terça-feira, 9 de outubro de 2012

Recado das urnas

Nas eleições do último domingo só em dois bairros do Rio o atual prefeito Eduardo Paes não obteve maioria. Dois bairros vizinhos: Laranjeiras e Cosme Velho.
Como há 16 anos me tornei morador, primeiro de Laranjeiras, e agora do Cosme Velho, resolvi refletir sobre o porquê desse resultado e, na verdade, não tive muito trabalho para isso. Creio que os moradores dos dois bairros quiseram mostrar, através das urnas, que estão bem descontentes com a atuação da Prefeitura e com a falta de perspectiva para a solução de problemas recorrentes que atingem a região. Abaixo cito alguns deles:

- O Cosme Velho é a porta de entrada para uma das novas maravilhas do mundo, o Cristo Redentor, mas a única coisa que o bairro ganha com isso é um problema atrás do outro. O local não tem infra-estrutura para receber os muitos ônibus de turismo que trazem os visitantes (Imagina na visita do Papa, no ano que vem... Imagina na Copa... Imagina nas Olimpíadas...).
Quem vem por conta própria é assediado pelos motoristas de vans que, não raramente, se engalfinham na busca por clientes. O serviço, apesar de muito pouco organizado, é autorizado pela Prefeitura e infesta o local de vanis nos finais de semana, complicando ainda mais o trânsito já complicado do bairro.



O trenzinho não dá vazão para tanta gente e as filas se estendem pelas ruas vizinhas.


Não há um estacionamento oficial para quem resolve vir de carro e os motoristas são achacados por flanelinhas, que chegam a cobrar 30 reais por uma vaga irregular.
A Secretaria de Ordem Pública está sempre por lá, como a Guarda Municipal, mas só há algum tipo de repressão quando é feita alguma "operação especial" devidamente informada para que a mídia mostre que o poder público está se mexendo.

- Soluções possíveis existem, como um melhor aproveitamento da área onde fica o ponto final de diversas linhas de ônibus, mas parece que é mais fácil deixar como está. Depois reclamam quando os turistas se queixam da cidade. Esse terminal é bastante problemático.


A desorganização do serviço de ônibus da cidade fica evidenciado ali. A falta de horários pré-estabelecidos faz com que alguns ônibus tenham oferta de mais e, outros, oferta de menos (de muito menos). O 422 passa em profusão, enquanto o 569 (mais conhecido como 5 6 never) tem pouquíssimos veículos circulando.




O traânsito na rua das Laranjeiras, transformada em uma via de passagem em direção à galeria norte-sul do túnel Rebouça, é sempre pesados. Os engarrafamentos são constantes e a desordem dos ônibus só piora a situação.

- Os muitos colégios da região também não colaboram em nada. Os horários de entrada e saída afetam a via desde o Franco-Brasileiro, lá perto do Largo do Machado, até o Sion e o São Vicente, já no Cosme Velho. Sem esquecer do Eliezer, com sua fila de carros de pais e mães que diminui o espaço já reduzido das pistas de circulação. Algumas pequenas medidas da Guarda Municipal poderiam ordenar a situação, mas os senhores de farda marrom estão mais preocupados em gerar multas (e receita) para os cofres municipais, do que fazer o trânsito fluir.

- Algumas calçadas do bairro concorrem todos os anos ao título de mais estreitas do mundo. O jeito é colocar o carrinho de bebê no meio da rua (afinal, ele tem todas pra que????). O risco de atropelamentos é sempre alto, até porque, em alguns pontos perigosos, como na curva em frente ao Instituto de Pediatria os sonorizadores que obrigavam os morotistas a reduzireem a velocidade há muito sumiram.



- Para finalizar há o Largo do Boticário. Um dos pontos mais charmosos da cidade, que poderia fazer parte do circuito turístico do bairro, mas que se encontra entregue às baratas e aos flanelinhas...

Sei que outros bairros também tem problemas e que em uma cidade grande como o Rio de janeiro é difícil resolver tudo ao mesmo tempo. Mas se as Regiões Administrativas atuassem como síndicos de seus bairros, detectando os pequenos problemas antes que se tornassem grandes, tudo seria bem mais fácil. E isso, certamente, não ocorre.

Vira e mexe surgem projetos mirabolantes, a maioria deles feitos sem que a comunidade local seja ouvida. Não precisamos disso, mas sim de vontade política e capacidade administrativa para que nossa cidade possa funcionar e atender seus moradores e visitantes.

Laranjeiras e Cosme Velho deram seu recado. Se mais bairros se pronunciarem, quem sabe as coisas não podem começar a mudar.     

5 comentários:

  1. Olá,
    Como moradora de Laranjeiras assino junto com você.
    Infelizmente nosso povo vive num Rio diferente do nosso, no Rio deles tudo funciona muito bem, hospitais, escolas, transportes públicos, segurança etc.
    Um prefeito autoritário e demagógico parece ser o modelo para população do RJ.
    Saudações.

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  2. Caro Rafael Casé,
    Conordo em genero,numero e grau com a sua análise, só daria mais enfase ao problema do 583/584, que o prefeito de forma autoritária retirou 05 onibos de circulação de cada linha, sob a justificativa de diminuir a quantidade de onibus em circulção nas BRT's de Copacabana, mas para não prejudicar a receita da empresa São Silvestre,transformou os 573/574 em 161/162,transitando pelas BRT's de Copacabana, fazendo ponto final na Glória junto aos já existentes 571/572.
    Mas Regina, onde encontro o Rio, que funciona bem?

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  3. Caros Regina e Antonio,
    de todos os problemas que existem na cidade, acho o dos transportes o mais vergonhoso, pois existe uma complacência com a FETRANSPOR em troca de financiamentos de campanha, seja qual candidato que assuma. Ninguém tem peito para enfrentar a máfia dos ônibus que se desenvolve desde a campanha para a retirada dos bondes, ainda nos tempos de Carlos Lacerda. É um problema lógico e de solução relativamente simples, mas que só é possível com vontade política.

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  4. Nada no mundo me desperta tanto ódio quanto o 422.

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  5. O que me pergunto, Cissa, é como essa linha pode ser lucrativa com tantos ônibus seguidos circulando vazios.

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