sexta-feira, 14 de outubro de 2016

FORMA X CONTEÚDO



Chocado, sim. Surpreso, não.
Há muito tempo que o telejornalismo vem caminhando por trilhas tortuosas e a opção do SBT de colocar um rapaz de 18 anos para apresentar um de seus telejornais é só mais um passo nessa direção.
O conteúdo tem perdido cada vez mais espaço e não faltam exemplos por aí.


Apresentadores se transformam em animadores, atores, garotos-propaganda. Encarnam personagens, geralmente paladinos da justiça ou defensores incansáveis do fracos e oprimidos.
Levantar da cadeira, andar de um lado pro outro no cenário, telas interativas e até uso de animações bizarras (como cachorros biônicos, carros de polícia e helicópteros que conversam com o apresentador) se tornaram ações mais importantes do que a notícia em si.



Dudu Camargo é apenas mais um nome nessa lista. Uma forma de chamar a atenção.
Lembram-se quando o próprio SBT colocou uma bancada vazada em um de seus telejornais para mostrar as pernas das apresentadoras Cynthia Benini e Analice Nicolau, que estavam sempre de saias crutas?


A atração ficou popularmente conhecida como o "Jornal das Pernas". E só ficava faltando, mesmo, aquela cruzadinha tipo Sharon Stone, no filme "Instinto Selvagem".
Ao comentar minha insatisfação com o caso do jovem apresentador com a amiga e jornalista Vera Barroso, ela me perguntou se não estaria sendo preconceituoso?
E hoje, depois da leitura do artigo, de outro amigo, a quem muito respeito, Mauricio Stycer, chego a conclusão de que minha visão não é preconceituosa e sim de decepção.




Não que ache que jornalistas e telejornais devam ser incensados ou alçados a altares sagrados. Muito pelo contrário. A vaidade de apresentadores e repórteres é sempre prejudicial. E não faltam aqueles que colocam o umbigo à frente do lead. Mas a informação deveria ser coisa séria e não vem sendo tratada como tal.
Discordo do amigo Stycer quando ele diz: "Para ler notícias essa não é uma qualidade exigida. Credibilidade é necessário para quem opina, analisa, explica o noticiário. A decisão de Silvio Santos choca exatamente por isso. O dono do SBT está sugerindo, sem disfarces, que qualquer pessoa pode apresentar um telejornal em que as notícias são escritas na redação para alguém ler no ar."

Não acredito nisso.
O rapaz apresentador é só mais uma tentativa de "inovar", ou seja de tentar atrair uma audiência através do diferente. De certa forma é o mesmo que jogar sapatos na câmera como fazia outro apresentador que passou pela própria emissora e perambulou por outras.


Mas concordo quando Maurício diz que Sílvio Santos, apesar de ótimo patrão (trabalhei no SBT por muitos anos), nunca deu muita importância para o Jornalismo.

A cada dia mais, talvez por conta da situação incerta em que o país se encontra, talvez pela incompetência de departamentos de Jornalismo de nossas emissoras, os telejornais vêm tendo menor audiência e sendo vistos como "a parte chata" da programação, portanto, algo precisa mudar.
A minha convicção é de que tal reversão não deva passar pela forma e, sim, pelo conteúdo.

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