Vou colocar o dedo na ferida. O JN de sábado, um dia após a classificação do Brasil para as semi-finais da Copa, tentou, durante toda sua
edição reforçar a frase de Galvão Bueno de que a falta por trás de
Zuñiga foi "...uma das entradas mais covardes da história do futebol". Pois
bem, não houve quem ecoasse tão retumbante declaração. Na matéria feita
em Berlim, a chamada era de que os alemães condenavam a violência do
colombiano, mas a única pessoa a dizer isso foi a repórter Ilze
Scamparini em seu encerramento.
Houve também uma reportagem sobre os antecedentes do jogador, mas como chegaram à conclusão de que seu passado não o condenava (9anos de carreira, 1 vermelho e 15 amarelos), saíram-se com a frase: "Nesta Copa fez 4 faltas, duas ontem... Parecia que outro Zuñiga estava em campo. A versão violenta do jogador."
Hoje já ouvi que nas redes sociais há
gente ameaçando a família de Zuñiga. E declarações como a de Galvão não
ajudam em nada, muito pelo contrário, julgam e condenam de forma
sumária.
A falta foi violenta? Foi.
O jogador colombiano não deveria ter levantado o joelho? Claro que não.
Mas, quantas vezes vejo o lance, tantas não vejo a intenção de machucar
Neymar. Vejo como um jogador querendo parar o lance. Evitar um
contra-ataque.
Zuñiga foi, na minha humilde opinião, imprudente.
O próprio Felipão, na entrevista após o jogo disse não acreditar na má intenção do colombiano. Só que esta frase o Jornal Nacional de sexta não usou. Preferiu o trecho em que o treinador dizia que já tinha alertado para o fato de que Neymar seria caçado durante a Copa. Na própria sexta, Galvão havia adjetivado a falta como uma entrada criminosa.
Na edição do JN, o colombiano aparece se defendendo, através de um trecho de sua entrevista após o jogo e de uma postagem pelo Instagram, mas no final da matéria o que predomina é a frase do repórter Guilherme Pereira: "Palavras de quem se despede, mas que dificilmente será esquecido por ter tirado com uma falta covarde o craque Neymar da Copa".
Vi faltas bem mais violentas nesta Copa que só não tiveram maior repercussão porque não houve consequências mais graves. E até mesmo a fratura sofrida pelo nigeriano Onazi, numa dura entrada do francês Matuidi não foi classificada tão duramente.
Nosso time também bateu muito no último jogo (31 faltas cometidas). Se faltaram cartões
amarelos para os colombianos, também faltaram para nossos jogadores
outros, além do Tiago poderiam ficar de fora da partida contra a
Alemanha. Mas isso não é dito.
Só mais uma pergunta. Se por acaso
tivesse ocorrido o inverso... Se a entrada fosse de Fernandinho em James
(e olha que foram varias) e o estrago fosse o mesmo... A reação seria
idêntica? os adjetivos também? Ou ouviríamos dizer que foi um lamentável
incidente? Que futebol é um esporte de contato. Que Fernandinho é um bom moço e que jamais teria aquela
intenção? Tanto que nem levou cartão no lance...
Eu não tenho a menor dúvida de que seria assim...
No sábado, de 18 reportagens, 13 tiveram Neymar como personagem central. Sem contar a entrevista exclusiva com Luís Felipe Scolari. O que
veremos serão mais e mais notícias sobre superação, sobre a garra
brasileira, sobre a união da torcida com o grupo. Logo na abertura do jornal o mesmo Galvão disse em tom quase cívico: "Na terça-feira, cada jogador será um Neymar em campo e cada torcedor será um Neymar na arquibancada".
Além disso teremos um cerco ostensivo ao menino Neymar e uma
cobertura massiva sobre tudo e todos que o cercam. E será assim até o
dia 13, na final da Copa, se lá chegarmos.
O JN de sábado foi só uma
amostra...
(Todos os vídeos citados estão disponíveis no link: http://g1.globo.com/jn)
PS: Um exemplo de como de imparcial a mídia não tem nada. Vejam a capa de um jornal colombiano sobre o mesmo jogo. Cada um com seu ponto de vista...
Como questionaram a veracidade da capa acima, reproduzo o trecho do editorial do mesmo jornal na edição deste domingo (6/7), no qual justifica os termos chulos utilizados:
"Finalmente
queremos referirnos al titular de HOY DIARIO DEL MAGDALENA de ayer en
primera página y el cual – por cuenta de nuestros seguidores- le dio la
vuelta al mundo entero. Lo hicimos para reflejar el sentimiento profundo
de la gente. Porque apadrinamos el concepto de que la libertad de
expresión jamás puede ser coartada, ni siquiera por la irreverencia o
por lo que algunos moralistas llaman vulgaridad. No. Y la expresión del
título, muy española por cierto, manifiesta lo que es común entre ellos
para demostrar injusticia, insatisfacción, desagrado, reproche, censura.
De tal manera que quienes han aparecido a señalarnos de indecentes en
el manejo del idioma y del respeto que debemos tener por nuestros
lectores, solo podemos atinar a decirles, gracias por leernos y
respetamos su opinión. Y a la inmensa mayoría que nos sigue, nuestros
agradecimientos por esa deferencia y generosidad que nos dispensan y nos
ánima a continuar marcando la diferencia."
Muito legal, Casé! Responsabilidade é uma palavra que deveria frequentar mais o imaginário de qq jornalista! Abç!!
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