quinta-feira, 3 de julho de 2014

#IMAGINANACOPA

Atire a primeira caxirola do Carlinhos Brown aquele que não pronunciou esta frase, que não usou esta hashtag ou que pelo menos não pensou na expressão ao menos uma vez nos últimos meses...

Bom, como até agora não fui atingido por nenhuma, sigo, então, este texto.

Não pretendo, nesta postagem assumir ares ufanistas e nem tecer loas ao Mundial que está sendo disputado em terras tupiniquins. Não sou e nunca serei adepto a "pachecadas" (os mais novos não saberão do que se trata, por isso disponibilizo a imagem do Pacheco, abaixo).


A questão, aqui, é parar para analisar alguns pontos da trajetória dessa nova Copa do Mundo do Brasil, principalmente através do prisma da mídia.
No dia 31 de outubro de 2007 a imprensa noticiava o anúncio oficial da sede da Copa de 2014. Depois do teatrinho, o presidente da FIFA abriu o envelope que continha o nome do Brasil.
Não era nenhuma surpresa. Lá estavam Lula, então presidente da República, Dunga, Romário e até Paulo Coelho. Todos muito felizes com a indicação.
Nas manchetes nenhuma crítica veemente em relação à escolha. Havia, sim , queixas em relação ao nacionalismo exacerbado e cobranças quanto à estrutura que seria necessária para abrigar o evento (os problemas do Pan ainda estavam muito vivos na memória da mídia).





Mas, fora isso, não houve grandes manifestações contrárias. Não lembro de noticiarem qualquer passeata exigindo que abríssemos mão do Mundial para que fossem feitos investimentos em Saúde, Educação e outras carências nacionais.

Só que o tempo foi passando e as promessas mirabolantes (como o trem-bala entre o Rio e São Paulo) desaparecendo da pauta. E o pior, mesmo as obras fundamentais, como estádios e aeroportos, se arrastavam, atoladas nos entraves burocráticos e jurídicos deste Brasil varonil.

Os abre-alas dos Cavaleiros do Apocalipse trataram de se apresentar. E nem o argumento de que em todas as Copas estádios ficavam prontos em cima da hora adiantaram. Nem Jesus Cristo escapou.




 

Depois foi a vez de um dos donos da festa, o secretário Jérome Valcke, vir aqui e nos dizer, na maior petulância, que o a Copa no Brasil só andaria caso levássemos um chute no traseiro.



Nossa mídia, pelo menos boa parte dela, simulou indignação, mas no fundo adorou a puxada de orelha que o gringo dava no Governo.

O clima, há um ano do mundial não andava nada bom. As manifestações populares elegeram a FIFA e a Copa como alvos. O tal Padrão FIFA era exigido em todos os setores da sociedade.


Poucas foram as discussões mais aprofundadas sobre a origem do dinheiro aplicado nos estádios. Se era empréstimo do BNDES e se aquele dinheiro poderia, ou não, ser aplicado em outros setores. Além disso também havia a crítica, bastante fundamentada, sobre  o excesso de estádios e os "elefantes brancos", arenas construídas em estados com pouquíssima representatividade no cenário futebolístico nacional, como Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Amazonas.


Nem a conquista da Copa das Confederações, disputada em meio a muitas manifestações, foi capaz de aplacar os ânimos.

A partir desse quadro e das duras críticas feitas pela imprensa nacional, coleguinhas do mundo inteiro ficaram com os dois pés atrás. Acreditavam que o caos se instalaria por aqui durante a competição. O tom alarmista tomou conta de boa parte de renomados meios de comunicação estrangeiros.
A revista alemã Der Spiegel foi a que pegou mais pesado entrou "de carrinho" e por trás. Na manchete de uma de suas edições alarmava: Tod un Sipelle (Morte e jogo). Em campo, seria motivo para cartão vermelho.






O texto na abertura da matéria também não era nada animador:



"Brasil: gol contra - Justamente no país do futebol, a Copa do Mundo poderia ser um fiasco: manifestações, greves e tiroteios em vez de festa. Os cidadãos estão furiosos por causa dos estádios caros e dos políticos corruptos. Ademais, sofrem com a estagnação da economia." 

Com tons mais ou menos pesados as publicações traçavam expectativas sombrias em relação à Copa de 2014.


Por aqui, não ficávamos muito atrás. 



Até Ronaldo, garoto propaganda mór do Mundial começava a tirar o corpo fora e a malhar o governo (não sei até que ponto sua aproximação com Aécio Neves teve a ver com isso).




Só que, como diria Tom Jobim: "O Brasil não é para principiantes". E o que a bola de cristal da mídia previa, simplesmente não aconteceu. O motivo? Não sou eu que vou definir aqui... Não tenho horas de Sociologia e Antropologia necessárias para uma análise aprofundada.
Mas o fato é que teve Copa, mesmo com meia dúzia de manifestantes carregando cartazes durante a primeira partida dizendo o contrário. 


O Itaquerão, que não ficaria pronto, ficou, e a bola rolou. 
Fora os xingamentos a Dilma Rousseff, tudo vem saindo melhor do que nos melhores sonhos do Governo e da FIFA.
A Arena da Baixada, a mais atrasada das obras, foi considerada como o melhor estádio.
Os aeroportos aguentaram o tranco.
O caos no transporte público fez forfait.
Os jogos estão sendo espetaculares e a animação da torcida é o ponto alto.
Fico imaginando a cara daquele estrangeiro que desistiu de vir ao Brasil depois de ler o The Economist, a Der Spiegel ou a France Football...





Até quem era contra, por aqui, teve que se render (não sem deixar de dar alfinetadas também).

Mas, como já disse, este texto não é para imitar aquela velha pequena motoca de desenho animado que vivia a repetir: "Eu te disse! Eu te disse!".  
O que acho é que a imprensa tem cada vez se preocupado menos com os fatos e mais com a futurologia. 
Não se trata de exaltar o Governo, nem de fechar os olhos para os problemas que existem, mas profetizar o caos não é o nosso papel. E não me venham com a desculpa de que os responsáveis pelas previsões pessimistas eram os "especialistas" e não os jornalistas. Sabemos muito bem com quem buscar as "aspas" que queremos, ou que peso atribuir a cada declaração. Também não vale, agora, querer jogar o pessimismo apenas para a mídia estrangeira, como andamos vendo por aí.
Com a Copa, podemos aprender. Aprender a cobrar. Cobrar com responsabilidade e denunciar tudo o que deve ser denunciado, até porque, infelizmente, vivemos em um país onde parece não haver limites para as maracutaias. Só não podemos cair no discurso fácil, nas frases feitas, por que senão, daqui a pouco vamos estar repetindo a mesma cantilena, porém com uma pequena modificação:
#IMAGINA NAS OLIMPÍADAS

2 comentários:

  1. Ótimo post, Rafa. Só faço uma observação, pelo menos em relação ao Rio de Janeiro: o caos na cidade só foi evitado porque a prefeitura tomou a decisão absurda de decretar feriado em dias de jogo no Maracanã. Em que lugar do mundo é necessário fazer isso?
    A repercussão da Copa na economia da cidade foi positiva apenas na Zona Sul. Comércio, indústrias e serviços, em geral, foram muito prejudicados pelas paralisações nas demais regiões.

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  2. É a falat de uma estrutura de transporte público decente, caro amigo. Os prejuízos foram grandes, mas como as pessoas estão mais preocupadas em terem um dia de folga, não rende pauta.

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