sexta-feira, 22 de maio de 2015

PURGATÓRIO DA BELEZA E DO CAOS

Toda vez que nos chega um fato trágico como a morte do médico na ciclovia da Lagoa, paira no ar um sentimento de pessimismo natural, porém muitas vezes ampliado pelos bordões do senso comum. Tem gente que pensa em ir embora, gente que critica a "ex-Cidade Maravilhosa", gente que entrega os pontos e diz que não há solução para nada.
Estou longe de ser uma Poliana, mas sei que, infelizmente, a violência urbana é um problema mundial. Tudo bem que aqui no Brasil o vírus da corrupção institucionalizada só agrava a situação. Os erros se repetem e remendos vão sendo sugeridos ao invés de soluções realmente permanentes.
O Rio é um caos absoluto? Com certeza não é.
Nós que aqui vivemos, vivemos de fato e não apenas sobrevivemos.
Não temos o privilégio de passar 365 dias por ano em um paraíso, mas também não respiramos o enxofre infernal o tempo todo.



A indignação serve para mudar e não para se lamuriar.
Digo tudo isso porque, por pura coincidência, ao pegar um DVD para escutar no carro, quando vinha para o trabalho, peguei sem ver (até porque estava sem óculos) o DVD da Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião, composta por Francis Hime, com letras de Geraldinho Carneiro e Paulo César Pinheiro.



Tive a oportunidade de ver o espetáculo ao vivo no Teatro Municipal. No palco, 70 músicos (entre orquestra sinfônica, coro e conjunto regional), além dos cinco solistas (Zé Renato, Lenine, Leila Pinheiro, Olivia Hime e Sergio Santos).
Ouvindo o primeiro movimento, o Lundu, a letra me bateu fundo e não tive como não compartilhar com vocês. Fala de nossas agruras diárias, mas, ao mesmo tempo, do prazer de aqui viver. (https://www.youtube.com/watch?v=Av5eDziGtus)
Vejam se é ou não um achado para um dia como hoje...
"Sabe, morena,
Essa praia chamada Ipanema?
Sabe essa lua, essa cena
Essa luz de cinema
Esse eterno verão?
Pois é, sabe, morena,
O negócio aqui nunca foi fácil
Desde a chegada de Estácio
Em Primeiro de Março
No Cara de Cão.
Sabe o monarca balofo
Que armou seu cafofo
No fofo do Paço Imperial?
E na partida levou a mobília
O chofer e a família
Prá ver Portugal?
Sabe o pirata francês
Que roubou a cidade,
E inda de quebra ganhou um resgate
De mais de 600 barões?
Sabe o solar da marquesa
O bordel da francesa, o boquete, etc. e tal?
Sabe essa gente surfando ou pingente
No trem da Central?
Pois é, sabe, morena,
Eu não troco esse Rio por nada
Mesmo levando flechada
Tomei mais pancada que o Villegaignon tomou
Sabe, morena, eu às vezes me encanto com tudo
Mesmo com tanto urubu enfiando canudo
No nosso pirão
Sabe essa praia, essa areia, esse bar
Esse mar, esse beijo, esse desejo atroz?
Sabe a visão da janela
Esse clima, esse Cristo lá em cima
Que vela por nós?
Sabe, morena, se existe outra vida, eu declaro:
Quero esse mesmo calor, esse mesmo esplendor
Essa fascinação
Quero por felicidade
Esse mesmo cenário, só quero morrer de paixão
Quero encarnar outra vez
Na cidade de São Sebastião."


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