domingo, 25 de março de 2012

Fuja, você está sendo filmado.

Em qualquer lugar que se vá, há sempre um aviso: sorria, você está sendo filmado.


As câmeras estão por toda parte, mas em nenhum outro lugar causam tanta polêmica quanto nas matérias jornalísticas.

O caso mais recente de uso de câmeras ocultas aconteceu no Fantástico de 19/3/2012. Uma reportagem dos jornalistas Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo escancarou para a população brasileira como é fácil desviar dinheiro em concorrências públicas. Nesse caso, da saúde.


Por mais que saibamos que a corrupção corre a galope solto em nosso país, é sempre um tapa na cara assistir a reportagens desse tipo e ver que a ética escoa pelo ralo.

Acho muito bem feito que essas "ratazanas" sejam expostas e que percam seus empregos, mas lamento que os mentores sempre acabem se livrando, com a clássica desculpa de que não sabiam de nada. E como o Código Penal não os pune diretamente, depois que a poeira baixa, tudo volta ao "normal".
Punições mais duras poderiam fazer essas pessoas pensarem duas vezes antes de agirem.


Lá no início, porém, falei de polêmica.

É que o uso de câmeras ocultas em matérias jornalísticas suscita várias discussões. Noutro dia mesmo dois estagiários que trabalham comigo no Observatório da Imprensa estavam debatendo a validade do recurso e, quando consultado, dei a opinião que repasso, agora a vocês:

O uso da câmera oculta, em princípio, é baseado em uma mentira. Afinal, na maioria das vezes quem a está portando se utiliza de uma falsa identidade para conseguir melhores imagens ou depoimentos que incriminem as pessoas investigadas. Não sou advogado, mas me parece um crime de falsidade ideológica. Mas fico na dúvida: será que os fins justificam os meios? Será que a mentira pode ser usada em busca de um verdade?

Na Espanha, o Tribunal Constitucional negou que a alegação de liberdade de imprensa justificasse o uso de tal recurso e o classificou de ilegítimo, por considerar que se trata de um atentado à privacidade das pessoas.

Até entendo que, em um país como a Espanha, haja essa preocupação, já que câmeras ocultas não são usadas como ferramentas de investigação e sim como formas de bisbilhotar a vida alheia, principalmente de celebridades.

Mas e aqui no Brasil, um país com tantos casos de irregularidades a serem denunciados, será que podemos ou devemos abrir mão dessa ferramenta? Eu acho que não, como acho também que deveria haver um código de conduta, para evitar seu mau uso. Acredito que isso poderia ser um acordo tácito entre os meios de comunicação, com divulgação para o público, que poderia avaliar os excessos.

Uma ação conjunta entre autoridades e meios de comunicação, no afã de denunciar irregularidades e não de autopromoção, pode ser muito eficiente, como demonstrou a reportagem do Fantástico no Hospital de Pediatria da UFRJ.

O tema é quente e será debatido nessa terça, dia 27 de março, no Observatório da Imprensa, às dez da noite, na TV Brasil.

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