quinta-feira, 7 de abril de 2011

Luto


A notícia me atingiu aos poucos.
Estava seguindo para a Uerj, trocando estações de música no rádio, quando ouvi um rabicho de notícia sobre algo grave que havia ocorrido em Realengo.
Saí em busca de detalhes. Mudei para a CBN, mas, lá, nada era dito. Sintonizei então a BandNews que trazia informações ainda desencontradas sobre o massacre. O repórter Pedro Paulo Spoletto, pelo celular, tentava descobrir o que ao certo houvera (depois soube que havia sido aluno da Uerj). Ele falava de sangue escorrendo pelos corredores e, incrédulo, eu, o critiquei pela frase, que julguei sensacionalista.
Durante a aula, alunos iam atualizando as notícias que surgiam pelo rádio. Porém, só quando voltei ao carro pude me interar dos detalhes.
Sintonizado estava na BandNews, e ali fiquei, devido ao belo trabalho jornalístico realizado. A rádio conseguia, além de falar sobre o massacre, noticiar outro grave problema. Um vazamento de gás que fez com que a torre de controle do Aeroporto Tom Jobim fosse evacuada, fechando os dois principais aeroportos do Rio para poouso e decolagem por cerca de uma hora. Pauta que desapareceu nos demais noticiários devido à gravidade do caso de Realengo.
O rádio dava ali mostras de sua força informativa e de sua agilidade ainda intocada, mesmo em tempos de internet.
Para quem durante tantos anos trabalhou com o jornalismo diário, ficar afastado de uma cobertura deste peso é até estranho. Fui me informando vendo uma imagem aqui, uma informação acolá. Mas peças isoladas que só se uniram quando assiti à edição do Jornal Nacional.
Pude, então, ter a noção da crueldade da chacina. Crianças e adolescentes, na sua maioria meninas, alvejados friamente em seus pontos mais letais.
Uma situação absurda ao extremo, que parece fugir ao nosso nível de compreensão.
A cobertura do JN foi corretíssima, com apenas um ou dois levíssimos escorregões em direção ao sentmentalismo.
Um jornal que soube dar o peso que a história merecia, com suas diversas faces.

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/04/atirador-mata-alunos-em-escola-no-rio-de-janeiro.html

Embora a gente saiba que muito ainda vai se falar e se explorar o tema.
Posso estar errado, mas tenho quase certeza de que uma das pautas de amanhã vai ser a do encontro da menina que falou ao JN que quer ser bióloga quando crescer, com o policial que matou o bandido. Ela deu até a deixa, dizendo que queria agradecer a ele. Uma pauta clássica depois de qualquer ato de bravura.



Graças a Deus, por estar fora de casa na hora dos noticiários da hora do almoço, não tive o desprazer de ouvir nenhum apresentador vociferando na minha telinha.
A tragédia já era dura por si só. Não havia porque apelar para o sensacionalismo. Mas isso dá audiência... Infelizmente...

Louve-se o trabalho da polícia, que não deixou que a imprensa entrasse na escola durante o dia de hoje, o que inutilizou boa parte do armamento utilizado por esses programas noticiosos. As únicas imagens que a Globo mostrou foram as de um celular de alguém que entrou no colégio. Através delas, pôde-se ver o assassino morto.
No Facebook, hoje à noite (07/4), relatos de colegas de profissão mostravam o quanto foi emocionalmente devastador o trabalho de hoje. Dias assim aceleram nosso relógio do encelhecimento.

Muito ainda vai se debater sobre o que levou este rapaz a cometer tal atrocidade, bem como soluções para que fatos como esses não voltem a acontecer.
Concordo com o Rodrigo Pimentel (o verdadeiro Capitão Nascimento). Enquanto tivermos esta profusão de armas circulando livremente por aí, qualquer discussão pode virar sinônimo de morte; qualquer rancor pode gerar uma tragédia.
Mas, quando houve o plebiscito sobre o desarmamento, a sociedade brasileira optou por liberá-las.
Esse é o preço.
O ódio é o pior sentimento que pode se apossar do coração do ser humano. Ele envenena, deteriora, cega e transborda. às vezes de maneira trágica, como hoje...
Rezemos, pois, por essas crianças que morreram e pelas que lutam para sobreviverem e, quem sabe um dia, voltarem a uma escola.
No entanto, com toda certeza, a vida delas e de todos que viveram este dia trágico, nunca mais será a mesma.

2 comentários:

  1. Discordo que o ódio e a profusão de armas
    sejam a melhor explicação para esse ato. Isso foi somente a atitude de um doente esquizofrênico paranóide, sem acesso a um sistema de saúde minimamente decente para diagnosticar um transtorno psicótico descompensado e medicá-lo devidamente. Isso, assim como outros atos semelhantes ocorridos mundo afora, são somente os sintomas de um doente psicótico em sintomas delirantes, que resolveu eliminar os agentes que o ameaçavam dentro de seu delírio paranóide. Reitero : nada além disso. Não é apocalipse ou nada parecido ... Apenas uma situação facilmente decifrável e diagnósticável dentro da ciência da Psiquiatria.

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  2. Muito bom o texto. Inclusive pela referência ao desarmamento. Seria bem difícil a ele matar todas essas crianças no colégio com uma faca!
    Qto ao comentário acima... Como se pode diagnosticar uma pessoa já falecida?: Só podemos levantar suspeitas, jamais afirmar categoriamente.

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