sexta-feira, 6 de maio de 2016

OS SEM-TOCHA

Faltam 3 meses para que a pira olímpica seja acesa no Rio de Janeiro.
A tocha, por sinal, anda perambulando pelo país. Em sua rota estão mais de 300 cidades e os 27 estados do país. Um total de 20 mil quilômetros em terra e 10 mil milhas aéreas
Ao todo, serão 12 mil pessoas participando do revezamento.



Uma coisa bacana pensada pelo Comitê Rio 2016 e pelos patrocinadores da jornada (Coca-Cola, Nissan e Bradesco) foi incluir no revezamento pessoas que fazem a diferença, seja no esporte ou em suas comunidades.
Gente como Tatiana Solanca, que emagreceu 30 quilos para doar parte de seu fígado para uma criança que não conhecia, no interior de Santa Catarina.
Ou a professora Maria do Socorro Lopes que incentiva o aprendizado com contação de histórias em Itabuna, na Bahia.
Ou ainda, Dalton Neves, de Maceió, que criou um barco museu que navega pelas águas do Rio São Francisco.
São milhares de histórias legais de superação, inspiração, respeito, dedicação, igualdade e excelência e isso é um ponto positivo.
O lado negativo dessa história é a falta de organização do Comitê Olímpico Brasileiro para incluir nessa lista todos os atletas brasileiros que já nos representaram em Olimpíadas, medalhistas ou não.
Pode até parecer muita gente, mas não é.
Segundo um levantamento da professora Katia Rubio, autora do livro “Atletas Olímpicos Brasileiros”, dos 1.796 integrantes de delegações olímpicas de todos os tempos, 1.478 estão vivos, mas menos de 700 em condições de carregar a tocha.


Ou seja, pouco mais de 5% do total de participantes do revezamento.
Foi Katia quem desencadeou a campanha #todoatletaolimpicodeveconduziratocha.


A iniciativa surgiu depois das dezenas de mensagens que recebeu de atletas que tinham sido “barrados no baile”.
O impacto foi grande. Logo a professora foi procurada pelo Comitê, que garantiu que aqueles que nos representaram em Olimpíadas não seriam esquecidos e avisava que havia um e-mail para que os mesmos se inscrevessem...


O problema é que isso só se deu ás vésperas do começo da trajetória da tocha em terras tupiniquins.
De lá pra cá, tenho acompanhado o desenrolar dessa história e visto que alguns estão tendo sucesso no cadastramento e outros não.
Quando, recentemente, fiz um comentário questionando se a iniciativa não teria sido “só para inglês ver”, fui retrucado quase que de imediato por alguém da organização garantindo que não. Mas o fato é que, na prática, muita gente ficou e ficará a ver navios.
Um exemplo já se deu em Brasília onde a tocha fez um roteiro estrombólico para agradar aos patrocinadores. No início da tarde passou por um bairro chamado SIA (Setor de Indústria e Abastecimento) para visitar a uma concessionária da Nissan, depois percorreu quase 20 quilômetros até o final de Taguatinga, para passar pela fábrica da Coca-Cola e por fim voltou ao Plano Piloto, para poder ir até o prédio à sede do Bradesco. Na capital federal, vários atletas olímpicos só puderam estar com a tocha por conta de uma iniciativa do corredor Joaquim Cruz, como mostra o vídeo publicado no blog de Daniel Brito, no UOL.  (http://blogdobrito.blogosfera.uol.com.br/2016/05/06/joaquim-cruz-empresta-tocha-a-atletas-esquecidos-pela-rio-16-no-revezamento/)
A tocha de Joaquim foi compartilhada por ex-atletas como o atacante da seleção olímpica em Montreal-76, Jarbas Tomazoli, Claudia Chabalgoity, tenista que disputou duplas em Barcelona-92, Leandro, levantador da equipe então campeã olímpica em Atlanta-06, o meio fundista Hudson de Souza, com três participações nos Jogos e pivô Pipoca, do basquete, com o mesmo número de participações.


Muita gente, infelizmente, teve/terá suas vagas ocupadas por autoridades, amigos das autoridades, amigos dos amigos, além de celebridades e pseudo-celebridades.
Nada contra a dupla sertaneja Zezé de Carmargo e Luciano carregar a tocha olímpica, mas é inconcebível que brasileiros que defenderam nossa bandeira nos Jogos fiquem de fora.


Se não se pensou nisso antes ou se não houve um planejamento adequado, ainda dá tempo de corrigir, pelo menos parcialmente, esta falha.
Uma Olimpíada é antes de mais nada um evento esportivo. Uma celebração à dedicação de grandes atletas, de ontem, de hoje e de sempre.



3 comentários:

  1. Obrigada pela divulgação Casé. Vamos em busca dos que foram esquecidos. Ainda é tempo de reparar essa injustiça.

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  2. Perfeito Professora Katia Rúbio. Parabéns por mais essa iniciativa para que participem da festa quem realmente merece! Abs.

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  3. Acho que o perdi o tempo de me inscrever

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