quarta-feira, 11 de maio de 2016

UMA MORTE PUBLICADA (E TELEVISIONADA)


UMA MORTE PUBLICADA (E TELEVISIONADA)

Abrem-se as cortinas para mais um ato do Impeachment.
A decisão do plenário do Senado de dar prosseguimento ao processo não surpreenderá ninguém.
Servirá para afastar Dilma Rousseff por pelo menos 180 dias, até que uma nova votação determine seu destino final.
Nesse período é estabelecido um governo de transição do vice, Michel Temer.
Vários de meus amigos comemorarão este dia. O dia em que o PT foi afastado do poder depois de três mandatos e meio, todos eles legitimamente eleitos em pleitos livres e democráticos.

Dizem que este foi o período mais corrupto da história do país.
Será mesmo?

Não estou aqui para defender o PT.
Acho, como já disse várias vezes, que o partido teve oportunidade de mudar a política no Brasil e acabou por repetir velhas práticas de governos antecessores.
O Brasil melhor que aqueles que elegeram Lula e Dilma queriam ficou pela metade.

No entanto, dizer que o PT não fez nada de bom é de uma miopia política passível de bengala branca e cão guia.
O jornalista político Kennedy Alencar faz um interessante balanço:
"No período Lula, houve uma projeção internacional do país que resultou numa melhora da imagem do Brasil perante o mundo. A própria corrupção que contaminou o PT veio à tona com notável contribuição do partido. A modernização da Polícia Federal e uma relação de respeito ao Ministério Público Federal, acabando com a figura do engavetador-geral da República, foram fundamentais para levar à prisão figurões da política e do empresariado que sempre escaparam da Justiça."

O PMDB, sanguessuga persistente, presente em todos os governos desde o retorno democrático, mais uma vez ocupará a presidência, sem jamais ter sido cabeça de chapa Sarney, Itamar e Temer).
O que virá a seguir? Ninguém sabe.

Há quem acredite em novos tempos. Na deposição sistemática dos corruptos, sejam eles quem forem.
Há quem acredite num Brasil melhor.

Depois de ter contornado o cabo dos 50 anos me vejo, hoje, como um homem cético. E, neste caso, especificamente, nada otimista.
Não me surpreenderão notícias futuras como a da privatização do Petrobras, uma forma de restabelecer a credibilidade da companhia ou se mudarem os critérios de exploração do Pré-Sal, favorecendo petroleiras estrangeiras, com a desculpa de que o Estado deve ter outras prioridades.
Não me espantarei se programas sociais criados pelo governo petista forem, aos poucos, sendo suprimidos; se a luz não chegar mais ao interior remoto do país, se o bolsa-família for taxado de assistencialismo e eliminado, se os programas de crédito educativo forem esvaziados, se forem canceladas as cotas em universidades públicas.
Muita gente que apoia o Impeachment aplaudirá as medidas pois elas não as afetam diretamente.

Os que querem ver Dilma e, principalmente Lula, pelas costas (ou atrás das grades) alegam que a inflação subiu, que o crédito e os investimentos diminuíram, que hou maquiagem no superávit primário e que o desemprego galopa, além de outras alegações mais ou menos subjetivas.

Foram muitos os erros do governo, com certeza, mas cabe a pergunta, até que ponto a discordância de parte da sociedade (principalmente políticos, mídia e empresários) com um novo mandato do PT não ajudou a parar o país e agravar a situação?
Votações emperradas, investimentos retidos e baterias abertas nas trincheiras midiáticas não teriam contribuído para o quadro em que estamos? Ou posso ser chamado de irmão mais novo de Urbano, o paranoico, personagem antológico de Henfil?

Um mandato ainda que mediano de Dilma abriria a possibilidade para a volta de Lula. E mais quatro ou oito anos de PT no poder era um risco que esta outra metade do Brasil não queria correr.
Deu no que deu.

Golpe ou não, o fato é que o resultado de uma eleição está prestes a ser jogado no lixo, assim como algumas garantias democrática, como expõe duramente em seu artigo o professor Gabriel Priolli:
"Encerra-se nesta data o período de plenitude democrática inaugurado no país em 5 de outubro de 1988, com a promulgação da “Constituição Cidadã” ora revogada pelo impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Inicia-se um regime plutocrático de completa incerteza política e jurídica, em que as garantias constitucionais e legais serão exercidas seletivamente, em exclusivo benefício dos donos do poder e em prejuízo de tudo que representar as forças populares."

A ópera segue seu roteiro pré-estabelecido.
Os atores principais são trocados e a valsa não para.

O povo?
Ele já fez seu papel (na verdade, o papel que a mídia esperava dele).
Que aguarde agora as próximas eleições observando o que virá por aí.

Em dois anos e meio dá pro PMDB e seus aliados fazerem muita coisa (e muita coisa errada também).
A pressa deles é grande, afinal, como diria aquele personagem caricato de novela: "O tempo ruge, a Sapucaí é grande" e 2018 está logo ali.


Na dúvida, mulheres e crianças primeiro...


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