terça-feira, 21 de julho de 2015

SE NÃO VOU ATRÁS DO LIVRO...

Já tinha me acontecido uma vez. Há muitos anos, no século passado... Estava hospedado em um hotel perto da estação Santa Lucia, em Veneza. (Abro parenteses para não deixar de dizer que a paisagem do Grande Canal quando se desembarca em Veneza, pela primeira vez, é algo de indescritível e, por isso mesmo, não vou tentar descrever aqui. Só aconselho àqueles que pretendem conhecer a cidade a chegarem de trem e não de avião).
Mas voltando à história que eu estava contando, num determinado dia, dando umas voltas pelos arredores, dei de cara com um livro com as mais famosas obras de Salvador Dalí.



Tinha, nessa mesma viagem, visto uma mostra do ensandecido artista espanhol em Zurique e virara fã de vez.


A tentação de levar para casa as reproduções dos quadros que havia visto era grande. O preço não era alto (na época ainda em Liras, pois não havia o Euro). Porém, mais pão-duro do que duro, abdiquei da compra.
É lógico que mal deixei Veneza, o peso na consciência me abalroou.
Pensava em como havia sido estúpido por deixar aquela oportunidade passar. Mas, nada mais podia fazer. Página virada...
Dois anos depois, já ao lado de Fernanda, minha mulher, com quem ainda namorava, fui novamente à Europa e, novamente, a Veneza. Desta vez nosso hotel ficava mais pros lados da ponte de Rialto. No entanto, numa caminhada por aquelas vielas e pontes, fomos parar perto da estação e a lembrança do livro foi inevitável. Resolvi ir até a livraria e, para minha surpresa, lá estava ele, ou, pelo menos, outro igualzinho.
Não tinha como não comprá-lo, mesmo viajando de mochilão. Minhas costas que reclamassem depois. Não deixaria passar aquela oportunidade pela segunda vez.
Relembro este caso porque, recentemente, me aconteceu algo parecido.
No início de 2014, estava eu perambulando pela Oxford Street, em Londres, fazendo hora, enquanto minha mulher, minha filha e minha mãe se aventuravam na Primark (loja barateira de lá) pela enésima vez. Eis que me surge uma livraria, programa, aliás, sempre muito bem-vindo.
No subsolo me deparei com aquelas tentadoras bancas de saldos e, numa delas, com um livro que reunia os trabalhos do grafiteiro Bansky, pseudônimo do britânico Robert Banks. Grafites que misturam humor negro e crítica social e que muito me agradam. Preço: 10 Libras Esterlinas (uns 35 reais, na época).




No entanto, como já estava ali há algum tempo, resolvi encontrar a mulherada na loja (pois não estávamos com celular) e depois voltar ao local para arrematar o livro.
Só que ao sairmos da Primark, começou a cair um toró e na ânsia de pegarmos um ônibus para nos abrigar, acabei esquecendo da livraria, de Bansky e do livro.
Vivi uma sensação de déjà vu, bem parecida com aquela do Dalí de Veneza, pois aquele era um dos últimos dias da viagem e não tive oportunidade de voltar à livraria.
Contudo, no mês passado, recebi um e-mail com o anúncio de uma liquidação da Livraria Cultura e ao clicar no link, qual livro encontro em meio a tantos outros oferecidos? O Bansky, em sua edição em português, e por míseros 20 reais.
Comprei-o.
O mais legal é que dessa vez não precisei correr atrás do livro; ele é que encontrou um forma tortuosa de chegar até mim.
Bansky já está lá em casa, bem perto de onde se encontra Dalí.
Boa companhia nunca é demais.

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