Quando o golpe militar de 1964 estourou o Brasil da Bossa Nova descambou. Não dava mais para ficar apenas contemplando o barquinho ou o Corcovado (embora sempre houvesse tempo para admirar uma garota de Ipanema). A inocência dos anos JK estava perdida e a música brasileira dava mostras disso. A mocinha da Zona Sul, tão bem representada por Nara Leão, agora cantava, com os negros Zé Keti e João do Vale, músicas de forte cunho social no espetáculo Opinião.

Nos Festivais, canções de protesto pululavam através de compositores como Sidney Miller e Geraldo Vandré. Caminhando e cantando íamos seguindo a canção.
Vivíamos os anos 60 e o som das guitarras do rock, principalmente através dos Beatles, também sacudia a MPB. A Jovem Guarda nada tinha de revolucionária, pelo menos ideologicamente falando, mas fazia a garotada cair na dança.

A reação ao “americanismo” daquele pessoal que achava que tudo era “uma brasa, mora”, foi imediato e foi organizada até uma passeata contra a guitarra eleétrica. Dá pra imaginar isso nos dias de hoje?
Enquanto Marx e o Tio Sam brigavam nos palcos, uma dupla de baianos resolveu misturar o protesto, a guitarra, o forró, o rock, Carmen Miranda, o Superman, a cachaça, a Coca-Cola e muito mais em um grande liquidificador musical que ganhou o nome de Tropicalismo.

Caetano Veloso e Gilberto Gil, mentores desse movimento musical, que na verdade tinha sua ideologia espalhada por outras artes como o teatro, o cinema e as artes plásticas, são as figuras principais do filme “Tropicália”, de Marcelo Machado.


Há depoimentos de figuras marcantes do movimento, embora, na minha opinião, pudesse haver mais trechos dos entrevistados. Este, talvez seja o maior pecado do filme que, no entanto, traz uma brilhante pesquisa de imagens de arquivo coletadas aqui e em Portugal, na França e na Inglaterra, país onde Gil e Caetano viveram seu exílio. Uma arqueologia musical de primeira qualidade.
Nossa música é uma de nossas maiores riquezas e filmes como este ajudam a manter viva a nossa memória cultural. Não deixe de assistir.
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