domingo, 11 de julho de 2010

Um instante, maestro...

Idos dos anos 1970, Flavio Cavalcanti (lembram dele?) tinha em seu programa um quadro intitulado "Um instante, maestro". Nele, o apresentador, com aquela cara de bravo que Deus lhe deu, fazia críticas de discos recém-lançados. Se os considerasse ruins, o destino era cruel; Flávio quebrava os vinis na bancada. Reação dramática demais (dirão vocês), mas que se encaixava perfeitamente no personagem que encarnava frente às câmeras.



Pois foi neste quadro que ouvi falar, pela primeira vez de João Bosco. Um cantor novato que, no entanto, já tinha algumas de suas músicas fazendo sucesso na voz de uma intérprete pra lá de especial: Elis Regina. Ia chegando o natal de 1976 e pedi, de presente, duas fitas cassete: uma de Beth Carvalho (Mundo Melhor) e outra de João Bosco (Galos de Briga).


Tive o prazer, então, de ser apresentado a uma das melhores tabelinhas da MPB: João Bosco e Aldir Blanc. No repertório daquele dico alguns clássicos:







01 - Incompatibilidade de Gênios (João Bosco / Aldir Blanc)
02 - Gol Anulado (João Bosco / Aldir Blanc)
03 - O Cavaleiro e os Moinhos (João Bosco / Aldir Blanc)
04 - Rumbando (João Bosco / Aldir Blanc)
05 - Vida Noturna (João Bosco / Aldir Blanc)
06 - O Ronco da Cuíca (João Bosco / Aldir Blanc)
07 - Miss Sueter (João Bosco / Aldir Blanc) com ANGELA MARIA
08 - Latin Lover (João Bosco / Aldir Blanc)
09 - Galos de Briga (João Bosco / Aldir Blanc)
10 - Feminismo no Estácio (João Bosco / Aldir Blanc)
11 - Transversal do Tempo (João Bosco / Aldir Blanc) com TOOTS THIELEMANS
12 - Rancho da Goiabada (João Bosco / Aldir Blanc)


Depois comprei nas bancas um disco de uma coleção chamada História da Música Popular Brasileira, que continha músicas dos dois primeiros LPs dosi dois, como Bala com Bala, Agnus Sei e Caça à raposa.







Virei fã. Passei a acompanhar a carreira dos dois. A cada disco novo, aquelas letras irreverentes do Aldir, retratando a realidade brasileira como poucos, com o auxílio da voz e do bom violão de João. Muitos anos dépois, o "casamento" se defez, João seguiu uma outra linha e logo, não tinha mais contato com o trabalho dos dois.
Pois bem, recentemente tive a grata surpresa de ler que os dois tinha se reaproximado e voltado a compor juntos. Só não podia imaginar que voltaria a ter o mesmo prazer de tantos LPs ao ouvir as faixas de "Não vou pro céu, mas já não vivo no chão". Me reencontrei com o João Bosco que mais gosto. Das 13 composições só quatro são de Bosco e Blanc, mas o cd é todo muito bom. As músicas de João com Francisco Bosco nada deixam a desejar.



Destaco, aqui, no entanto, dois trechos da minha dupla favorita. O primeiro é de Navalha:

Teu sorriso é uma navalha
Que abre o meu coração
O sangue pelo peito
É do Cristo na Paixão
Ai, eu fui crucificado
Nos cravos do teu amor.
Não me lembro de outra coisa
Que causasse tanta dor.
Mesmo pregado na Cruz,
Sinto falta da navalha
Sou escravo , Deus me valha

E o segundo é de Sonho de caramujo, cujos versos dão nome ao disco:

Cumpri o astral de caramujo musical:
hoje eu gripo ou canto
não vou pro céu mas já não vivo no chão
eu moro dentro da casca do meu violão.



Viva Bosco! Viva Blanc!

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