Diz o dito popular:
“Quem fala demais dá bom dia a
cavalo”.
Seria por acreditar nessa máxima que
nossos atletas são tão calados.
Antes que você pense que eu pirei de
vez, explico o porquê desta divagação.
Recentemente, durante a entrega dos
prêmios ESPY, concedidos aos mais brilhantes atletas do ano pela
rede norte-americana de TV ESPN, quatro estrelas da NBA fizeram um
pronunciamento contra a injustiça e o racismo nos EUA. Lebron James,
Dwayne Wade, Chris Paul e Carmelo Anthony criticaram a morte de dois
afro-americanos por policiais, bem como o ataque de um atirador negro
que matou cinco agentes em Dallas. Foi um apelo por mudanças.
E a fala de Lebron resumiu bem o que
quero discutir aqui:
“Vamos aproveitar o que está
ocorrendo neste momento para chamar todos os atletas profissionais a
agir, fazer ouvir suas vozes, sua influência contra todas as formas
de violência.”
Vídeo na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=cDf_uzHF5n4
Acho que podemos contar nos dedos
quantas vezes ouvimos algum atleta brasileiro se posicionar em
relação a temas polêmicos. E olha que não falta assunto por essas
terras.
Parece que o medo de ser tachado de
“polêmico” é maior. Afinal, não raro, nossa imprensa está
sempre pronta a "carimbar" pessoas assim e a pecha de
“maldito” pega.
Vejam o exemplo do mais novo Cavaleiro
da Ordem Nacional da Legião de Honra da França, monsieur Paulo
César Caju. Nos seus tempos de jogador, lá pelos anos 1970, era um
ponto fora da curva. Negro, numa época em que o preconceito racial
era muito maior do que o que ainda existe hoje, se recusava a se
calar. Falava o que pensava para quem bem queria, protegido por sua
posição social propiciada pelo futebol. Andava em carros de
brancos, namorava com mulheres brancas e lindas e, por essas
ousadias, era alvo de muitas críticas que acabaram transbordando
para a mídia esportiva. Foi para a França e às margens do
Mediterrâneo, em Marselha, tornou-se rei. Rei de uma terra onde era
aceito.
Ainda hoje, em seus esporádicos
artigos no jornal O Globo pode se ver que sua língua não se cansou.
PC Caju continua ferino, sem medo de dizer o que sente.
Atletas, na sua enorme maioria, só
abrem a boca para críticas quando essas são voltadas para sua área
de atuação e, mesmo assim, pisando em ovos. Afinal há os
patrocinadores, a mídia, o público... Uma imagem a zelar.
No futebol, em 2013, vimos jogadores
aderindo ao movimento Bom Senso FC. Sentaram em campo, ameaçaram
greves, mas há muito não se houve falar mais deles ou de qualquer
ação efetiva da entidade. Criticados por uma coluna da Folha de
S.Paulo, emitiram uma nota de esclarecimento da qual destaco um
trecho:
“...O Bom Senso FC não só vai
continuar acompanhando e cobrando as autoridades que regulamentam o
esporte, como também vai estudar, pesquisar os cenários e propor
medidas que melhoram o jogo para todas as partes. Com o
reconhecimento do nosso legado e a responsabilidade que isso traz, o
movimento se consolida e finca base como um centro independente de
inteligência e ação pelo futebol brasileiro. Vamos trabalhar como
um time. Os atletas, como grandes ídolos do esporte, têm um papel
fundamental em seu desenvolvimento, mas para atingir mudanças
significativas será preciso engajar toda a comunidade do futebol em
torno de propostas concretas....”
Essa crítica quanto ao não
posicionamento não é só minha, é claro. Alguns ex-atletas também
engrossam o coro. Gente como Casagrande, um atacante que pode abrir a
boca para falar por ter sido, na sua época de Corinthians, voz ativa
na chamada “Democracia Corinthiana”. Aliás essa fase está bem
descrita no recente livro “Sócrates e Casagrande: uma história de
amor”. O “Doutor” Sócrates era outro dos líderes desse
envolvimento entre futebol e retomada democrática do país nos anos
de 1980.
Numa entrevista a um programa da
jornalista Mariana Godoy, na Rede TV, o ex-camisa 9 do Timão
criticou duramente a omissão dos jogadores:
“Hoje, o poder é o dinheiro. Os
jogadores ganham muito. É cômodo para todo mundo ficar quieto. Isso
aí me incomoda no jogador de futebol.”
Veja o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=6aCX92ZaP88
É lógico que nem todas as opiniões
agradam. Que o diga Pelé...
Falar tem seu preço.
E aí vale lembrar outro ditado
popular:
“Quem fala o que quer, ouve o que não
quer”.
Pois em tempos de redes sociais isso
ainda é mais amplificado.
A goleira da seleção olímpica
americana de futebol Hope Solo recentemente postou uma foto com todo
um aparato anti-mosquito para dizer que estava pronta para vir ao
Rio.
Como era de se esperar a reação foi
imediata e os brasileiros meteram o pau.
A jogadora até pediu desculpas pela
indelicadeza, mas foi no jogo de estreia do time, no Mineirão, que
ela sentiu o quanto a “brincadeira” pegou mal entre a turma
daqui. A cada vez que ele pegava na bola vinha uma vaia que durava
até ela se livrar da bola acompanhada de um grito da torcida:
ZIIIIIKAAAAAA.
Como foi que aquilo se tornou uma
manifestação coletiva eu não sei, mas que a massa deixou bem clara
sua indignação, deixou.
E que não passe disso...
Cada um tem direito a suas opiniões,
concordemos ou não.
Prefiro quem opina a quem se cala...
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