segunda-feira, 23 de abril de 2012

Histórias que não aprendemos

Vivemos em um país que não conhecemos.
Se hoje essa máxima se aplica, imaginem em 1938 quando o teve início a Marcha para o Oeste, ordenada  por Getúlio Vargas, durante o Estado Novo.
Assistir ao filme Xingu é mergulhar em outro Brasil. É viajar no tempo, na mesma canoa que levou os irmãos Orlando, Claudio e Leonardo Villas-Bôas rumo ao desconhecido.


Claro que já tinha ouvido falar dos irmãos Villas-Bôas, mas por revistas ou telejornais. Na escola, nunca.
A maior parte do período em que passei em sala de aula, os militares passaram no poder. Heróis, em nosso país, nos foi ensinado, eram aqueles que tinham patente.

 

Os Villas-Bôas, que pude conhecer melhor graças ao filme, no entanto, merecem um lugar no panteão dos grandes brasileiros. Ao se depararem com a riqueza de nossa natureza e da cultura dos indígenas, que sempre a tiveram como lar, decidiram lutar pelo meio-ambiente (muito antes de qualquer ativista verde), pelos indígenas (que até hoje ainda sofrem com um enorme preconceito pela população "branca") e pelo país.
Xingu é um filme épico.
O trabalho desses três irmãos, principalmente o de Claudio e Orlando, é equiparável ao do desbravador Rondon. Sua saga é tão memorável quanto a Coluna Prestes. Todos eles, brasileiros que mostraram à população da beira-mar, as entranhas e as origens de nosso país.
Através do filme também descobri que lei que criou o Parque Nacional do Xingu foi sancionada por Jânio Quadros, presidente por mim sempre associado a fatos negativos (talvez pela tal educação "militar" que recebemos).
A reserva serviu para proteger diversas tribos que estavam se dispersando e perdendo sua identidade. E se olharmos para o mapa abaixo ( de 2007), veremos seu papel na preservação do meio-ambiente. Os pontos em vermelho ou laranja são áreas de desmatamento no Mato Grosso. Já a área do Parque Nacional do Xingu permanece preservada. E o tamanho desse território não pode ser desprezado: cerca de 30 mil quilômetros quadrados. No filme, um político reclama de que a área pretendida era maior do que a Bélgica, ao que Claudio Villas-Bôas responde: "A Bélgica é que é pequena demais."

O diretor Cao Hamburguer não optou apenas por "dourar a pílula" e tratou de mostrar os dois lados da moeda, pois mesmo no intuito de ajudá-los, os "brancos" que participaram dessa empreitada, fizeram com que doenças se espalhassem entre as tribos e ainda provocaram uma ruptura numa cultura de muitos séculos.
Os próprios Villas-Bôas se questionaram diversas vezes sobre a validade de tudo aquilo que fizeram.


Não deixem de ver Xingu. Quem tiver filhos, que os leve. E descubram, de uma forma emocionada, um importante pedaço de nossa história que merece ser eternizado.
As palmas que ecoaram no cinema em que fui, logo após a exibição, foram mais do que merecidas.



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