quinta-feira, 4 de agosto de 2016

OLIMPITACOS 1

Diz o dito popular:
“Quem fala demais dá bom dia a cavalo”.
Seria por acreditar nessa máxima que nossos atletas são tão calados.
Antes que você pense que eu pirei de vez, explico o porquê desta divagação.
Recentemente, durante a entrega dos prêmios ESPY, concedidos aos mais brilhantes atletas do ano pela rede norte-americana de TV ESPN, quatro estrelas da NBA fizeram um pronunciamento contra a injustiça e o racismo nos EUA. Lebron James, Dwayne Wade, Chris Paul e Carmelo Anthony criticaram a morte de dois afro-americanos por policiais, bem como o ataque de um atirador negro que matou cinco agentes em Dallas. Foi um apelo por mudanças.


E a fala de Lebron resumiu bem o que quero discutir aqui:
“Vamos aproveitar o que está ocorrendo neste momento para chamar todos os atletas profissionais a agir, fazer ouvir suas vozes, sua influência contra todas as formas de violência.”


Acho que podemos contar nos dedos quantas vezes ouvimos algum atleta brasileiro se posicionar em relação a temas polêmicos. E olha que não falta assunto por essas terras.

Parece que o medo de ser tachado de “polêmico” é maior. Afinal, não raro, nossa imprensa está sempre pronta a "carimbar" pessoas assim e a pecha de “maldito” pega.
Vejam o exemplo do mais novo Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra da França, monsieur Paulo César Caju. Nos seus tempos de jogador, lá pelos anos 1970, era um ponto fora da curva. Negro, numa época em que o preconceito racial era muito maior do que o que ainda existe hoje, se recusava a se calar. Falava o que pensava para quem bem queria, protegido por sua posição social propiciada pelo futebol. Andava em carros de brancos, namorava com mulheres brancas e lindas e, por essas ousadias, era alvo de muitas críticas que acabaram transbordando para a mídia esportiva. Foi para a França e às margens do Mediterrâneo, em Marselha, tornou-se rei. Rei de uma terra onde era aceito.


Ainda hoje, em seus esporádicos artigos no jornal O Globo pode se ver que sua língua não se cansou. PC Caju continua ferino, sem medo de dizer o que sente.

Atletas, na sua enorme maioria, só abrem a boca para críticas quando essas são voltadas para sua área de atuação e, mesmo assim, pisando em ovos. Afinal há os patrocinadores, a mídia, o público... Uma imagem a zelar.
No futebol, em 2013, vimos jogadores aderindo ao movimento Bom Senso FC. Sentaram em campo, ameaçaram greves, mas há muito não se houve falar mais deles ou de qualquer ação efetiva da entidade. Criticados por uma coluna da Folha de S.Paulo, emitiram uma nota de esclarecimento da qual destaco um trecho:
“...O Bom Senso FC não só vai continuar acompanhando e cobrando as autoridades que regulamentam o esporte, como também vai estudar, pesquisar os cenários e propor medidas que melhoram o jogo para todas as partes. Com o reconhecimento do nosso legado e a responsabilidade que isso traz, o movimento se consolida e finca base como um centro independente de inteligência e ação pelo futebol brasileiro. Vamos trabalhar como um time. Os atletas, como grandes ídolos do esporte, têm um papel fundamental em seu desenvolvimento, mas para atingir mudanças significativas será preciso engajar toda a comunidade do futebol em torno de propostas concretas....”

Essa crítica quanto ao não posicionamento não é só minha, é claro. Alguns ex-atletas também engrossam o coro. Gente como Casagrande, um atacante que pode abrir a boca para falar por ter sido, na sua época de Corinthians, voz ativa na chamada “Democracia Corinthiana”. Aliás essa fase está bem descrita no recente livro “Sócrates e Casagrande: uma história de amor”. O “Doutor” Sócrates era outro dos líderes desse envolvimento entre futebol e retomada democrática do país nos anos de 1980.



Numa entrevista a um programa da jornalista Mariana Godoy, na Rede TV, o ex-camisa 9 do Timão criticou duramente a omissão dos jogadores:
“Hoje, o poder é o dinheiro. Os jogadores ganham muito. É cômodo para todo mundo ficar quieto. Isso aí me incomoda no jogador de futebol.”


É lógico que nem todas as opiniões agradam. Que o diga Pelé...
Falar tem seu preço.
E aí vale lembrar outro ditado popular:
“Quem fala o que quer, ouve o que não quer”.

Pois em tempos de redes sociais isso ainda é mais amplificado.
A goleira da seleção olímpica americana de futebol Hope Solo recentemente postou uma foto com todo um aparato anti-mosquito para dizer que estava pronta para vir ao Rio.
Como era de se esperar a reação foi imediata e os brasileiros meteram o pau.


A jogadora até pediu desculpas pela indelicadeza, mas foi no jogo de estreia do time, no Mineirão, que ela sentiu o quanto a “brincadeira” pegou mal entre a turma daqui. A cada vez que ele pegava na bola vinha uma vaia que durava até ela se livrar da bola acompanhada de um grito da torcida: ZIIIIIKAAAAAA.


Como foi que aquilo se tornou uma manifestação coletiva eu não sei, mas que a massa deixou bem clara sua indignação, deixou.
E que não passe disso...
Cada um tem direito a suas opiniões, concordemos ou não.


Prefiro quem opina a quem se cala...   

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