quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dói demais...

O desabafo é da mulher do cantor sertanejo Pedro Leonardo, em coma, depois de um acidente de carro. Só que a dor a que ela se referiu nessa quinta-feira (26/4) teve a ver com o pavoroso assédio da imprensa na transferência do rapaz de um hospital em Goiânia para outro, em São Paulo.

"Gostaria muitooo que as pessoas pessassem nele como um ser humano!!! Que tem família!! O que essas pessoas queriam ver?! Ele entubado? Não consigo acreditar quando vejo as imagens!!! Pelo amor de Deus, vocês sabem o que é ver alguém entubado? Dói demais!!! 

O cerco de fotógrafos e cinegrafistas ao lado da ambulância, em Goiânia foi mesmo assustador. 


Uma médica havia avisado que qualquer tipo de tumulto durante a saída do cantor poderia acarretar riscos para sua saúde, tão debilitada. Mas quem disse que os "profissionais" da imprensa se incomodaram com isso.
Não adiantou a equipe do hospital colocar dois biombos na tentativa de preservar o paciente. Como micos amestrados de um circo eletrônico, cinegrafistas e fotógrafos subiam onde podiam, filmavam por baixo do biombo, se engalfinhavam, e na tentativa do que???? Registrar um ser humano em coma, todo entubado...




Pergunto a vocês, meus parcos leitores, o que acrescenta uma imagem como essa???? 
E se um deles se desequilibrasse e caísse sobre a maca??? 
E se Pedro morresse???
Os idiotas da objetividade (obrigado, Nelson Rodrigues) vão dizer que este é o trabalho jornalístico e eu serei obrigado a mandá-los às favas (para não usar um palavreado de baixo calão).
O respeito ao ser humano vem antes de tudo, mas nossa imprensa já se esqueceu disso há muito tempo. News are business e na cabeça doentia de quem deu a ordem de fazer a imagem, custasse o que custasse, tal imagem poderia render pontinhos de audiência, ou uma capa impactante. 
Foi o que o jornal carioca O Dia fez ao estampar a foto do técnico Ricardo Gomes em um leito de hospital na primeira página.




Há quem argumente, talvez, que alguém faria a imagem e quem optasse por não fazê-la seria "furado". Pois sejamos furados, senhores, e sempre, quando for em casos assim. A desculpa de "Maria vai com as outras" não é uma decente justificativa.
Realmente parece que nossa mídia, em geral, "perdeu a mão" e o resultado dessa receita, como vocês podem ver, é intragável.

5 comentários:

  1. Eu fico enojada também. São tantas coisas que não deviam ser mostradas e ditas. Nossa sorte é ainda haver jornalistas como você, Rafael. Sou sua fã. Mas isso não é novidade, e sei que estou bem acompanhada de muitos.

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  2. Muito triste! Eu tenho falado dessa cobertura do espetáculo. Não respeitam a dor. É cada um por si para conseguir a melhor imagem. Não sabe nossa câmeras tem teleobjetiva, que não precisa ficar em cima das pessoas, urubuzando os outros. É muito triste. Eu sofro muito com isso. Como câmera, sou empurrado, não sou de ficar competindo pelo "melhor" espaço. Já perdi a grande imagem por conta disso.

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  3. Casé, já faz tempo isso acontece. O mesmo quando, nas novelas, todos torcem para o assassino não ser preso, acabar com a mocinha, fugir...Vi fatos serem debatidos em programas com sociólogos para tentarem entender essa atitude do ser humano.Isso dá noitícia, novela, aumenda o índice de audiência. O que está acontecendo com o ser humano, essa é a minha interrogação...

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  4. COMENTÁRIO DE MINHA AMIGA, JORNALISTA E BLOGUEIRA RENATA AUGUSTA, QUE NÃO CONSEGUIU POSTAR AQUI:
    "Circo dos horrores. Programas ditos jornalísticos que nada mais são do que programas de fofocas sobre celebridades são como urubus, sempre à espera do pior. Fingem que torcem por um desfecho positivo, mas é patético como fingem mal... Você traçou o quadro com maestria: havia risco de morte para o rapaz e ninguém se sensibilizou. Que editores são esses que determinam uma imagem custe o que custar? Jornalistas é que não são."

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