quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Homenagem a Quarentinha

Fui convidado, noutro dia, pela amiga Maria Clara Cardona (a quem só conheço virtualmente) para escrever uma homenagem a Quarentinha - o artilheiro que não sorria, que hoje, dia 15, estaria completando 77 anos se vivo fosse. Pedido imediatamente aceito.
Reproduzo aqui o texto publicado no site Redação Alvinegra (http://www.redacaoalvinegra.com.br/).


"Quando fui convidado para escrever a biografia do paraense Waldir Lebrego, quase nada sabia sobre Quarentinha, maior artilheiroda história do Botafogo. E talvez tenha sido melhor assim, pois, partindo do zero, pude descobrir, aos poucos, a história do dono de um dos petardos mais impressionantes que o futebol brasileiro já viu.
Durante as entrevistas que realizei para contar a trajetória de Quarentinha, todos me falavam de seu poderoso chute, mas só fui ter a real noção do que eles falavam quando, numa entrevista ao SPORTV. Um único lance foi mostrado; uma cobrança de falta em que a bola saía como um tiro, em direção ao ângulo do goleiro, que mal se mexera. Eu e os demais componentes da mesa ficamos estupefatos ao ver aquilo. Algo realmente impressionante.

http://www.youtube.com/watch?v=VCiaGv7DVEc

Pelo levantamento que fiz, foram 313 gols pelo Botafogo, mas tenho certeza que outros mais aconteceram, porém a falta de documentação de nosso futebol e da precária imprensa de então não me deixaram comprová-los. Gols que o fizeram ídolo. Um ídolo controvertido pelo fato de não comemorar seus gols. Timidez muitas vezes confundida com indiferença.
Escrever sobre um jogador como Quarentinha foi como conhecer toda uma geração de jogadores brasileiros. Homens talentosos que viveram intensamente o futebol e que tiveram suas vidas mudadas pela bola. Craques que viram o sucesso e conheceram o ostracismo.
Naqueles tempos os salários dos craques não eram, nem em sonho, parecidos com que jogadores medianos ganham hoje em dia. Para faturar mais, os clubes os obrigavam a extenuantes maratonas de jogos, aqui e no exterior. E mesmo assim eles adoravam aquela vida. Tinham um apego pela camisa que vestiam. Algo impensável hoje em dia, pelo menos para a grande maioria dos chamados atletas profissionais.

O moleque pobre, que vendia manga e tapioca na rua para ajudar no sustento da casa; o menino que se apaixonou pela bola e foi maior do que seu pai, o atacante Quarenta, ídolo no Pará; o rapaz que encantou torcidas aqui e mundo afora; o homem que sofreu, no fim da vida, a desilusão do mundo fora dos gramados; todos esses são o Quarentinha que conheci.
Noutro dia, o colunista de O Globo, o alvinegro Marcelo Adnet escreveu que o gol não comemorado de Loco Abreu contra o Santos o remeteu a Quarentinha e isso me deixou muito feliz. Quando se escreve uma biografia de alguém, não há como não se apegar àquela figura. Portanto, toda vez que vejo nosso maior artilheiro ser lembrado, seja em um bandeirão tremulando no Engenhão, ou com sua face estampada em um muro próximo de General Severiano, fico satisfeito. E sei que nosso maior goleador, onde estiver, mesmo com seu jeito tímido, abre um leve sorriso.

5 comentários:

  1. E ficou ótimo. E virou sucesso.
    Melhor desconhecer, porque investigamos melhor, estamos mais puros para juntar os contos.

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  2. Rafael, bom te encontrar mesmo que de forma virtual, melhor ainda ler suas impressões. Quanto ao Quarentinha,na mesma reportagem da não comemoração do Loco Abreu, informaram que um dos motivos da não comemoração dele, Quarentinha, é que ele achava sua obrigação como jogador fazer gol, logo não havia o que comemorar. Mais uma lenda?
    Abs,
    Gaspar

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  3. Rafael, algum problema entre a máquina e o homem fez com que meu comentário saisse como de Bianca, talvez o ID de minha mulher. O que não invalida meu comentário. Risos!

    Abs,

    Gaspar

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  4. Caríssimo Gaspar (ou seria Bianca????rs)
    O discurso dele era esse mesmo. Mas, na verdade ele era um cara muito tímido e isso acabava refletindo em seu comportamento em campo.

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  5. Casé, amigo querido virtual. O fato de ser virtual também não invalida a paixão alvinegra que compartilhamos! Obrigada sempre por tudo.

    Maravilhosas palavras, como sempre

    Maria Clara Cardona

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