quinta-feira, 7 de abril de 2016

O MITO DA ISENÇÃO (FELIZ DIA DO JORNALISTA)

Em tempos complicados como os que vivemos, a mídia também está na berlinda.
Se questiona, principalmente a sua isenção.
Como hoje é o dia do jornalista, cabe a pergunta: será que isenção jornalística realmente existe?

Com a palavra o mestre Alberto Dines:

O modelo de jornalismo praticado no Brasil está esgotado... Profissionais imaginam-se livres, empresas jornalísticas fingem imparcialidade. Arrogância, onipotência e, às vezes, perversidade escondem- se atrás de um pretenso senso de justiça que não resiste a qualquer avaliação mais profunda. Com as honrosas e raras exceções. A isenção é uma farsa, mera distribuição de barbaridades em todas as direções. O linchamento dá-se com uma foto inocente e uma legenda pretensamente objetiva. A goela escancarada de um âncora ou o falsete de outro são as provas irrefutáveis de uma infração sequer investigada. "Comunicadores" nas rádios pinçam duas linhas nos jornais da manhã e, com elas, montam catilinárias para alimentar o dia inteiro... A última profissão romântica confunde-se com a mais antiga profissão do mundo. Instituição financeiramente quebrada, tenta uma nesga de poder. Paga muito a poucos, ungidos para celebrar suas preferências e produzir lixo. Com as honrosas e raras exceções.


O texto, pasmem, é de 1998. Uma coluna de Dines para a Folha de S.Paulo. Portanto não vamos nos iludir de que a crise atual é o motivo para os gritantes exemplos de parcialidade na cobertura dos fatos. De ambos os lados, diga-se de passagem. Mas como há muito mais órgãos de imprensa contrários ao atual governo, os “causos” ocorrem em maior número.

Vejam o exemplo da foto da presidenta a bordo de um avião da FAB em dois clichês do jornal O Globo do dia 6 de abril. No primeiro clichê, a foto continha a palavra “força”. Já no segundo clichê a foto foi ampliada para que a palavra desaparecesse. Por que? Será que alguém achou que a palavra “força” daria uma conotação positiva à foto? Pessoas poderiam analisar que o jornal estaria dizendo subliminarmente que a presidenta demonstra força política, ou mesmo que o meio estaria desejando força a ela?
Conjecturas? Sim, claro. Mas tal mudança nos leva inevitavelmente a elas.



Como ressalta o mestre, simplesmente noticiar os dois lados não é sinal de isenção. Mesmo quando a cobertura é quantitativamente igual, há o conteúdo e é aí que a porca torce o rabo. A opinião do empresário de comunicação é a que fala mais alto no final das contas. A cobertura vai seguir essa linha. E, se questionados, esses mesmos órgãos usarão de critérios totalmente subjetivos para tentar se explicar, se é que se darão ao trabalho.

Querem um exemplo prático e recente?
A edição do Jornal Nacional do dia 5 de abril colocou no ar uma matéria sobre duas manifestações da noite anterior em São Paulo. O VT teve 1 minuto e 52 segundos. A parte da manifestação governista teve 52 segundos e a da oposição, 60 segundos. Na primeira parte houve uma fala de Lula com duração de 28 segundos e na segunda parte, um “sobe som” do jurista Hélio Bicudo com duração de 30 segundos. Divisão praticamente equânime, não fosse por um “pequeno” detalhe. O grande fato jornalístico do ato contra o governo foi o discurso destemperado da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de Impeachment. O vídeo viralizou na Internet, mas não foi considerado notícia pelo JN. Por que? Caberia ao editor-chefe responder.



Link do vídeo de Janaína: https://www.youtube.com/watch?v=DrKL7NSgnNs

Uma visão neutra do que vem acontecendo no país me parece totalmente improvável. Foram hasteadas bandeiras, clarins soaram toques de combate há bastante tempo e as movimentações do xadrez midiático mostram o governo em constante posição de xeque.

Boatos viram capas, informações de coxia também. Não importa se têm um fundo de verdade, mas servem de carvão para alimentar a fornalha que move a oposição.




Como todos têm telhados de vidro nesse caso, a mídia favorável ao governo também sai à caça dos opositores, como que a dizer que quem acusa não teria moral para isso.




E assim fica o leitor, o ouvinte, o telespectador. Sem saber no que acreditar. Mais inclinado a reproduzir aquele discurso que mais se adequa às suas convicções políticas. E isso é muito ruim.
Se eu só analiso a questão por um prisma, estarei fazendo uma análise torta. Mas, ao mesmo tempo, o “outro lado” é tão parcial que não nos sentimos seguros em aceitar suas versões.
Aí vira Fla x Flu.
Aí vira guerra.

É como se na sua rede social você bloqueasse todos os amigos que têm opinião divergente da sua. O resultado seria uma timeline monocórdica. Um samba de uma nota só e isso não é nada bom.

Há jornalistas que buscam produzir um conteúdo informativo decente e que, de alguma forma, tentam dar mais equilíbrio ao seu trabalho, independente do meio de comunicação em que atuam.

Ler/ouvir opiniões diversas sempre é bom e (acredite!) existem colunistas bastante equilibrados, sensatos, que se esforçam, em meio a esse caos, trazer um pouco de luz, independente de suas posições políticas.

Já que a isenção é um mito, saibamos, pelo menos driblar as desinformações, identificar extremismos e buscar o equilíbrio.

Só não dá pra abrir mão do pensar. Sem ele nada vai mudar ou, se mudar, mudará para pior.

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