UMA
MORTE PUBLICADA (E TELEVISIONADA)
Abrem-se
as cortinas para mais um ato do Impeachment.
A
decisão do plenário do Senado de dar prosseguimento ao processo não
surpreenderá ninguém.
Servirá
para afastar Dilma Rousseff por pelo menos 180 dias, até que uma nova votação
determine seu destino final.
Nesse
período é estabelecido um governo de transição do vice, Michel Temer.
Vários
de meus amigos comemorarão este dia. O dia em que o PT foi afastado do poder
depois de três mandatos e meio, todos eles legitimamente eleitos em pleitos
livres e democráticos.
Dizem
que este foi o período mais corrupto da história do país.
Será
mesmo?
Não
estou aqui para defender o PT.
Acho,
como já disse várias vezes, que o partido teve oportunidade de mudar a política
no Brasil e acabou por repetir velhas práticas de governos antecessores.
O
Brasil melhor que aqueles que elegeram Lula e Dilma queriam ficou pela metade.
No
entanto, dizer que o PT não fez nada de bom é de uma miopia política passível
de bengala branca e cão guia.
O
jornalista político Kennedy Alencar faz um interessante balanço:
"No
período Lula, houve uma projeção internacional do país que resultou numa
melhora da imagem do Brasil perante o mundo. A própria corrupção que contaminou
o PT veio à tona com notável contribuição do partido. A modernização da Polícia
Federal e uma relação de respeito ao Ministério Público Federal, acabando com a
figura do engavetador-geral da República, foram fundamentais para levar à
prisão figurões da política e do empresariado que sempre escaparam da
Justiça."
O
PMDB, sanguessuga persistente, presente em todos os governos desde o retorno
democrático, mais uma vez ocupará a presidência, sem jamais ter sido cabeça de
chapa Sarney, Itamar e Temer).
O
que virá a seguir? Ninguém sabe.
Há
quem acredite em novos tempos. Na deposição sistemática dos corruptos, sejam
eles quem forem.
Há
quem acredite num Brasil melhor.
Depois
de ter contornado o cabo dos 50 anos me vejo, hoje, como um homem cético. E,
neste caso, especificamente, nada otimista.
Não
me surpreenderão notícias futuras como a da privatização do Petrobras, uma
forma de restabelecer a credibilidade da companhia ou se mudarem os critérios
de exploração do Pré-Sal, favorecendo petroleiras estrangeiras, com a desculpa
de que o Estado deve ter outras prioridades.
Não
me espantarei se programas sociais criados pelo governo petista forem, aos
poucos, sendo suprimidos; se a luz não chegar mais ao interior remoto do país,
se o bolsa-família for taxado de assistencialismo e eliminado, se os programas
de crédito educativo forem esvaziados, se forem canceladas as cotas em
universidades públicas.
Muita
gente que apoia o Impeachment aplaudirá as medidas pois elas não as afetam
diretamente.
Os
que querem ver Dilma e, principalmente Lula, pelas costas (ou atrás das grades)
alegam que a inflação subiu, que o crédito e os investimentos diminuíram, que
hou maquiagem no superávit primário e que o desemprego galopa, além de outras
alegações mais ou menos subjetivas.
Foram
muitos os erros do governo, com certeza, mas cabe a pergunta, até que ponto a
discordância de parte da sociedade (principalmente políticos, mídia e
empresários) com um novo mandato do PT não ajudou a parar o país e agravar a
situação?
Votações
emperradas, investimentos retidos e baterias abertas nas trincheiras midiáticas
não teriam contribuído para o quadro em que estamos? Ou posso ser chamado de
irmão mais novo de Urbano, o paranoico, personagem antológico de Henfil?
Um
mandato ainda que mediano de Dilma abriria a possibilidade para a volta de
Lula. E mais quatro ou oito anos de PT no poder era um risco que esta outra
metade do Brasil não queria correr.
Deu
no que deu.
Golpe
ou não, o fato é que o resultado de uma eleição está prestes a ser jogado no
lixo, assim como algumas garantias democrática, como expõe duramente em seu
artigo o professor Gabriel Priolli:
"Encerra-se
nesta data o período de plenitude democrática inaugurado no país em 5 de
outubro de 1988, com a promulgação da “Constituição Cidadã” ora revogada pelo
impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Inicia-se um regime plutocrático de
completa incerteza política e jurídica, em que as garantias constitucionais e
legais serão exercidas seletivamente, em exclusivo benefício dos donos do poder
e em prejuízo de tudo que representar as forças populares."
A
ópera segue seu roteiro pré-estabelecido.
Os
atores principais são trocados e a valsa não para.
O
povo?
Ele
já fez seu papel (na verdade, o papel que a mídia esperava dele).
Que
aguarde agora as próximas eleições observando o que virá por aí.
Em
dois anos e meio dá pro PMDB e seus aliados fazerem muita coisa (e muita coisa
errada também).
A
pressa deles é grande, afinal, como diria aquele personagem caricato de novela:
"O tempo ruge, a Sapucaí é grande" e 2018 está logo ali.
Na
dúvida, mulheres e crianças primeiro...
Magnífico.
ResponderExcluirMagnífico.
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