sexta-feira, 11 de abril de 2014

A MÍDIA, O ALCAIDE E OS INVASORES

O dia está sendo marcado pelas imagens de violência da retomada de um terreno abandonado da Oi, no Engenho de Dentro. Violência por parte da polícia, violência por parte dos invasores. Feridos (entre eles uma criança), carros incendiados e caos no trânsito dos bairros próximos.
Escrevo ainda no frigir dos ovos, mas o tema que quero debater não depende do resultado da ação.

Começo perguntando: por que a ação de desocupação do terreno foi feita de maneira tão célere pelas autoridades cariocas?
Algumas possíveis respostas:
- Para que se cortasse o surgimento de mais uma favela no Rio, antes que ela se estabelecesse.
- Porque a Oi foi atendida em seu pedido de reintegração de posse e a justiça deve ser cumprida da maneira mais célere possível.
- Porque uma cidade que vai sediar uma Copa e uma Olimpíada não pode se dar ao luxo de ter novas favelas.
- Porque a mídia descobriu, por acaso, a nova favela, fez alarde e as autoridades se mexeram por conta disso.
- Um pouco de todas as repostas acima.

 De uns vinte anos para cá, a ocupação de terrenos, prédios, fábricas e galpões abandonados virou rotina. A Avenida Brasil e bairros do subúrbio, atingidos pelo esvaziamento econômico do Rio, se tornaram as áreas mais propícias. São muitos os exemplos: a antiga fábrica de roupas Evelin,  a CCPL, em Benfica, a fábrica da Borgauto (Bonsucesso), a Conab (Manguinhos) e a fábrica da Poesi em Ramos.


                                                                         O GLOBO/2002


                                                                       O GLOBO/2008


Por que então o terreno da Oi se transformou numa exceção?
Porque os invasores deram o "azar" de serem flagrados quando ainda começavam a invasão.
Na terça-feira,  dia 1º de abril, o jornal O Dia falava sobre o começo da invasão, inclusive relatando confrontos com policiais. No dia 3 o repórter Genilson Araújo, a bordo do helicóptero em que trabalha todos os dias, fez uma foto do alto.


O telejornal Bom Dia Rio também chegou a fazer imagens com o Globocop durante a semana, mas o assunto só ganhou destaque depois que O Globo fez uma matéria, na sexta-feira (4/4) com o emblemático título: "Como nasce mais uma favela" 


O prefeito Eduardo Paes teve, então que se mexer. Tinha que dar uma resposta à cobrança da mídia. E logo soltou uma declaração:  "Não conheço favela nenhuma da Telerj e, sim, uma invasão com todas as características que uma invasão profissional pode ter. É um movimento organizado, com pessoas que estão ali loteando, demarcando. Pobre que é pobre, que precisa de casa, não fica demarcando, não aparece com madeirites marcando número". 
Em um prazo recorde de sete dias após a manchete de O Globo, a polícia invadia o terreno.
Agora, pensemos juntos: se essa favela não tivesse sido denunciada e se estabelecesse de fato, será que o Prefeito teria se empenhado tanto ou ela passaria a fazer parte da cidade como tantas outras?
Algumas emissoras, alegando questão de segurança para a proteção de seus profissionais preferiram não entrar no local durante o processo da invasão. Outras, como o SBT foram até lá e mostraram a situação de perto.
Um artigo publicado pelo grupo Mídia Ninja criticou a cobertura feita por quem não tenta apurar com os moradores o que realmente está acontecendo: "...tiram suas conclusões vendo tudo de cima, de dentro de helicópteros, portando câmeras com zoom de 8 km. Perguntam para os vizinhos, para a polícia, para o prefeito, antes de perguntarem para aquelas pessoas o que as motiva a lutar por aquele espaço, por mais inabitável que possa parecer".
Junto com o artigo há uma galeira de fotos dos invasores, numa tentativa de humanizar a questão.
Também há um vídeo feito pelo grupo e veiculado no Youtube:

Questões como essa da invasão não são simples e merecem, sempre, olhares e análises por todos os ângulos. Afinal, por trás da notícia, há gente.
Será que se trata mesmo de uma ação orquestrada, como diz o alcaide?
Ou será esse um reflexo da situação de penúria de boa parte da população brasileira?
Ao mesmo tempo, ocupar um terreno particular é ilegal.
O equilíbrio da informação é que é fundamental, para que a opinião pública possa tirar suas conclusões. E se nem todas as informações vêm através de empresas de Comunicação estabelecidas, que venham, também, através dos Ninjas da Internet.
Mas nunca é demais lembrar que ninguém é apenas santo, ou apenas demônio. E ouvir todos os lados das questões é sempre a forma mais sensata de chegar a alguma conclusão.

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