segunda-feira, 3 de outubro de 2016

PARALIMPITACOS V

                              
A chama da pira se apagou, mas o assunto ainda não esfriou, pelo menos para mim.
Durante a paralimpíada do Rio estive envolvido com atletas e competições com os quais nunca tivera contato maior. A tarefa, quase concluída, era preparar um Caminhos da Reportagem especial sobre os Jogos Paralímpicos. Um trabalho árduo, mas, ao mesmo, tempo, muito gratificante.
A cada programa que fazemos tenho o prazer de aprender mais. Curioso, por ofício e por natureza, esse é um aprazível retorno que a profissão me proporciona.
E com o Caminhos paralímpico não foi diferente.
A linha do programa segue um raciocínio que desde o início me pareceu verdadeiro e que acabou sendo reforçado pelos entrevistados que ouvimos: ninguém é o mesmo depois de assistir a competições como essas. Não à toa o título de nosso programa é "Jogos Paralímpicos: nada será como antes" (A inspiração vem da música de Milton Nascimento e Lô Borges. Só soube que este seria o título da nova novela da Globo, bem depois...rs).
As provas disputadas por atletas de ponta com algum tipo de deficiência (mais ou menos severa) nos mostram que é possível conviver com limitações. Ou melhor, viver com elas. E se você pensar bem, quase todos nós vivemos assim. Eu, por exemplo, tenho vista cansada. Não consigo mais ler letras miúdas sem a ajuda de um óculos. Na prática, sou um deficiente visual. Isso sem falar de meu joelho fraturado, que nunca mais foi, nem será o mesmo.
Durante muitos anos pessoas com deficiência ficaram escondidas por suas famílias ou até mesmo por vontade própria. Rosinha dos Santos, bicampeã paralímpica em Sidney 2000, ficou sete anos reclusa por vergonha. Não queria ser vista por ter perdido uma perna em um atropelamento, aos 18 anos de idade.
Hoje, isso está mudando. Pais de filhos com problemas congênitos, com limitações físicas ou intelectuais, encaram o desafio de criá-los em meio à sociedade da qual são parte integrante.
O fato de termos escolas inclusivas também é muito importante nessa mudança.
Se uma criança que assistiu às vitórias de um Daniel Dias já terá um novo olhar sobre pessoas que usam próteses ou não têm partes do corpo, imagine o que significa conviver com outra criança deficiente, entender suas limitações, criar laços afetivos e apoiá-la.
O preconceito se enraíza quando ainda somos crianças. É nessa fase da vida que vamos beber na fonte dos conceitos (e preconceitos) de nossa sociedade. Porém, se essas mesmas crianças passarem a ter outro olhar sobre as diferenças e respeitar cada ser humano, podemos começar a mudar algo que anda tão errado. E aqui não falo apenas de diferenças físicas que provocam o tão comum e abominável bullying, mas também de diferenças de raça, de gênero, de credo, de posições ideológicas ou de classe social.
Os Jogos Paralímpicos podem ser uma mola propulsora, pronta a nos impelir muito além do campo esportivo.
Tive o privilégio (e agradeço a meus compadres Marcelo e Ana pelos convites) de assistir à cerimônia de encerramento da paralimpíada no Maracanã. Como espetáculo, sem dúvida, ficou muito aquém da abertura, no entanto o que mais me chamou a atenção e me emocionou foi algo que se passou bem longe do palco principal. Pude observar, de perto, a alegria daqueles atletas por mais uma etapa de vida vencida. Num determinado momento, integrantes da delegação brasileira fizeram um "trenzinho" e saíram dançando pelo gramado. Aos poucos, vencendo a timidez, paratletas de outros países foram se juntando ao grupo que, logo, tinha centenas de componentes. Dançavam, sorriam e interagiam com a arquibancada (na verdade não há mais arquibancada no Maracanã... é o hábito). A emoção transbordava em nós. E ali não havia qualquer resquício de "coitadismo" deles ou de pena nossa.

                                                              
Era uma celebração da vida, como na verdade todos Jogos Olímpicos ou Paralímpicos devem ser.

PS: O programa acima citado vai ao ar nessa quinta-feira, dia 22 de setembro, às 20h30, na TV Brasil.

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