sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ei, Dilma...

Quando fui à abertura dos Jogos Pan-americanos de 2007, aqui no Rio, ouvi o presidente Lula ser vaiado pelo público presente no Maracanã. Na época, o fato foi alardeado como algo extremamente simbólico. Porém, logo surgiu uma emblemática frase de Nélson Rodrigues para apagar o incêndio que os apupos provocavam na mídia: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio”.

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Na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, a plateia, porém, foi além. As vaias se transformaram em insultos contra a presidente da República, Dilma Rousseff.
Na mídia e, mais explicitamente, nas redes sociais o fato ainda pulula. Com defesas e críticas ardorosas. E, lendo tudo isso, decidi refletir um pouco sobre o fato.
Não tinha a menor dúvida de que Dilma seria hostilizada na cerimônia. Nem ela, tanto que abriu mão do discurso de abertura, para tentar evitar um estrago maior. Mas não foi o suficiente...
Em pelo menos dois momentos ouvi o coro pela TV, um coro que torcidas organizadas entoam contra seus adversários e que, talvez por isso, tenha sido cantado de forma tão espontânea contra a mandatária do País. Só que nas cadeiras da Arena Corínthians não estavam torcidas organizadas e sim um público que podemos classificar de classe média alta, principalmente se levarmos em conta o valor dos ingressos pagos. Um público bem educado (didaticamente falando), mas desrespeitoso ao extremo.
 
Não quero dizer que essas pessoas não possam vaiar, se oporem à presidente ou aos rumos do País, mas não se tratou apenas de uma vaia, mas de uma ofensa pessoal. No meu entender, uma grosseria.
Vocês vão perguntar se eu nunca gritei algo parecido num estádio? Sim, claro que sim. Contra clubes adversários ou contra polêmicas atitudes de um juiz... E nem por isso estou certo quando faço isso.
Mas estamos falando da presidente do Brasil.
É realmente aceitável que se mande o presidente do país tomar no c... em rede mundial?
Podem me chamar de puritano, mas achei uma falta de respeito absurda.
Os “pró-Copa” e os “anti-Copa”, antagonistas ideológicos, encontraram seu denominador comum: Dilma.
Mesmo assim, continuam a discordar.
Os “pró” acreditam que ficar fazendo manifestações por aí, dizendo que não vai ter Copa, quando já há, é uma idiotice.
Os “contra” acham absurdo alguém ir a um estádio e vaiar justamente quem viabilizou a Copa que eles tanto ansiavam.
E não é que, nessas argumentações, os dois grupos têm razão...
O País tem que melhorar muito, sim. Mas alguém é capaz de contestar que, desde a implantação do Plano Real, estamos num ritmo crescente de mudanças?
As críticas são contra o PT? Então votem contra o PT.
E se não há bons candidatos de Oposição isso é realmente lamentável. Seria muito bom que novas ideias viessem à baila no sentido de melhorar o País.
Agora, nós, da classe média, dos grandes centros, temos que ver que o Brasil é muito mais do que as cercanias do Sul Maravilha (ou das cadeiras do Itaquerão), como falava a Graúna do Henfil.
Queremos saúde pública de qualidade, educação pública de qualidade, igualdade social (será que todos querem mesmo?), mas para isso, no jogo democrático, é preciso ter gente de qualidade no Congresso Nacional e no Poder Executivo.
E quem os escolhe? Nós!
Não só nós do Sul Maravilha. Não só nós que vociferamos nas redes sociais. Não só nós que podemos pagar por um ingresso “padrão FIFA”.
O Brasil tem mazelas muito maiores do que a falta de leitos no Souza Aguiar ou Miguel Couto.
Há lugares em que nem médico há.
O País não sofre apenas com o sucateamento do Colégio Pedro II, um símbolo do ensino público carioca, pois em alguns distritos do Brasil desconhecido nunca passou um professor.
O Brasil é um país gigantesco e com problemas proporcionais e não vão ser vaias que vão resolver as questões que o afligem. Muito menos ofensas pessoais à chefe da Nação.
E o Blatter (leia-se FIFA), quem diria saiu incólume....

5 comentários:

  1. Uma dúvida me atormenta: quem vaia o PT ou a Dilma faz isso contra as práticas da velha política com as quais, infeliz e VERGONHOSAMENTE, o PT compactuou ou contra os avanços INEGÁVEIS conseguidos pelo governo petista? Os retrocessos se devem a mesma política corrupta e engessada dos governos anteriores. Portanto, tendo a acreditar na segunda opção. Pois só se fala em PT, em Lula, em Dilma... E os demais partidos que sempre (se) corromperam? Não merecem vaia? Por que não se fala neles em nenhum momento? Cadê a vaia para Roberto Jefferson (PTB), por exemplo? Por que não recebo e-mails raivosos a seu respeito?

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  2. Cara Lorena, as demonizações são sazonais. O alvo da vez é a Dilma pois vivemos um ano eleitoral. E o desespero de parte da elite brasileira é saber que por mais que se bata, que se xingue, que se publique editoriais ou colunas críticas à presidente, dificilmente esses artifícios terão efeito nas urnas, não porque o PT seja imbatível, mas porque não há uma oposição capaz de derrotá-lo nas urnas. Salve algum acidente de percurso, serão mais quatro anos de Dilma e se nada mudar outros tantos de Lula a seguir.

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  3. Reproduzo aqui um comentário que fiz a respeito desse fato numa rede social: não sou eleitora da Dilma, mas repudio enfaticamente a atitude de desrespeito à representante do meu país, governante que foi eleita legítima e democraticamente pelo povo. E, principalmente, me indigna que tal desacato tenha sido empreendido por uma burguesia imbecil e desqualificada, que se locupleta há séculos e se dá o direito de envergonhar o Brasil perante o Mundo.

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  4. Entre Renato Maurício Prado e Jânio de Freitas, fico feliz em estar do lado certo.
    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/171498-o-que-se-perdeu.shtml

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