sexta-feira, 29 de maio de 2015

MENOS PALAVRAS DE ORDEM, MAIS DIÁLOGO

Acabo de ler a nota oficial do Reitor sobre os acontecimentos dessa quinta-feira na Uerj. Segundo ele, há um grupo de alunos interessado em instaurar o caos na Universidade. O Magnífico diz que falanges políticas recrutam "agentes externos" para engrossar o movimento, entre eles moradores de uma favela desocupada pela prefeitura e menores de rua que assaltam nos arredores da Uerj (parece que integrantes do Estadio Islâmico estariam a caminho...). O Reitor defende, ainda, que o uso de jatos d´água foi correto e justificado, como forma de manter a integridade física dos que estavam dentro da Universidade.






A versão apresentada pelos alunos que participaram do conflito é outra. Segundo eles, ao saber que estava acontecendo um protesto contra a retirada de famílias de uma ocupação próxima ao morro de Mangueira, um grupo de estudantes que participava de uma assembléia discente decidiu ir até o local. O que teria acontecido a seguir, de acordo com relatos de alunos, é que a tropa de choque da PM começou a reprimir a manifestação com balas de borracha e bombas de efeito moral. O grupo de alunos e alguns manifestantes teriam tentado se abrigar dentro da Uerj, sendo barrados pelos seguranças.
Versões bastante diferentes, convenhamos. 
Um vídeo feito com um celular mostra uma dezena de pessoas na portaria da rua São Francisco Xavier bem no momento em que os seguranças ativaram as mangueiras para dispersá-los. O que se vê, em seguida é muita confusão e pedradas contra os vidros.
https://www.youtube.com/watch?v=_SpBkDUEG3c

Hoje pela manhã estive na Uerj e o cenário era o mesmo de ontem à noite. 





Nem sequer um caco de vidro tinha sido retirado do local, fazendo com que as pessoas que chegavam à Universidade corressem o risco de se cortar, principalmente mulheres que usam sandálias abertas. 



Questionei a segurança da Uerj o porquê de ninguém tirar os cacos do caminho e me disseram, em coro, que era uma exigência da perícia. Nada poderia ser mexido. O que me parece, no mínimo uma falta de bom senso (mas este material anda mesmo escasso hoje em dia).
Me questiono se foi isso mesmo ou se a ideia era deixar tudo arrebentado para que a imprensa pudesse mostrar o estrago no dia seguinte e reforçar o discurso da nota oficial de Ricardo Vieiralves.
Quando insisti nas perguntas me indagaram se eu era da comunidade acadêmica. Confirmei e disse que era professor. Tergiversaram e disseram que nada era possível fazer.
Não estava lá e não sei o que realmente houve. Um chefe da segurança falou para mim que havia "mascarados" e que vidraças foram quebradas antes da reação através dos jatos d´água.
É difícil saber exatamente o que houve. A polícia abriu inquérito e precisa ouvir todas as partes envolvidas e não apenas partir do versão reitoral que, por sinal, não cita o fato de que estudantes e manifestantes foram perseguidos até a porta da Universidade pela PM, como fotos comprovam.
Ao invés de bravatas, citações ou palavras de ordem, cabe à Reitoria, poder maior da Uerj, tentar unir a comunidade acadêmica, não através do temor, mas do diálogo.
Este é um ano eleitoral, porém não dá para empurrar a situação com a barriga (e não lhe falta) até a escolha do novo Reitor.
A tarefa é difícil? Com certeza. 
Mas são os ossos do ofício, Magnífico.


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