segunda-feira, 7 de março de 2016

PRA DESENGASGAR...



Fiquei quieto nesses dias.
Em momentos de ânimos tão exacerbados, falar algo é o mesmo que falar ao vento.
Não que agora, depois de parcialmente digeridos os fatos da última sexta-feira alguém vá parar para ler este “textão”. (E, não, não vou pedir desculpas por ele ser extenso. Essa é uma das melhores coisas que existem na Internet, espaço para expor suas ideias. E fazer uso dele não significa nenhum abuso.)
Li de tudo nesses dias, esbravejamentos de ambos os lados (se há que há apenas dois lados). “Das pessoas e dos petistas”, como diria um repórter de TV. Li também pensatas (e essas me interessam mais) sobre a atual situação do país.
Pensar se faz necessário. Muito mais do que dar ou replicar opiniões (“especialistas” virtuais pululam nesses momentos como bem lembrou Gregório Duvivier em sua coluna na Folha de S. Paulo). As pessoas precisam parar para pensar, raciocinar. É preciso ouvir seus pares, mas também os argumentos contrários. Mentor Neto (um cronista que sigo no Facebook) disse que as pessoas defendem o PT cegamente como um fanático torcedor de futebol, mas o fato é que o comportamento não é unilateral, os que querem Lula morto politicamente também são useiros e vezeiros deste comportamento.
Não sou petista, embora tenha votado no PT na maioria das vezes. Como não a cancelei, provavelmente ainda existe uma ficha de filiação partidária minha ao PSB, quando achei (muitos anos atrás) que esse poderia ser um partido que defenderia minhas ideias de um país mais justo.
Não sou Lula.
Sou favorável a um projeto político de maior atenção à população brasileira como um todo, incluindo aí a grossa fatia que vive bem longe do “sul maravilha”(com a licença do Henfil). Gente que sobrevive em condições de penúria em outro país, um país dentro do nosso e a maioria da população “esclarecida” não tem a menor noção da realidade que essas pessoas enfrentam.
Um dos graves problemas brasileiros (e não são poucos) é a falta de uma classe política confiável. Sempre, em nossa história, ficamos a reboque de figuras messiânicas. Getúlios, lacerdas, juscelinos, lulas... Seriam eles os guias que nos levariam a um mundo melhor. Quando na verdade o que deve ser escolhido é um projeto de governo, independente de quem esteja com a caneta. E é essa sanha de optar por nomes ao invés de programas que nos leva ao buraco em que estamos, pois no legislativo, seja em que esfera for, acabam figuras que fazem seu nome através de questões que transcendem um pensar político para o Brasil. Estão lá os assistencialistas, os pastores, os ruralistas, os laranjas, os testas-de-ferro, os sem representatividade que entram como lastro de candidatos supervotados, entre outros. E é assim há décadas, há centenas de anos. Um quadro político torto que abre as pernas para a corrupção. Um modus operandi que se eterniza seja qual governo que chegue ao poder.
A corrupção, como pode parecer para quem lê alguns colunistas, não nasceu no governo do PT. E isso não serve como desculpa para qualquer ato ilícito que integrantes do partido possam ter cometido. Mas o que mais me aflige é a postura de algumas pessoas que acreditam (ou querem acreditar) que o mundo voltará a ficar cor-de-rosa caso Lula fique inelegível ou que Dilma sofra o impeachment.
Ora, senhoras e senhores, o problema da corrupção no Brasil vai muito além e o que reclamo é que quem faz todo este alarde (leia-se: a grande mídia), prefere fingir-se de cega em outros episódios tão ou mais graves que ocorreram recentemente. Não fiz um levantamento formal, mas não me espantaria se constatassem que a construção de ciclovias pelo prefeito petista de SP teve muito mais centimetragem na Folha do que o escândalo tucano do metrô paulista. Os pesos e medidas diferentes é que não me descem pela garganta.
OK. Vamos dar um basta na corrupção? Contem comigo! Mas fechem as fronteiras e construam mais presídios, porque a faxina seria colossal.
Alguém realmente acredita que isso vá acontecer?
Será que a mídia (empresas de comunicação, que vivem de verbas publicitárias) estarão dispostas a tal engajamento? Entrarão como prioridade na fila de pautas o helicóptero da família Perrela carregado de cocaína, o desvio do dinheiro da merenda escolar de SP, o aeroporto da cidade mineira de Claudio, entre dezenas de outros casos acobertados ou simplesmente “esquecidos”?
Será que o judiciário será tão eficaz?
Será que nós, eleitores, vamos saber filtrar quem realmente merece legislar em nosso nome, de maneira limpa e honesta?
É óbvio que boa parte do Brasil não quer mais o PT no governo. Aliás isso estava claro já nas eleições, tanto que as mesmas foram extremamente acirradas. Mas o que para mim parece claro (e isso é apenas uma impressão, já que não sou especialista em economia ou rabos-de-arraia políticos) é que parte da sociedade (uma parte bem poderosa) decidiu que não quer correr o risco de que após Dilma venham mais 8 anos de Lula. Se a crise econômica aconteceu por conta disso, não sei dizer, mas todos devem lembrar que num quadro econômico estável, com taxas de emprego altas e com o dólar baixo, o escândalo do mensalão não “colou” e o PT se manteve no poder.
O futuro não é minha especialidade. O que vai acontecer no país daqui pra frente é uma grande incógnita.
As possibilidades são muitas, e algumas nefastas, como explica o jornalista Elio Gaspari (a quem tanto respeito): “Se o TSE cassar a chapa Dilma-Temer a partir de 1º de janeiro, deputados e senadores elegerão 30 dias depois o seu substituto, para concluir o mandato. Votam todos aqueles que estiverem no exercício de suas funções. Se continuarem nas cadeiras, Eduardo Cunha presidirá a eleição e Delcídio Amaral votará. Esse colégio eleitoral será composto por 594 pessoas. Deles, 99 têm processos à espera de julgamento no STF, e são 500 os inquéritos em andamento envolvendo parlamentares. Vinte e um anos depois da campanha das Diretas, o regime democrático brasileiro corre o risco de eleger indiretamente um presidente da República.”
Vindo o que vier vou continuar acreditando que isso aqui só vai melhorar quando realmente nos preocuparmos seriamente em ser um país para todos os brasileiros. Quando nos importarmos de fato com a igualdade social e no respeito aos direitos mais básicos como educação e saúde de qualidade para todos.
Vou continuar votando em quem pense assim, em quem prometa agir assim.

Quisera eu tivesse muitas opções de voto, mas esse dia ainda está bem longe de chegar.

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