quarta-feira, 11 de abril de 2012

O dilema de Tostines no octógono

As lutas de UFC ou MMA não são novidade. São quase 20 anos desde a primeira edição do UFC, em novembro de 1993, em Denver, no estado americano do Colorado.Na época o evento reunia praticantes de oito lutas diferentes: Savate, Sumô, Karatê, Judô, Jiu-jitsu, Shootfighting, Boxe e Tae Kwon Do. E já havia um brasileiros na disputa, Royce Gracie, filho do velho Hélio Gracie, que, por sinal, venceu a disputa.
De lá pra cá foram mais de um centena de torneios, sempre com participação marcante de brasileiros, mas nunca a valorização do "esporte" foi tão grande como agora.
Cabe a nós perguntar: por que?
A explicação me parece simples. Quando essas lutas, que até então eram transmitidas em canais a cabo ou em pay-per-view, foram parar na TV aberta, os índices de audiência fizeram com sua história mudasse no país.
A Rede TV (bleargh!!!!) comprou os direitos de exibição das sangrentas disputas e começou a incomodar a Globo. Não que fossem índices assustadores, mas quem está na liderança, quando se vê ameaçado, tende a reagir.


E a reação foi rápida. Logo a emissora do Jardim Botânico abocanhou os tais direitos e resolveu transformar os combates que acontecem dentro do octógono em "o esporte que mais cresce no mundo".
Abro parentese para este tipo de slogan. Se tenho dez praticantes e um ano depois tenho 50, o meu esporte cresceu 500% e provavelmente nenhum outro crescerá tanto. Portanto slogans assim tendem a ser verdadeiros e mentirosos ao mesmo tempo. Fecho parentese.
Não tento ver chifres em cabeça de burro, mas a campanha global para a popularização do UFC é maciça. Deixo que as fotos falem por si:










O jornalismo da emissora também se rendeu ao tema.



Como o núcleo de telenovelas, é claro,  não poderia ficar de fora, o vale-tudo foi parar em horário nobre com dois personagens de Fina Estampa. Um deles é um campeão que supera supostos problemas no coração para voltar a lutar e se tornar campeão. O outro é um delinquente juvenil que é salvo pelo esporte.



Li que outra novela já pretende usar o UFC em sua trama. No remake de Guerra dos Sexos, o judô, que estava no enredo original, será substituído pelo vale-tudo.

Recentemente, como pièce-de-resistence deste cardápio, surgiu um reality show com lutadores, em busca da fama. Até a comportada Sandy foi convocada para humanizar os violentos embates.



O melhor texto que li, até agora, sobre este BBB de brutamontes foi escrito por Gianni Carta, editor do site da Carta Capital.

"Inspirado no Big Brother Brasil, The Ultimate Fighter consegue ser ainda mais fastidioso. Isso porque vemos 32 brutamontes confinados numa casa no Rio de Janeiro. E não tem biquíni. E nem sexo – consta que ontem não houve nenhuma cena de duplas ou grupos se cobrindo com edredons nas suas camas."

O texto na íntegra pode ser visto no seguinte link:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/mma-a-barbarie/

Apesar de tudo isso, há quem defenda que o espaço só surgiu porque o "esporte" fez sucesso junto ao público e que é preciso repercutir isso.
É o dilema de Tostines (aquele que pergunta se o biscoito vende mais porque está sempre fresquinho, ou se está sempre fresquinho porque vende mais): a Globo resolveu abrir suas portas para os "gladiadores" do vale-tudo por que o público quer isso, ou a superexposição dos brutamontes e a massificação do tema acaba criando uma "demanda"?
O assunto é muito bom pra quem gosta de analisar a mídia.
E é por isso que este será o tema da próxima edição do Observatório da Imprensa, dia 17, às dez da noite na TV Brasil.

2 comentários:

  1. Muito bem colocado Casé, vc resumiu mto bem. Mas para mim, a Globo viu um potencial interesse do público e saiu em defesa de sua audiência, de sua fatia no mercado. Creio até que estão buscando um novo esporte(?) nem tão novo como observou para substituir a decadente F1 (decadente pelo menos no interesse do público.
    Abs,

    ResponderExcluir