terça-feira, 12 de outubro de 2010

Filhos...

Hoje, dia 12 de outubro, li no Facebook um comentário de meu amigo André Sztajn sobre seu primeiro dia das crianças sem os filhos. O menino está no sul e a menina no exterior: ”Não comprei presentes, não levei ninguém no parquinho, não enfrentei fila de restaurante. Os únicos que não devem ter gostado são os avós. Será?”

Este ponto de interrogação me levou a pensar na minha vida antes e depois de milha filha e o “Poema enjoadinho” do poetinha Vinícius de Morais me tomou de assalto.



“Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!”

Quando casei, não o fiz como uma etapa obrigatória pré-procriação. Muito pelo contrário, por muitas vezes pensei se valeria a pena ter um filho. Se a felicidade ao lado de minha mulher já não me bastava. Mas, como se movidos fôssemos pelo instinto de preservação da espécie ou pelas palavras do Criador (Crescei e multiplicai-vos!), a ideia de um filho foi se tornando natural e quando se concretizou trouxe a mim uma grande alegria.

Só que nove meses depois, o desembarque de uma criança no mundo real traz consigo uma carga de responsabilidade para a qual você não está preparado nem intelectualmente e muito menos psicologicamente. Uma ducha de realidade. Lembro que ao acionar a chave do carro no estacionamento da maternidade São Vicente, com minha mulher e minha filha no banco de trás, pensei comigo: “E, agora?”.

De lá pra cá foram horas, dias, meses, anos de muito aprendizado e de muita felicidade também. A ligação transcende à simples relação social de pais e filhos. Desenvolve-se um amor profundo por aquele ser.
Como fazer para criar um filho? Dezenas...centenas de livros já foram escritos para tentar explicar esta tarefa tão complicada que todos os pais, de uma forma ou de outra, conseguem desempenhar. Talvez seja instinto mesmo. Não há manual de instruções e mesmo que houvesse, ele jamais seria aplicável a todas as crianças.

Amar e educar. São esses os pilares com que eu e minha mulher tentamos criar nossa filha. Conversar, ouvir, jogar aberto, confiar, demonstrar afeto, brincar juntos, sonhar juntos... São incontáveis os verbos que poderia listar aqui, mas todos têm como base o verbo amar.


Minha filha diz que não é mais criança (é uma adolescente ou, pelo menos, uma pré-adolescente), mas é claro que o presente do dia das crianças ainda é muito bem vindo. Neste dia 12, logo depois de acordar se aconchegou do meu lado, retribuindo de forma espontânea todo amor que lhe damos. E isso me faz muito, mas muito bem.

Por isso ao ler o comentário do bom André, resolvi escrever estas linhas. Se não tinha ideia do que seria minha vida com uma filha, não tenho a menor noção de como será viver distante dela. É o ciclo da vida, como diz com propriedade meu amigo. Mas, enquanto essa fase não chega, quero mais é estar pertinho dela, curtindo quantos dias da criança ainda puder.

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