quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Reciclando idéias

Fazendo uma pesquisa na Internet, me deparei com um artigo que escrevi para o site do Observatório da Imprensa, em 2007, e como ele ainda é muito atual, resolvi reproduzí-lo aqui, com algumas pequenas alterações e atualizações.

A todo momento nos deparamos com este aviso. No elevador, no supermercado, no banco... Vigilância quase 24 horas por dia. Mas não bastassem os sistemas de segurança espalhados por nosso dia-a-dia, um outro tipo de câmera virou mania: os, cada vez mais sofisticados, telefones celulares. É só algo de diferente acontecer para que eles surjam, como que por mágica, espalhando seus cliques a torto e a direito.
Lembra daquele tempo em que telefone era patrimônio? Comprava-se uma linha por uma exorbitância, ou esperava-se anos a fio para ser contemplado por um plano de expansão. Parece até que estou falando de uma época longínqua, algo entre o mesozóico e o jurássico, mas não. Isto foi há alguns anos. Duas décadas, não mais... A tecnologia avançou, a economia do país se estabilizou e tudo mudou. Telefone virou produto descartável. Dependendo do modelo, o ladrão nem leva. Eu disse, dependendo do modelo, porque a febre do consumo tecnológico faz com que as fábricas lancem, sem parar, novos e mais modernos gadgets a cada dia. Cada um mais poderoso do que o outro. Verdadeiros computadores de mão e, o que mais nos interessa neste artigo, com megapixels de sobra para que o aparelhinho, que deveria servir só para se comunicar com outra pessoa, se transforme também em câmera fotográfica e filmadora.

Ler o livro 1984, de George Orwell, na época em que foi lançado, pode ter sido amedrontador. A idéia de um controle central, que tudo via, era uma perspectiva nada agradável, mas, ao mesmo tempo, algo tão fantasioso e tão impensável que parecia que jamais tal profecia se tornaria real.
Ledo engano, meus caros. Como citei nas primeiras linhas, há sempre uma câmera de olho em nós. Fetiche? Talvez... Mas o fato é que não só nos deixamos ser flagrados, como temos um enorme prazer em flagrar os outros. Não fosse assim, como explicar o estrondoso sucesso do site You Tube. Milhões de vídeos postados por gente como eu ou você. Se é que você se encaixa neste perfil.
O You Tube também se tornou o pesadelo de quem vive do lado de dentro da telinha da TV. Pintou um mico, tá lá no You Tube? Uma "barriga"? You Tube.. Uma mancada? Idem.
Celebridades que se cuidem. O "Grande irmão está de olho em vocês.

Vejam bem, não sou nem um pouco contrário a esta produção absurda de imagens. É uma conseqüência natural dos recursos hi-tech que nos oferecem. Uma câmera por perto é sempre muito útil e a sociedade já se deu conta disso. Basta repararmos com um pouco mais de atenção os nossos telejornais. Flagrantes que antes eram feitos por cinegrafistas amadores, hoje são substituídos por imagens feitas por telefones celulares. A má qualidade é suplantada por seu interesse jornalístico. E o telespectador já percebeu isso. Ao menor sinal de um fato que possa ser notícia, ele já está de câmera, ou melhor, de celular em punho.
A contribuição destes colaboradores reforça o perfil interativo do jornalismo na Internet, mas também abre uma discussão ética sobre a adoção do material produzido por essas pessoas como conteúdo jornalístico.
No meu entender, jornalismo deve ser feito por jornalista. Todo este material é, na verdade, matéria prima e necessita de uma filtragem, de contextualização, de análise...
E, embora nossa competência já tenha sido questionada e comparada, pelo ministro Gilmar Mendes, com as habilidades de um chefe de cozinha, ainda acho que temos alguma serventia para a sociedade.
Expor e informar ainda são dois verbos bem diferentes.

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