terça-feira, 30 de agosto de 2016

OLIMPITACOS VII


Toc, toc, toc.
- Quem bate?
- Der Geist...
- Ahn????!!!
- O fantasma...da Alemanha
Maracanã, 20 de agosto de 2016.
As bandeiras que entrarão no gramado serão as mesmas daquela tarde, há pouco mais de dois anos, no Mineirão. Tarde em que gritos de gols se transformaram em muxoxos, um mais lacônico após o outro. E ao final, além da decepção, a certeza de fora pouco.
As seleções que se encontrarão nesse sábado nada terão em comum com as de 2014. Nem os uniformes serão os mesmo. A estrela da nossa companhia, que poderia ser o ponto de tangência entre os dois acontecimentos, assistia ao vexame não no estádio, mas em seu apartamento no Guarujá, onde se recuperava de uma lesão nas costas.
Nada pesaria sobre a decisão do ouro olímpico da Rio 2016 não fosse a acachapante derrota imposta pelos alemães sobre a seleção brasileira (minúsculas propositais) em terras mineiras. Um placar de 7x1 não se esquece com o tempo, ainda mais quando a surra é no seu próprio quintal e quando o roxo das pancadas ainda nem dissolveu direito.
Poderíamos dizer que a turma que vai entrar em campo em busca do "único título que o futebol brasileiro ainda não tem" não merece ser cobrada pelo papelão daqueles que disputaram a Copa, mas temos que ver além das vinte e duas pernas que pisarão no gramado do ex-maior estádio do mundo.
É que se os torcedores não assimiliaram aquela derrota, o mesmo não parece acontecer como aqueles que estão à frente do carcomido ludopédio nacional. Para esses tais, aquilo passou; foi apenas um acidente de percurso; a Seleção recuperará seu prestígio... Lembram-me a clássica imagem daqueles três macaquinhos: um que não escuta, outro que não fala e o terceiro que não vê, lado a lado.
Paramos no tempo quando o assunto é futebol. Nossa estrutura é arcaica. Nosso profissionalismo é pífio. Nos conformamos apenas em produzir sementes que brotarão em gramados mais evoluídos. E aí, nos confrontos sazonais com países que resolveram levar a coisa a sério nos deparamos com a relidade nua, crua e cruel.
Só a paixão pelo esporte não basta. Ela não pode ser usada como desculpa, como âncora afundada em solo lodacento que não nos permite navegar um centímetro à frente sequer. O resultado é claro: clubes decadentes, dívidas crescentes, elencos pobres, estádios vazios e desinteresse das novas gerações.
Para quem já viu o país parar em jogos da Seleção, nada mais emblemático do que a reação dos espectadores durante a partida da seleção olímpica contra Honduras no restaurante em que almoçava na Lapa. Gols iam se sucedendo, a classificação para a final sendo garantida e nenhuma reação. Saladas, carnes e sobremesas ganhavam muito mais atenção.
Ninguém, nem o mais cego e apaixonado torcedor conseguirá ver uma vitória contra a Alemanha como uma vingança. Ouso dizer que mesmo um improbabilissimo 7x1 para nós seria capaz disso.
Será uma partida, ao meu ver, em que não ganharemos de forma alguma. Se perdermos, será apenas uma derrota a mais para reafirmar as linhas acima. A medalha de ouro perdida nem importará tanto. Se vencermos corremos o risco de que a falsa redenção nos mantenha mais alguns anos na mesma posição em que estamos estagnados. E a experessão "ouro de tolo" nunca terá sido tão bem utilizada.
Apedrejem-me, mas para mim, esse jogo e nada serão a mesma coisa. Quando a bola rolar estarei trabalhando, comentando uma partida do real futebol brasileiro pela série B.
Melhor assim.


PS: A ilustração é do talentoso Paulo Romai.

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