Poderia começar esta postagem com
aquele clássico chavão: “Há males que vêm para o bem”. Mas
falar isso em relação a um estupro é impensável, por mais que ele
tenha mobilizado tanta gente em torno da discussão sobre o tema em
nosso país.
Que vivemos em uma sociedade machista é
óbvio.
Que a polícia e a justiça fazem vista
grossa em diversos casos de violência contra as mulheres, também.
Então como lutar contra a Cultura do
Estupro?
Acho que a saída, como 90% por cento
dos graves problemas de nosso país passa pelas escolas, pela
educação, pela informação e pelo debate.
Remover o tapete para onde questões
como essa eram (e são) varridas tem que ser a primeira medida.
A boa notícia é que, tendo a
informação como munição, vêm surgindo cada vez mais grupos de
debates em escolas e universidades, os chamados coletivos femininos,
ou feministas, como queiram.
Livres das amarras do enorme
preconceito, debatem as questões que lhes afetam direta e
indiretamente.
Como já disse Tom Jobim, certa vez: “O
Brasil não é para principiantes”. Apesar de possuir uma sociedade
conservadora, tacanha e presa a velhos conceitos sociais, ao mesmo
tempo, se mostra extremamente permissivo com alguns temas. É como se
tivéssemos um pé no século XIX e outro no XXI. Se falarmos em
termos de questões comportamentais, então, isso fica ainda mais
claro. Condena um beijo gay numa novela, mas aceita as cenas mais
tórridas de sexo na telinha.
Portanto quanto mais cedo as meninas
tiverem contato com temas que as afetam diretamente como assédio
físico e moral, misoginia, machismo, abuso sexual, gravidez, doenças
sexualmente transmissíveis, aborto e responsabilidade sobre o
próprio corpo, melhor.
Com certeza há quem não ache isso,
até mesmo pais e mães de meninas, o que me parece inconcebível.
Acham que podem criar uma bolha protetora ou coisa assim. Mas o mundo
é duro e real e bolhas não resistem a ele.
Tenho uma filha de quase 19 anos. Ela
faz parte, como ex-aluna, do Libertinas, coletivo do Colégio São Vicente de Paulo,
no Cosme Velho
Tenho alunas na Uerj que se uniram para
criar um coletivo feminino na Faculdade de Comunicação Social.
Fico feliz que seja assim.
Elas nada têm a perder com essa união.
Com a internet como aliada, trocam ideias e trazem à luz questões
que tanto lhes são necessárias e que a sociedade hipócrita tenta
esconder nas sombras.
A coisa, porém não é simples.
Haverá sempre aqueles que demonizem
essa união, aqueles que critiquem, desmerecendo o movimento. Pessoas
que vão estar retroalimentando velhos chavões sobre o “real papel
da mulher na sociedade”. E o que é pior é que, entre elas, você
encontrará mulheres batendo nesta tecla.
Que as meninas, as jovens, as mulheres
continuem se unindo em prol de seus direitos, que continuem trazendo
temas de seus interesses para o centro da discussão.
O silêncio jamais ajudou a mudar
qualquer coisa.
Links interessantes:
Reportagem de Joana Dale para O Globo:
http://oglobo.globo.com/sociedade/a-minissaia-o-sutia-da-vez-15957087
Mapeamentos de coletivos de mulheres
criado pela Universidade Livre Feminista:
Tenho duas netas. Uma com 18 outra com 16 anos de idade. A primeira estudou no Colégio Cruzeiro, no Centro, criado pela colônia alemã no Rio. Hoje está na faculdade de Direito da UFRJ (CACO). A mais nova estuda no Liessen, criada por judeus e que mantém vivas as tradições judaicas. As duas têm consciência e postura tão definitiva em relação às questões de gênero que me impressionam. As duas têm textos magníficos sobre os direitos da mulher. Isso me deixa muito orgulhosa e com a certeza que estamos oferecendo uma boa educação às nossas crias.
ResponderExcluirQue a espécie melhore, Iara. Beijo.
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