sexta-feira, 17 de julho de 2015

CURTINDO UM SOM

Costumo dizer que sou movido a música. Estou sempre ouvindo, cantarolando, assoviando. Isso me faz um apreciador de boa música (pelo menos para o meu gosto) e também um consumidor ávido.
O conceito de consumo, no entanto, em tempos digitais, mudou um bocado.


Já tive muitos vinis; muitos mesmo. Para adequar gosto tão custoso ao meu pífio orçamento, apelava para os sebos de discos. Uma garimpagem que me fez conhecer muita coisa boa e outras nem tanto, é claro. Mas pelo preço de um disco novo era possível comprar uma dúzia de usados. Uma oportunidade sem par para alguém que, como eu, aprendeu desde cedo a ser “chepeiro” e bom negociador com minha mãe, Dona Irene.
Com o acúmulo de vinis, um problema surgiu: a falta de espaço.
Quando fui morar em um conjugado, já casado, o problema se agravou e comecei a buscar alternativas. Investi numa sedutora tecnologia da Sony, o MiniDisc, um tipo de CD regravável que vinha dentro de um envólucro plástico, mais ou menos como as XDs de vídeo de hoje em dia. Prometiam uma qualidade de som e uma durabilidade muito maiores do que as velhas fitas cassete. Investi na coisa, que não era barata, porém, ocupava muito menos espaço. Passei meus vinis para os disquinhos, com todo os seus estalos e chiados do meio analógico. 


Só que novas tecnologias surgiram e os MDs se tornaram carta fora do baralho. Os gravadores de CD começaram a ficar baratos. A portabilidade do CD também facilitava. Disc-mans e CD players em carros nos ajudavam a ter nossas músicas onde quer que estivéssemos.
Passei, então, a acumular os reluzentes CDs. Mas, apesar de menores, logo me trouxeram o mesmo problema das velhas “bolachas”: CDs demais para espaço de menos, mesmo num apartamento maior.
O MP3 veio para me salvar. Passei cerca de 80% de meus CDs para um pen-drive (com o indispensável back-up no PC) e os vendi a preço de banana em sebos. Com isso, tenho algumas milhares de músicas armazenadas num pequeno dispositivo. Uma discoteca que ocuparia estantes e mais estantes, além de ácaros em profusão.



Os CDs de que mais gosto, por questões musicais ou sentimentais continuam comigo, embora compre cada vez menos. Lembro que logo que abriu a FNAC, um dos meus programas favoritos era ficar horas por lá descobrindo coisas novas.
Hoje, sou adepto do compartilhamento através da grande rede. Abro minha discoteca e busco o que quero na dos outros. Alguns chamam isso de pirataria, eu chamo de cultura colaborativa.
No entanto toda esta praticidade roubou um pouco de um velho hábito, o qual retomei com recentes aquisições musicais. O costume de ouvir um mesmo disco, e só ele, várias e várias vezes, destinando maior tempo para cada faixa, reparando em arranjos, na poesia das letras.
Nos tempos do vinil, quando a oferta era menor e a grana curta, fazia muito isso. Sabia de cor a ordem das músicas, além de todas as letras. Não sei como alguns deles permaneceram inteiros depois de tantos giros na vitrola.
Três CDs recentes me fizeram relembrar esse prazeroso hábito: Saudações Egberto, de Délia Fischer (só com músicas de Egberto Gismonti); Corpo de Baile, de Mônica Salmaso (com composições de Guinga e Paulo César Pinheiro) e Carbono, do sempre muito bom Lenine.
Aconselho a experiência tripla.

Garantia de momentos de grande deleite auditivo.   

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