Chocado, sim. Surpreso, não.
Há muito tempo que o telejornalismo
vem caminhando por trilhas tortuosas e a opção do SBT de colocar um
rapaz de 18 anos para apresentar um de seus telejornais é só mais
um passo nessa direção.
O conteúdo tem perdido cada vez mais
espaço e não faltam exemplos por aí.
Apresentadores se transformam em
animadores, atores, garotos-propaganda. Encarnam personagens,
geralmente paladinos da justiça ou defensores incansáveis do fracos
e oprimidos.
Levantar da cadeira, andar de um lado
pro outro no cenário, telas interativas e até uso de animações
bizarras (como cachorros biônicos, carros de polícia e helicópteros que conversam com o
apresentador) se tornaram ações mais importantes do que a notícia
em si.
Dudu Camargo é apenas mais um nome
nessa lista. Uma forma de chamar a atenção.
Lembram-se quando o próprio SBT
colocou uma bancada vazada em um de seus telejornais para mostrar
as pernas das apresentadoras Cynthia Benini e Analice Nicolau, que
estavam sempre de saias crutas?
A atração ficou popularmente
conhecida como o "Jornal das Pernas". E só ficava
faltando, mesmo, aquela cruzadinha tipo Sharon Stone, no filme
"Instinto Selvagem".
Ao comentar minha insatisfação com o
caso do jovem apresentador com a amiga e jornalista Vera Barroso, ela
me perguntou se não estaria sendo preconceituoso?
E hoje, depois da leitura do artigo, de
outro amigo, a quem muito respeito, Mauricio Stycer, chego a
conclusão de que minha visão não é preconceituosa e sim de
decepção.
Não que ache que jornalistas e
telejornais devam ser incensados ou alçados a altares sagrados.
Muito pelo contrário. A vaidade de apresentadores e repórteres é
sempre prejudicial. E não faltam aqueles que colocam o umbigo à
frente do lead. Mas a informação deveria ser coisa séria e não
vem sendo tratada como tal.
Discordo do amigo Stycer quando ele
diz: "Para ler notícias essa não é uma qualidade exigida.
Credibilidade é necessário para quem opina, analisa, explica o
noticiário. A decisão de Silvio Santos choca exatamente por isso. O
dono do SBT está sugerindo, sem disfarces, que qualquer pessoa pode
apresentar um telejornal em que as notícias são escritas na redação
para alguém ler no ar."
Não acredito nisso.
O rapaz apresentador é só mais uma
tentativa de "inovar", ou seja de tentar atrair uma
audiência através do diferente. De certa forma é o mesmo que jogar
sapatos na câmera como fazia outro apresentador que passou pela
própria emissora e perambulou por outras.
Mas concordo quando Maurício diz que
Sílvio Santos, apesar de ótimo patrão (trabalhei no SBT por muitos
anos), nunca deu muita importância para o Jornalismo.
A cada dia mais, talvez por conta da
situação incerta em que o país se encontra, talvez pela
incompetência de departamentos de Jornalismo de nossas emissoras, os
telejornais vêm tendo menor audiência e sendo vistos como "a
parte chata" da programação, portanto, algo precisa mudar.
A minha convicção é de que tal
reversão não deva passar pela forma e, sim, pelo conteúdo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário