história, neste final de semana o jornal O Globo também fez um perfil de Juliana Awada Macri. O texto de Janaína Figueiredo vai, no entanto por outro viés, já a partir do título: “Um perfil político para a mulher de Mauricio Macri - Juliana Awada se inspira em Michelle Obama em busca de um papel mais moderno”.

Sim, creiam, se trata da mesma mulher da matéria da revista argentina. Aquela que dizia que preferia cuidar da casa, das refeições e dos filhos.

Só que de acordo com a percepção da repórter de O Globo pode haver um quê de coaching nesse perfil exposto pela primeira dama vizinha; um tipo de “Obamização”. Ou seja, forjar em Juliana uma imagem semelhante à de Michelle.



Em tempo: Janaína tentou entrevistar Juliana Macri, mas foi barrada pelos assessores.

Será que por aqui também se pretende algo assim?
Esperemos pelos próximos capítulos. Afinal, ao contrário do caso argentino, aqui a faixa ainda não está no peito do marido.


Embora a mídia assim queira, e muito...

 

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