terça-feira, 18 de setembro de 2012

Tropicália Maravilha

Uma Ditadura tem como uma de suas metas calar as vozes descontentes, seja por censura, seja por exílio, seja por tortura.
Quando o golpe militar de 1964 estourou o Brasil da Bossa Nova descambou. Não dava mais para ficar apenas contemplando o barquinho ou o Corcovado (embora sempre houvesse tempo para admirar uma garota de Ipanema). A inocência dos anos JK estava perdida e a música brasileira dava mostras disso. A mocinha da Zona Sul, tão bem representada por Nara Leão, agora cantava, com os negros Zé Keti e João do Vale, músicas de forte cunho social no espetáculo Opinião.



Nos Festivais, canções de protesto pululavam através de compositores como Sidney Miller e Geraldo Vandré. Caminhando e cantando íamos seguindo a canção.
Vivíamos os anos 60 e o som das guitarras do rock, principalmente através dos Beatles, também sacudia a MPB. A Jovem Guarda nada tinha de revolucionária, pelo menos ideologicamente falando, mas fazia a garotada cair na dança.


A reação ao “americanismo” daquele pessoal que achava que tudo era “uma brasa, mora”, foi imediato e foi organizada até uma passeata contra a guitarra eleétrica. Dá pra imaginar isso nos dias de hoje?

Enquanto Marx e o Tio Sam brigavam nos palcos, uma dupla de baianos resolveu misturar o protesto, a guitarra, o forró, o rock, Carmen Miranda, o Superman, a cachaça, a Coca-Cola e muito mais em um grande liquidificador musical que ganhou o nome de Tropicalismo.

                       
Caetano Veloso e Gilberto Gil, mentores desse movimento musical, que na verdade tinha sua ideologia espalhada por outras artes como o teatro, o cinema e as artes plásticas, são as figuras principais do filme “Tropicália”, de Marcelo Machado.

FILME - Tropicália

Em 72 minutos é possível viajar por este período da nossa música e perceber o quanto os dois baianos estavam à frente de seu tempo. O Tropicalismo é, nada mais, nada menos, do que a inserção do Brasil na arte pop mundial, na globalização artística que o avanço das telecomunicações começava a criar naquele período.


Há depoimentos de figuras marcantes do movimento, embora, na minha opinião, pudesse haver mais trechos dos entrevistados. Este, talvez seja o maior pecado do filme que, no entanto, traz uma brilhante pesquisa de imagens de arquivo coletadas aqui e em Portugal, na França e na Inglaterra, país onde Gil e Caetano viveram seu exílio. Uma arqueologia musical de primeira qualidade.

Nossa música é uma de nossas maiores riquezas e filmes como este ajudam a manter viva a nossa memória cultural. Não deixe de assistir.

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